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A informalidade da economia brasileira, medida pelo emprego sem carteira assinada, despencou nos últimos dez anos e o comércio varejista, o principal empregador do País, foi o setor que registrou a maior queda, revela um estudo feito pela consultoria McKinsey a pedido do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV). A entidade, que completa dez anos e reúne os principais varejistas, acredita que a redução da informalidade abre espaço nos próximos anos para queda da carga tributária, que avançou no Produto Interno Bruto (PIB).

Em 2002, mais da metade (55%) dos brasileiros trabalhavam de maneira informal. Em 2012, essa fatia tinha recuado para 40%. Foi uma queda de 15 pontos porcentuais. "O País era recordista de informalidade", afirma o presidente do IDV e da Loja Riachuelo, Flávio Rocha.

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Segundo Ari Kertesz, sócio da consultoria e responsável pelo estudo, apesar de o porcentual de informalidade ainda ser elevado, a redução teve reflexos positivos na produtividade e na riqueza gerada no País. Entre 2001 e 2011, o PIB per capita aumentou 2,5%. "Não existe atalho: não é possível aumentar a renda sem expandir a produtividade", observa o executivo.

Entre os setores avaliados pelo estudo, o comércio liderou a queda na informalidade: em 2002, 54% dos trabalhadores eram informais e dez anos depois essa fatia era de 38%, uma redução de 16 pontos. O consultor Marcos Gouvêa de Souza, sócio da GS&MD e um dos fundadores do IDV, lembra que nos últimos dez anos o varejo ampliou de 18,2% para 26% a sua participação no PIB. Esse avanço foi acompanhado pela abertura de 811 mil lojas e 3,8 milhões de novos empregos formais.

Maísa de Almeida Linhares, de 22 anos, é uma trabalhadora que conseguiu ingressar no mercado formalmente e está feliz por poder se beneficiar do status de ter carteira assinada. Ela veio do Ceará para São Paulo em maio, em busca do primeiro emprego. Depois de entregar muito currículos em lojas e agências, no final de setembro, conseguiu uma vaga como promotora de vendas na rede de padaria e confeitaria Ofner, na loja da fábrica em Socorro, zona Sul de São Paulo. Era um período de experiência.

Nesta semana, Maísa recebeu a notícia de que seria efetivada pela empresa. "Fiquei muito feliz, muito mesmo", conta. Maísa afirma que ter carteira assinada é importante, pois traz mais segurança à família. Seu marido, que chegou à capital paulista dois meses antes, trabalha como gesseiro e também está prestes a ser registrado.

Tributação

A redução da informalidade que houve nos últimos dez anos na economia brasileira foi acompanhada pelo crescimento da carga tributária. Em 2002, a carga tributária era 28,6% do PIB e em 2012 atingiu 36,4%. Segundo Rocha, do IDV, a redução da informalidade abre espaço para a queda carga tributária.

Nas contas de Kertesz, da McKinsey, se o País conseguisse aumentar a produtividade em 2 pontos porcentuais ao ano nos próximos cinco anos por meio da queda da informalidade, seria possível diminuir em 3 pontos porcentuais a carga tributária, mantendo a arrecadação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O mecânico Everton Ferreira da Silva e o ajudante Jackson Silva Santos, que trabalham em uma concessionária Ford em São Paulo, podem até não saber, mas fazem parte do movimento capitaneado pelas empresas em busca de produtividade. Ao dividirem tarefas e usarem um carrinho que contém as peças mais usadas em seu dia a dia - evitando deslocamentos desnecessários ao estoque -, Everton e Jackson ajudaram a elevar o número médio de veículos reparados no box de atendimento da oficina onde trabalham de 6 para 15 por dia.

A iniciativa da montadora faz parte de um movimento de empresas brasileiras em busca de mais produtividade. Para Henrique Teixeira, sócio da McKinsey & Company, os melhores exemplos de ganhos de escala e aperfeiçoamento produtivo no País estão no mundo corporativo. A referência ainda é a gigante das bebidas Ambev, conhecida por sua cultura de resultados, mas ele vê essa preocupação se espalhando por todos os setores. "Definitivamente, a regra para o momento é a redução de custos."

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Os ganhos de produtividade começam, normalmente, com um problema. No caso da Ford, a restrição ao crescimento vinha da dificuldade de concessionárias localizadas em grandes metrópoles de aumentar o espaço físico das oficinas em um momento de forte valorização do preço do metro quadrado dos imóveis. Segundo Joaquim Arruda Pereira, diretor de vendas e marketing da área de pós-venda da Ford, era preciso achar uma alternativa.

A questão afetava a concessionária onde Everton e Joaquim trabalham, a Caoa da Avenida Ibirapuera, zona sul de São Paulo. A revenda foi escolhida para um projeto-piloto de trabalho com dois mecânicos em cada box de atendimento, no ano passado. A montadora já estendeu a iniciativa para 15 concessionárias no País. "Estamos identificando os pontos já saturados ou perto de seu limite. É uma boa solução para as grandes cidades", diz o executivo da Ford.

Sobrevivência

Falhas de processos ficam mais evidentes em momentos de crise. A Usiminas viveu isso na pele ao longo dos últimos dois anos. "A gente percebeu, em 2012, que a empresa precisava mudar. Era uma questão de sobrevivência", diz Gileno de Oliveira, gerente-geral de engenharia de processos industriais. Em um momento de demanda mais baixa, a empresa trabalhou para reduzir seus gastos com equipamentos.

Em uma linha que produz placas de aço para a produção de bobinas laminadas, havia oito unidades em operação em Ipatinga (MG) e Cubatão (SP). A saída, conta Oliveira, foi aumentar a produtividade das máquinas mais potentes para produzir a mesma quantidade do produto com seis máquinas. Em outro processo, o de laminação a frio, uma linha mais moderna substituiu duas antigas. Esse processo reduziu a necessidade de operadores e, por consequência, gastos com mão de obra.

O resultado já começou a aparecer no balanço da Usiminas. Segundo o gerente da área de processos industriais, as mudanças causaram uma queda de 7% no custo dos produtos vendidos em 2013, na comparação com o ano anterior. Depois de amargar um prejuízo de R$ 598 milhões em 2012, a companhia fechou o ano passado com um lucro de R$ 17 milhões. Ainda assim, prevê a continuidade do programa de redução de custos.

Moda

A InBrands cresceu fazendo uma série de aquisições de marcas de moda. Há dois anos, teve de fazer uma "parada técnica" para reorganizar a casa e tirar proveito das vantagens de ser uma holding. O presidente da InBrands, Michel Sarkis, diz que a administração e distribuição das diferentes marcas - como Ellus, Richards e VR - foi unificada. Com isso, as despesas gerais e administrativas da InBrands, que representavam 25% da receita em 2011, caíram para 11% no ano passado.

A Natura também está investindo em produtividade, com a meta de fazer os produtos chegarem mais rapidamente aos consumidores. Segundo Ricardo Faucon, diretor de serviços ao cliente da Natura, o investimento em tecnologia tem papel fundamental nesse processo. O novo centro de distribuição da empresa, em São Paulo, poderá processar 2 mil caixas de pedidos por hora. Trata-se de um aumento de 66% na capacidade ao centro de Cajamar, que organiza 1,2 mil pedidos por hora.

À medida que a concorrência aumenta no mercado de beleza, a marca de vendas diretas busca manter sua atratividade em relação ao varejo, que oferece os produtos em pronta entrega. Para aumentar a produtividade das revendedoras, liberando-as para fazer novas vendas, a companhia definiu uma meta ambiciosa: ter 60% de seus produtos entregues em até 48 horas aos clientes. A exemplo do que ocorre com a produtividade como um todo no Brasil, ainda falta bastante para a Natura "chegar lá": em 2013, esse prazo foi cumprido em 34% das vendas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A produtividade teve efeito negativo no crescimento brasileiro nas últimas duas décadas. Um estudo da consultoria McKinsey & Company mostra que a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) entre 1990 e 2010 poderia ter sido 45% maior não fosse o efeito negativo da produtividade, que puxou o resultado para baixo em 1,4 ponto porcentual.

As expansões registradas na força de trabalho, no nível de educação da população, no fornecimento de energia e no investimento em capital fixo somaram 4,5% ao ano no período. Se a produtividade tivesse avançado o suficiente para pelo menos ter efeito nulo, a expansão média do PIB teria ficado em 4,5%, e não em 3,1%, afirma Camilo Martins, sócio da McKinsey.

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A produtividade do trabalhador brasileiro cresceu, em média, 1% ao ano ao longo dos últimos 25 anos, nos cálculos da McKinsey. É um resultado muito inferior ao registrado por outros países em desenvolvimento, incluindo nações latino-americanas como Peru e Chile, e abaixo do avanço dos Estados Unidos, que opera historicamente em níveis muito mais elevados do que os brasileiros.

Segundo estudo da consultoria, o valor gerado pelo trabalhador americano por hora de trabalho está próximo de US$ 35, enquanto a contribuição do brasileiro é de cerca de US$ 5. Com a forte evolução da produtividade peruana - que foi mais três vezes superior à brasileira, entre 1988 e 2012 -, a produção do trabalhador do país em dólar encostou no resultado nacional.

A preocupação com a produtividade passará a ser vital para o Brasil nas próximas décadas, segundo Henrique Teixeira, sócio da McKinsey. Com a redução da expansão demográfica, o País deverá passar pelo mesmo processo de nações desenvolvidas: uma parcela cada vez maior da expansão do PIB dependerá dos ganhos de produtividade.

Hoje, de acordo com a McKinsey, quase 70% do crescimento do PIB americano já depende de ganhos de escala. Na Europa, a totalidade do crescimento está ligada ao fator produtividade. Isso ajuda a explicar porque países mais produtivos, como a Alemanha, crescem mais do que outros menos eficientes, como Itália e Espanha.

Dificuldades

Entre os entraves à produtividade brasileira, Teixeira destaca a infraestrutura, em especial a logística. "O investimento necessário nessa área é de US$ 600 bilhões. E isso para que tenhamos uma estrutura comparável à do Chile e de outros países latino-americanos", afirma. Para o sócio da McKinsey, quanto mais rápido andar o processo de privatização já em curso de portos, aeroportos e ferrovias, mais rapidamente o Brasil conseguirá reduzir essa desvantagem.

Teixeira lembra que a estratégia de repasse de investimentos à iniciativa privada deu certo no passado. Ele diz que, apesar dos problemas que persistem, o setor de telecomunicações é um exemplo positivo. "Houve um crescimento de 3.600% desde 1998. É um resultado forte."

A dificuldade em tirar projetos de infraestrutura do papel evidencia, na opinião do consultor econômico Raul Velloso, ex-secretário de assuntos econômicos do Ministério do Planejamento, que o governo brasileiro "desaprendeu" a investir. É por isso que Velloso considera as recentes concessões de projetos à iniciativa privada como um passo na direção certa.

"O governo teve muitos problemas na área de gestão e, como usa 75% do orçamento para pagar salários e benefícios sociais, também não tem dinheiro para investir", diz o consultor. "O setor privado tem dinheiro, porque investidores do mundo inteiro têm interesse em bons projetos de infraestrutura."

Segundo os cálculos de Renato Pavan, presidente da consultoria Macrologística, o custo logístico do Brasil - que inclui os gastos com transporte, estoque e armazenagem - é de 12,5% do PIB. "O custo da logística no Brasil é 40% mais caro do que o americano, que está em 8% do PIB", diz o especialista.

Para o curto prazo, porém, não há solução à vista. E a safra recorde prevista para este ano só deve agravar a situação. Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o valor do frete praticamente dobrou desde 2009. No início de fevereiro, o custo de transporte por tonelada entre a cidade de Sorriso (MT) e o Porto de Santos chegou a R$ 300 - um recorde para o mês. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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