Tópicos | minsitro saude

Diante do aparente despreparo do presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) para lidar com as consequências socioeconômicas da pandemia da covid-19 no Brasil, o LeiaJá conversou com cientistas políticos para analisar a estratégia do Governo Federal, que contraria as diretrizes das autoridades de saúde mundial. Sem força política, ou ao menos orientação técnica, Bolsonaro pediu que escolas e o comércio fossem reabertos, pondo em risco a vida de brasileiros.

“O mundo e a razão estão totalmente contrários a essa linha do presidente”, avalia a cientista Priscila Lapa. Para ela, o enredo de enfrentamento adotado pelo mandatário é fruto da pressão feita pela ala empresarial, como complementa o também especialista Elton Gomes. "Vendo que os impactos da quarentena trariam um risco muito grande para perder apoio do empresariado e dos autônomos, ele resolveu jogar dos dois lados. Ao mesmo tempo que, através do ministro da Saúde, ordena o lockdown; no pronunciamento que fez ontem à noite disse que isso devia acabar”, pontuou, antes de continuar: “mas a gente precisa saber até que ponto ele consegue conciliar essa guerra em duas frentes. Porque uma é a realidade objetiva e científica, e outra é a realidade política".







Outra questão que interferiu na mudança de posicionamento do presidente foi o resultado do seu desempenho em relação à pandemia. Conforme o levantamento divulgado pelo Datafolha nessa terça-feira (25), apenas 35% da população estima que sua postura é boa ou ótima. Dessa forma, Bolsonaro teve o ego suprimido com a perda do protagonismo político para os governadores que, desalinhados com o presidente, vêm mantendo as restrições preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). E em troca, foram atacados, junto com a imprensa.

##RECOMENDA##

A integridade dos brasileiros em uma mesa de apostas

Com a saúde dos brasileiros em negociação, Elton Gomes classifica as declarações recentes de Bolsonaro como uma “aposta muitíssimo arriscada”. Assim, Bolsonaro apresenta-se como defensor dos pequenos empresários e autônomos estimulando o retorno da ‘rotina normal’, mas acaba se preocupando em apontar novos culpados para a incapacidade da sua gestão. Na visão do especialista, o presidente tenta “eximir o Governo Federal de assumir o ônus político pela quarentena e seus devastadores efeitos sobre a economia. Ele atribui a culpa das medidas restritivas aos governos locais”.



Gomes reforça que esse distanciamento proposital é uma forma de afastar a gestão federal dos impactos causados pela crise de saúde. “Ao minorar a pandemia e confiar que ela logo vai se dissipar, sem nenhuma evidência concreta, Bolsonaro tá partindo para o tudo ou nada. Suas ações de presidente são de um apostador ousado, que arrisca tudo com o objetivo de ser totalmente vitorioso ou fragorosamente derrotado”, afirmou.

Cenário (não) ideal para se vitimizar

A cientista Priscila Lapa reforça que desde o início do surto, o presidente desacreditou do potencial da infecção e, inclusive, chegou a afirmar que não passava de uma “gripezinha”. “Em nenhum momento a estratégia foi a de integrar esforços. Em todos os momentos, ele se portou como algo isolado falando por si mesmo”, identificou Lapa, que prosseguiu citando a discordância com a pasta comandada por Luiz Henrique Mandetta: “ele sempre estava deixando escapar muito mais opiniões de cunho pessoal e ideológico do que propriamente um discurso tecnicamente orientado, destoando completamente da fala do ministro da Saúde”.

Assim, um cenário dúbio acabou sendo exposto com o choque de recomendações e a tentativa de vitimização do presidente. “As determinações colocadas pelo ministro da Saúde são relativizadas e o presidente ao mesmo tempo que manda que essas medidas sejam tomadas, critica e posa como perseguido”, concluiu o cientista.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando