Tópicos | mulungu

A despeito de tantas crises e problemas que andam assolando o país, a música brasileira continua rendendo bons frutos, obrigada. As novidades não param de chegar e os artistas, de todos os cantos do território nacional, não cansam de surpreender com suas produções e lançamentos. Muitos desses, inclusive, você tem acompanhado aqui no LeiaJá, através das nossas listinhas que compilam algumas das novidades mais quentinhas que chegam nas plataformas digitais. 

Além da imprensa especializada, outra forma de estar antenado ao que tem acontecido de melhor na música BR são os festivais. Na última semana, o No Ar Coquetel Molotov matou a saudade do público pernambucano em uma edição presencial que pôs fim a um hiato de shows presenciais provocado pela pandemia do coronavírus. 

##RECOMENDA##

Foram dois dias de shows com nomes que estão ‘bombando’ na atualidade, como Marina Sena, Mulungu, Pierre Tenório e Romero Ferro, entre outros. Após esse reencontro nos palcos, o festival promoveu uma rodada de negócios com debates e palestras voltadas ao universo da música. Entre as atividades, os pitchings apresentaram outras muitas novidades do cenário nacional. 

O LeiaJá esteve presente nesses três dias de apresentações de novas caras e sons, através desta que vos escreve, e traz agora 10 nomes novíssimos que você precisa colocar na sua playlist.

Divirta-se. 

Bione

Bione é uma cantora, compositora e poetisa pernambucana cheia de atitude e rimas seguras. Ela chega no cenário do rap/trap com muita força trazendo bastante representatividade e fôlego para ‘peitar’ o que for necessário. 

Uana

Outra mulher pernambucana que traz em seu som muita atitude e representatividade. Uana canta, compõe e ainda toca percussão e traz ao seu trabalho atual toda a influência que bebeu na cultura popular, segmento pelo qual começou a carreira. Ela faz um bregafunk cheio de pop e doçura que vale a pena conhecer.

Hugo Linns

Hugo Linns é violeiro, arranjador e consegue, através de sua arte, levar a cultura popular a um outro nível. Sua música é o que a gente pode chamar de ‘fina’ porém sem cair no risco de soar ‘bossal’. O artista consegue tons super autênticos ao misturar o tradicional ao eletrônico ganhando aquela ‘cara’ de world music. 

Fernando Alakejá

O recifense Alakejá mergulha no setentismo com um som muito bem produzido e bastante encorpado. Com pegada de ‘frontman’, ele arrasa nos vocais e mistura, de forma bastante inteligente, referências de psicodelia, música alternativa e indie.

Trupe Poligodélica

Do sertão de Pernambuco, a Trupe Poligodélica chega trazendo uma mistura muito criativa entre a música popular, a psicodelia e a poesia. Com energia um tanto intrépida, o grupo tem uma musicalidade bastante segura, com pegada meio blues e arranjos bem feitos. 

Kalouv

Para quem gosta de música instrumental, a Kalouv traz um som bem divertido com influências que vão dos filmes aos jogos eletrônicos. Com arranjos inteligentes e som encorpado, eles apresentam uma musicalidade bem redondinha e muito criativa. Bom até para quem não é muito adepto do instrumental, vale dar essa chance. 

Orquestra Iorubás de Pernambuco

Aqui, referências tradicionais se misturam ao jazz e formam um som muito elegante. A música ancestral é elevada a outros níveis na mistura dos tambores aos coros e à metaleira. Uma nova e bela forma de representar e homenagear o xangô (religião de matriz africana) pernambucano. 

Barbarize

Criada e desenvolvida na comunidade do Bode, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife, o Barbarize vai além da música e também atua em outras frentes, como teatro e dança. O grupo traz uma sonoridade afrofuturista que parece ser produzida fora de uma zona de conforto, no entanto, consegue soar muito orgânica. 

Mulungu

A Mulungu é um trio que se divide entre Pernambuco e Rio Grande do Norte. O som da banda traz um toque de psicodelia em um indie feito com arranjos inteligentes e bastante interessantes. 

Platônica

Aqui é música para dançar. Platônica mistura pop e eletrônica com pegada dançante e muito descontraída. A cantora e compositora pernambucana também pincela tons de reggae, música popular do Nordeste e até do bom e querido brega recifense para formatar seu trabalho. Uma mistura interessante capaz de fazer qualquer um remexer. 

O mês de maio está encerrando com muitas novidades nas plataformas de streaming. Produzindo de forma incansável, os artistas brasileiros, dos mais diversos gêneros, não param de rechear canais como Deezer e Spotify com novos singles; sem falar no YouTube, que vira e mexe recebe um videoclipe fresquinho dessa turma.

Confira o que está chegando, nesses últimos dias do Mês das Mães, para dar aquela renovada na sua playlist. 

##RECOMENDA##

Forró Saborear

Divulgação

Completando 21 anos de estrada, a banda Forró Saborear lança, nesta sexta (28), o single Torre Eiffel. A música conta a divertida história de um rapaz que promete levar a namorada para um jantar romântico na capital francesa. Com produção de Jeff Barros, a faixa aposta em uma nova roupagem na busca de uma atualização para o tradicional ritmo do forró.  

Guilherme Castel

Divulgação

O cantor e compositor Guilherme Castel também encerra o mês de maio com novidade. Ele lança, nesta sexta (28), seu primeiro EP solo, Hoje. São cinco músicas, entre elas, a inédita Roxo, uma parceria de Guilherme com o ex-Fresno, Esteban Tavares. 

Rarefeito 011

Divulgação

Já a Rarefeito 011 escolheu o sábado (29) para lançar o seu primeiro disco, Informativo Sonoro. O álbum traz 15 faixas que misturam a sonoridade do rock com o lirismo do rap. A proposta da banda paulista é misturar a atitude do primeiro com o caráter questionador do segundo. Informativo Sonoro é uma construção que começou em 2018 e, em breve, também terá sua versão física. 

Aninha Portal

Divulgação

Falando sobre um tema bastante urgente, feminicídio, Aninha Portal lança o single Marias. Esta é a segunda faixa do EP  Tempo de Realizar, que tem a assinatura de Gege D'angola na produção musical. Marias também conta com um clipe, no qual  Aninha ressalta a  importância da denúncia no caso de violência contra as mulheres. 

Naiá Camargo

Divulgação

A cantora Naiá Camargo mistura pop ao brega clássico das décadas de 1960 e 1970 no single Salomé. A música chega às principais plataformas de streaming nesta sexta (28) e abre uma temporada de lançamento que a artista paulistana fará ao longo de todo este ano. 

Mulungu

Divulgação/Hannah Carvalho

Para marcar o lançamento do seu primeiro disco, O Que Há Lá, o Trio Mulungu apostou em uma estratégia com pegada audiovisual. Além do álbum nas plataformas digitais, o grupo lança, também, um mini documentário com um show-entrevista gravado na Passadisco. O filme pode ser visto no canal da banda no YouTube. 

Persie

Divulgação

A artista baiana resolveu fazer uma reverência à sua terra natal e a uma banda de lá, a Vivendo do Ócio, no seu novo single, Saudade da Bahia. Misturando Pop e R&B, a música assume tom nostálgico e conta com a participação do baterista do grupo que a influenciou, Dieguito Reis. 

Teago Oliveira

Divulgação/Duane Carvalho

O vocalista da banda Maglore apresenta ao público o primeiro single inédito de seu projeto solo. Nada se Repete é uma reflexão a respeito dos movimentos cíclicos da vida e o ineditismo que eles trazem ainda que quando repetem eventos como amores e dores. Disponível nas principais plataformas digitais. 

Guma

Divulgação/Moema França

A banda pernambucana Guma ilustrou sua canção Jugular com um clipe assinado pelo cineasta Felipe André. A música conta a história de um amor impossível de acontecer e, no vídeo, um casal, interpretado pelos dançarinos e coreógrafos Dante Olivier e Victor Lopes, . se busca pelas ruas colocando esses versos em imagens. 

Luan Estilizado

Divulgação

Para relembrar alguns clássicos do forró, Luan estilizado lança, nesta sexta (28), o EP Esquenta São João 4. No repertório, seis regravações de grandes sucessos: “Oração de São Francisco”, “Onde canta o sabiá”, “Brincar de amar”, “A morte do vaqueiro”, "Táxi Lunar” e “Dona da minha cabeça”. Disponível nas principais plataformas digitais. 

 

 

De tênis alinhado, calça skinny e camisa estampada, o Mestre Anderson Miguel contempla as fronteiras do horizonte do Engenho Cumbe, em Nazaré da Mata, na Mata Norte de Pernambuco, em busca de inspiração para improvisar uma nova loa. “Quando dá, eu ando com umas coisas prontas, mas verso na hora às vezes sai até melhor do que verso decorado”, comenta o jovem líder do Maracatu Rural Cambinda Brasileira, uma das mais tradicionais nações de baque solto do estado. Aos 22 anos, Anderson samba no improviso para vencer a passagem do tempo com sua Cambinda, que se prepara para completar cem anos de existência no Carnaval de 2018, sem apoio do estado ou de grandes empresas.

Nascido e criado no Engenho Cumbe, Anderson é filho do contramestre Aderito Amaro e da baiana Eugênia da Silva. “Um matuto. Minha mãe saiu no carnaval em 1995 comigo dentro da barriga, mas vim começar mesmo com 12 anos, como mestre do Maracatu Infantil Sonho de Criança. Aos 15, entrei no Maracatu Águia Misteriosa e em 2013 assumi a Cambinda”, conta. Sucessor do mestre Canário Voador, Anderson mantém os pés no chão. “Todo ano é difícil colocar o maracatu na rua. Neste, além do carnaval, temos os gastos da comemoração do nosso centenário. Mesmo com apoio da prefeitura, falta muita coisa. A gente organiza rifa, pede aos amigos, mas por que tanta gente que pode nos apoiar não apoia?”, questiona. 

##RECOMENDA##

[@#video#@]

Se em Nazaré a escassez de patrocinadores é ingrata, fora de sua terra natal, o “Neymar do Maracatu”- conforme Anderson gosta de se denominar-, ganhou projeção nacional devido à parceria com o instrumentista pernambucano Siba Veloso, a quem costumeiramente se refere como “mais do que um padrinho” e deve o trabalho de produção em casas de grande porte e visibilidade, a exemplo do paulistano Sesc Pompeia. “Eu não sei a dimensão do que está acontecendo. Eu já escutava Siba cantar, mas nunca imaginei poder chegar perto dele, apertar a mão, dar um abraço”, completa. 

Embora não abra mão de símbolos tradicionais no Maracatu de Baque Solto, como a bengala da qual não se desgruda, Anderson pode inaugurar uma geração de mestres que aborda, em suas poesias, temáticas não necessariamente ligadas ao passado ou à vida rural. “Política, natureza e violência. Eu não sou polêmico, talvez eu cante o que muitos querem e outros não. Tenho um mote em que digo: o Brasil que vivemos tá perdido/dominado pela corrupção/Não posso aceitar nem posso ver/ um país onde o povo tá sofrendo/Essas brigas que estão acontecendo/iludindo a cabeça da nação”, lembra. 

Com apenas 22 anos, Anderson Miguel comandará novamente os 180 'fogazões' da Cambinda Brasileira no carnaval de 2018. (Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens)

Barachinha, Dedinha, Zé Galdino dentre outros mestres figuram entre as influências de Anderson, mas não são as únicas. Ele é o mestre de maracatu que não abre mão de dar uma “palhinha” no barzinho em shows de amigos, já teve música autoral gravada pela banda de forró Calango Aceso e faz bom uso das redes sociais e da internet para divulgar novos trabalhos. “Gosto muito das músicas antigas dos Nonatos. Penso gravar um CD interpretando músicas deles para ouvir em casa com os amigos. De 2014 para cá, comecei a compor também para sair um pouco da rotina do Maracatu e soltar registros no Youtube, o pessoal gosta bastante”, explica.

“É preciso desfolclorizar a cultura popular”

Residente do Bairro do Monte, em Olinda, Marcelo Cavalcante insere elementos de jazz e de ritmos africanos em seu frevo. (Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens)

Violonista, compositor e intérprete, Marcelo Cavalcante sabia o que lhe esperava quando largou o conforto do lar familiar para viver exclusivamente de música. “Tive o privilégio de escolher ser pobre”, costuma dizer ele, que, há quatro anos, mora em um pequeno conjugado no Bairro do Monte, em Olinda. Noturno, Marcelo colhe suas melodias e frevos da madrugada e  logo lhes transpõe para um charmoso violão Antonio Hernandez, que só por implicância com o nome que carrega, soa bastante brasileiro. “Venho da escola do jazz e da bossa nova e trago muito disso para o frevo. Também sou muito ligado aos ritmos de matriz africana. Tudo isso acaba criando uma linguagem moderna para o gênero”, comenta. 

Não é por acaso que, dos compositores do frevo, Capiba é o mais ouvido por Marcelo. “Ele foi letrista e compositor. Assim como Capiba, trabalho com vários estilos, como maracatu e samba canção. E o caixa do frevo vem tem uma quebrada seis por oito, de candomblé. Ganhei muita experiência tocando com os mestres de coco de Olinda, uma vivência real com nossos ritmos”, lembra o artista, que chegou a integrar a banda de Dona Glorinha do Coco, como pandeirista. 

Compositor aponta Capiba como influência profícua. (Rafael Bandeira/ LeiaJá Imagens)

O produto desse caldeirão de influências é o que Marcelo vê como um frevo “ácido”. “Existe uma certa crítica à forma como a sociedade se organiza. Muita gente que compõe frevo atualmente o faz em torno desse apelo ao calor, à bebida, ao beijo, que remetem ao nosso carnaval. Procuro a poesia que vai além da festa”, afirma. 

Na contramão do mercado e da gestão cultural do estado, Marcelo escolhe tocar frevo o ano todo, o que já lhe rendeu, entre amigos próximos, o apelido de ‘veinho’. “Velho é o estigma de tratar tudo que é nosso como ultrapassado, como expressões sazonais, coisa de época. É preciso desfolclorizar a cultura popular. O frevo tem que ser associado ao cotidiano das pessoas, com mais festivais, mais espaços dedicados a ele e mais patrocínio para trabalhos novos”, critica. 

O ‘coco pop’ do Mulungu

Mulungu tem coco como ritmo base, mas se utiliza de elementos do ijexá e do Maracatu. (Chico Peixoto/LeiaJá Imagens)

Cravado nas regiões centrais do nordeste, o alaranjado do Mulungu é capaz de muito mais do que embelezar as paisagens sisudas do sertão. Conhecida como “amansa-senhor” e “capa-homem”, a árvore possui propriedades capazes de auxiliar quem sofre de males como insônia, ansiedade e depressão. Não é a toa que, no bairro da Várzea, marcado pelas extensas áreas verdes e por ser itinerário do Rio Capibaribe, brotou o grupo Mulungu, composto exclusivamente por percussionistas mulheres, interessadas em difundir gêneros como o coco, o maracatu e o ijexá.

Desafiando a cultura tradicional dos tambores, que sempre legou aos homens o papel de senhores de instrumentos pesados, a exemplo de ilus, congas e atabaques, o projeto começou quando Karollayne Nicolly e Vanessa Farias desistiram de trabalhar com os rapazes de um outro grupo. “Por conta do machismo deles. A gente se juntou pra fazer um grupo só de mulher, porque mulher na Várzea não tinha vez. Apesar de tudo que a gente vem enfrentando aqui, já realizamos nossa terceira sambada”, comemora Karollayne.

Grupo inova ao acrescentar instrumentos harmônicos, como o violão e a flauta transversa, ao coco. (Chico Peixoto/LeiaJá Imagens)

Encarando olhares masculinos curiosos, o grupo, cuja atual formação conta também com Ariana Luna, Edilma Cavalcante, Andreza Santos e Evellyn Monaliza, costuma se reunir na praça da Várzea para ensaiar e realizar apresentações. “Começamos a estudar os instrumentos mais pesados, que não tínhamos oportunidade de tocar. Muitas vezes em que a gente começava a pegar, um homem tomava nossa frente”, lembra Karollayne.

Autoral, o Mulungu executa como uma espécie de ‘coco pop’, as composições elaboradas por Karollayne e Vanessa. “A gente olha ao redor e, de repente, a melodia vem. As músicas têm muito a ver com nossa vivência na Várzea”, comenta Vanessa. As melodias simples conquistaram um público jovem e fiel, que sempre comparece nos eventos organizados pelo próprio Mulungu. “Há uma renovação de público também. Utilizamos instrumentos comuns do coco, mas resolvemos acrescentar instrumentos harmônicos, como o violão, a flauta transversa e percebemos que as pessoas vem aderindo e se identificando com essas inovações”, conclui Karollayne.   

Confira as melhores fotos do ensaio dos novos artistas para o LeiaJá na galeria de imagens:

[@#galeria#@]

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando