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A família de Aylan Kurdi, menino sírio fotografado sem vida em uma praia turca, que se tornou um símbolo trágico da crise migratória na Europa em 2015, se opôs a um filme sobre a criança, filmada sem seu consentimento.

"Meu coração está partido (...) Isto é inaceitável", disse a tia do menino, Tima Kurdi, à emissora CBC, de Port Coquitlam, perto de Vancouver, no oeste do Canadá.

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O corpo do menino foi fotografado deitado com o rosto na areia de uma praia da Turquia. Vários integrantes de sua família morreram tentando chegar a uma ilha grega.

A foto provocou revolta na Europa e levou a União Europeia a abrir, por algum tempo, suas fronteiras para refugiados sírios.

O filme, chamado "Aylan Baby: o mar da morte", que tem o ator americano Steven Seagal no elenco, está sendo filmado na Turquia, disse a CBC. O diretor Omer Sarikaya publicou o anúncio do longa em suas redes sociais.

De acordo com Kurdi, ninguém pediu autorização à família. Ela ficou sabendo do filme pelo pai do menino, Abdullah Kurdi, que vive no Iraque.

"Ele me ligou, e estava chorando também. Ele disse: 'Não posso acreditar que alguém já está fazendo um filme. Não posso nem imaginar que meu filho morto, com 2 anos, não sabia nem falar, como se estivesse vivo" em um filme, relatou Kurdi.

A tia de Aylan, que publicou um livro chamado "O menino na praia", disse que a família tinha recusado várias ofertas de produtoras de filmes.

O diretor afirmou à CBC que o tema de seu filme, embora se assemelhe à história da família Kurdi, se concentrou na crise de refugiados em seu conjunto. "Será Aylan Baby, não Aylan Kurdi", respondeu.

A guerra, o exílio e, no final do caminho, a morte. O pai do menino de 3 anos cuja morte comoveu o mundo descreveu o final trágico de sua saga para escapar da guerra civil na Síria, a centenas de metros da costa turca.

O corpo do pequeno Aylan Kurdi (ou Shenu segundo sua família síria) foi descoberto na manhã de quarta-feira em uma praia do elegante balneário de Bodrum (sudoeste da Turquia). Com o rosto contra a areia, parecia dormir tranquilo.

Não distante dele, estavam seu irmão Ghaled, de 5 anos, e sua mãe, Rihanna, de 27 anos, mortos afogados com outros nove refugiados sírios que tentavam chegar à ilha grega de Kos, porta de entrada para a União Europeia (UE), como milhares outros antes deles. Suas duas pequenas embarcações naufragaram durante a noite.

"Levávamos coletes salva-vidas, mas o barco virou subitamente porque houve pessoas que ficaram de pé. Eu dava a mão a minha mulher, mas meus filhos me escaparam pelas mãos", contou nesta quinta-feira o pai, Abdullah Shenu, à agência de notícias Dogan.

"Estava escuro e todos gritavam, por isso minha mulher e meus filhos não puderam ouvir minha voz. Tentei nadar até a costa graças às luzes, mas não pude encontrar minha mulher e meus filhos uma vez em terra", explicou Shenu, "fui ao hospital e lá me deram a má notícia".

Reproduzidas pelas redes sociais e depois por boa parte da imprensa ocidental, as fotos do corpo sem vida de Aylan deram a volta ao mundo e personificaram o drama de centenas de milhares de sírios que tentam por todos os meios sair de seu país em guerra há mais de quatro anos.

Como contou à AFP um jornalista sírio, Mustefa Ebdi, a família Shenu levou três anos vagando em busca de paz. "Saíram de Damasco em 2012 até Aleppo (norte) e quando começaram os combates partiram para Kobane".

Mas a cidade síria foi atacada pelos jihadistas do Estado Islâmico (EI) no outono de 2014. Abdullah, sua esposa e seus dois filhos fugiram para a Turquia.

- Abandonar a Síria -

Uma vez na cidade controlada novamente pelas milícias curdas em janeiro, voltaram a passar a fronteira. Mas uma nova ofensiva jihadista contra Kobane, em junho, os convenceu definidamente de abandonar a Síria.

A família analisou a possibilidade de viajar legalmente ao Canadá com a ajuda de uma irmã de Abdullah instalada em Vancouver (oeste), contou a tia do pequeno Aylan, Teema Kurdi, ao jornal canadense Ottawa Citizen.

Os serviços de imigração do Canadá argumentam que não têm "qualquer" solicitação em nome de Abdullah e sua família. Informaram, ao contrário, ter devolvido uma solicitação no nome de seu irmão Mohammed Kurdi "porque estava incompleta e não respeitava as exigências regulamentares em matéria de prova de reconhecimento do estatuto do refugiado".

"Eu não havia preenchido ainda os papéis de Abdullah", declarou Teema Kurdi à televisão canadense.

No lugar de viajar ao Canadá, os Kurdi se arriscaram a ir clandestinamente para a Europa, como milhares de sírios. "Pediram dinheiro emprestado a um familiar e foram em busca de uma vida melhor", segundo Ebdi.

Tal como afirmou o pai nesta quinta-feira, suas primeiras tentativas fracassaram. "A primeira vez, os guarda-costas nos detiveram. Fomos libertados mais tarde". Na segunda vez, "os traficantes nos enganaram e não vieram nos buscar com o barco", explicou Abdullah.

Depois do naufrágio que dizimou a família Kurdi, a polícia turca deteve na quinta-feira quatro supostos traficantes, todos de nacionalidade síria.

Desesperado, Abdullah decidiu chegar a Kos por seus próprios meios, com outros emigrantes. "Conseguimos recuperar um barco e tentamos cruzar sozinhos".

O pai de família contou que agora quer voltar à Síria para enterrar sua família.

Segundo as autoridades locais turcas, Abdullah deve abandonar Bodrum na noite desta quinta-feira e ir a Istambul com os corpos de Aylan, Ghaled e Rihanna. Na sexta-feira, viajará a Suruç, na fronteira turco-síria, para chegar a Kobane, fim da viagem.

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