Todo mundo está falando: O Palhaço é o filme nacional selecionado para concorrer a uma indicação ao Oscar. Existe muita confusão sobre isso por que parece pouca a diferença entre a indicação de um país de um filme escolhido e a seleção em si. Tende-se a esquecer o que a cerimônia é, e como ela funciona.
O Oscar é essencialmente um prêmio da Academia de Artes Cinematográficas, essencialmente do 'sindicato' dos cineastas dos EUA. Criado pela Metro Goldwyn Meyer (MGM) em 1927, é um prêmio de votação, feito pelos membros da academia, que votam entre os indicados duas vezes: uma vez para fazer a lista dos cinco, e outra vez para fechar o mais apreciado dentre os cinco. Para concorrer, é necessário que ele seja exibido em Los Angeles, sede da academia, pelo menos durante uma semana. Já a indicação brasileira de um filme é feito por uma comissão organizada pelo Ministério da Cultura (Minc), que seleciona a partir de uma lista o 'felizardo' que irá para esta pré-seleção nos EUA.
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Portanto, vários fatores influenciam todas as três decisões. A seleção de filmes brasileiros este ano foi especialmente pobre: "À beira do caminho", de Breno Silveira, "Billi pig", de José Eduardo Belmonte, "Capitães da areia", de Cecília Amado, "Colegas", de Marcelo Galvão, "Corações sujos", de Vicente Amorim, "Dois coelhos", de Afonso Poyart, "Heleno", de José Henrique Fonsecam "Elvis & Madona", de Marcelo Laffite ,"Histórias que só existem quando lembradas", de Julia Murat, "Luz nas Trevas", de Helena Ignez e Icaro Martins, "Menos que nada", de Carlos Gerbase, "Meu país", de André Ristum, "O carteiro", de Reginaldo Faria, "Paraísos artificiais", de Marcos Prado e "Xingu", de Cao Hamburger. A maior parte destes filmes nem mesmo correu o Brasil inteiro, sendo exibidos apenas em festivais, e no eixo Rio-São Paulo.
Foi um ano bastante pobre de filmes nacionais, já que o primeiro semestre quase não cumpriu as cotas obrigatórias de exibição, uma medida organizada pela Agência Nacional de Cinema (ANCINE) para assegurar o espaço mínimo dos filmes nacionais nas salas de exibição. Em 2012, os cinemas teriam que cumprir uma Cota de Tela mínima entre 28 e 63 dias por sala e exibir, no mínimo, entre três e 14 filmes nacionais diferentes. A lista original de onde 'O Palhaço' saiu tem 15 longas metragem, que cumpriram os requisitos de exibição nos EUA.
Fora isso, existe também o fato da concorrência do resto do mundo: grandes concorrentes selecionados por outros países, com carreiras mais bem sucedidas do que 'O Palhaço', tanto em seus locais de origem quanto em festivais internacionais. Um bom exemplo disto é a seleção da França, em que 'Os Intocáveis' é o filme mais visto fora da França desde 'O Fabuloso Destino de Amelie Poulan' e, só nos EUA, onde encontra-se boa parte dos votantes, e mostra que ele ressona bem com o público americano. O drama já fez mais de 12 milhões de dólares por lá. Da mesma forma, 'Amour', o representante da Áustria, está na concorrência, e tem uma palma de ouro no último festival de Cannes, embora não seja o tipo de filme que a academia realmente premie no fim - geralmente é o tipo de história que entra na pré-seleção.
Porém, um ponto a favor do fime brasileiro é sua universalidade, uma característica importante em premiações assim. A trama de 'O Palhaço' é fácil de se relacionar, e se baseia na alegria e tristeza de um arquétipo universal - a figura do palhaço circense, além de ser um filme competente visualmente, embora tenha um tipo de ritmo mais dado ao cinema europeu do que ao americano.
Outro ponto favorável é o regime especial de votação em que somente membros que viram TODOS os filmes concorrentes tem direito a votar entre eles: a simples afiliação não é suficiente. Esse pré-requisito garante várias supresas, como a que aconteceu em 2010, quando o ganhador de Cannes, 'A Fita Branca', de Michael Haneke, o mesmo diretor de 'Amour', perdeu o Oscar para o argentino 'O Segredo dos Seus Olhos', de Juan José Campanella.