Tópicos | obras abandonadas

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Desbotada, a placa indicando o stand de vendas de um edifício na Avenida Presidente Kennedy, em Piedade, Jaboatão dos Guararapes, já não faz mais sentido há mais de trinta anos. Segundo moradores de locais próximos, o prédio ainda está com os tijolos aparentes há pelo menos três décadas. Além dessa, outras tantas obras seguem abandonadas no Grande Recife. Apesar de não causarem impacto visual à maioria dos cidadãos, as carcaças urbanas abrigam, em muitos casos, usuários de drogas e inutilizam terrenos que poderiam ser aproveitados de outras formas.

Brigas na Justiça, falência das construtoras ou embargo da Prefeitura: muitos são os supostos motivos para o abandono das obras, desconhecidos até mesmo pelos órgãos oficiais – com o passar das gestões, as equipes de fiscalização não conseguem saber ao certo o real motivo da pausa nas construções. Informações desencontradas da Defesa Civil de Jaboatão. Enquanto alguns diagnosticam a edificação da Presidente Kennedy com risco 3 de desabamento, outras fontes do mesmo orgão afirmam que o prédio não apresenta nenhum risco de colapso porque "equipes estiveram na localidade há cerca de um mês e não detectaram nenhum tipo de problema".

Na Avenida Ayrton Senna, em Piedade, a edificação abandonada há cerca de cinco anos incomoda os moradores do prédio vizinho. “Tem uma pessoa que mora aí e outras chegam de vez em quando pra usar drogas. Esse prédio já foi invadido por um pessoal que mora no Vietnã [comunidade em Piedade], mas eles saíram e foram indenizados. Às vezes ligam para a Polícia, para expulsar o pessoal que vem se drogar. A Polícia vem, mas não é sempre", afirma a zeladora do edifício vizinho ao esqueleto urbano. 

Ainda em Jaboatão, o edifício de 11 pavimentos localizado à beira mar da praia de Piedade segue há incontáveis meses com as obras sem finalização. Apesar da série de fatores que influenciam o preço do metro quadrado em edifícios na beira mar (estrutura externa, vagas na garagem, área privativa e componentes como piscina e salão de festas), corretores apontam que o custo do metro quadrado pode variar de R$ 4.500 a R$ 5.500, considerando um imóvel em um prédio simples de Jaboatão. Partindo desse preço e considerando um apartamento de 100m², por exemplo, o comprador teria que desembolsar entre R$ 450.000 e R$ 550.000. No caso de prédios prontos e com todos os atrativos dentro e fora da área privativa, o preço do apartamento ultrapassaria um milhão de reais.

No Recife, cerca de 20 edificações da Zona Norte – entre elas casas, prédios e estabelecimentos comerciais – foram embargadas pela Secretaria Executiva de Controle Urbano (Secon) desde o início de 2013. Segundo o órgão, os principais motivos dos embargos são a falta de licenciamento para as construções ou de aprovação do projeto pela Prefeitura. Entretanto, o abandono por parte de construtoras também é uma das causas da grande quantidade de prédios interminados.

RETOMADA DAS OBRAS – Com a falência de algumas construtoras e o consequente abandono das obras em andamento, muitos moradores que compraram os imóveis durante o período de lançamento têm o dinheiro perdido. Obras como o Residencial Pereira Borges, no bairro do Derby, passaram mais de cinco anos abandonadas até que outra empresa assumisse a construção e terminasse o projeto, até então com apenas dois pavimentos concluídos. Segundo corretores, a falência da antiga construtora Almeida Vasconcelos impediu o andamento do prédio e deixou muitos compradores na mão. "Os moradores das casas venderam o terreno à construtora na esperança de haver troca de área, ou seja, que houvesse entrega de alguns dos apartamentos aos moradores que cederam o terreno. Depois que a construtora faliu, o pessoal ficou numa situação muito complicada, tendo que morar num lugar alugado e sem a casa própria", conta o corretor Wilson Santos. 

Após a retomada da obra por outra construtora, alguns dos compradores quiseram o dinheiro de volta por não acreditarem que o prédio pudesse ficar pronto. “O dono da construtora se reuniu com as pessoas que tinham comprado apartamento. Alguns foram ressarcidos, outros preferiram esperar a obra ficar pronta. Um dos moradores chegou a pedir o dinheiro de volta, mas assim que o prédio foi concluído, a esposa pediu para voltar. Eles moram aqui até hoje”, diz Santos. Atualmente, o edifício tem duas torres com 18 pavimentos e 72 apartamentos, cada um com 84m². 

No Espinheiro, na Zona Norte do Recife, um edifício comercial também foi assumido por outra construtora devido à falência da empresa anterior. “O projeto ficou parado durante cerca de quinze anos e temos a intenção de iniciar as obras o quanto antes. Já fizemos modificações no projeto inicial conforme as exigências da Prefeitura, para adaptá-lo às regras de acessibilidade de hoje em dia. Nossos engenheiros já fizeram vistorias na estrutura e concluíram que não há risco de desabamento. Agora é só esperar a legalização da obra e começar a finalização do empresarial”, explica Jorge Leitão, diretor comercial da Casa Grande Engenharia, empresa que assumiu a obra.

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