Tópicos | Paixão ideológica

A morte de um tesoureiro do PT por um apoiador de Jair Bolsonaro no início do mês em Foz do Iguaçu, Paraná, tem gerado debates sobre as violências por motivação política. Para o cientista político Alex Ribeiro, a operação Lava Jato, a prisão do ex-presidente Lula e a ascensão de um governo radical de direita no país, contribuíram para elevar as paixões ideológicas que resultam nessas reações.

“A negação da política está entre os principais fatores para os confrontos. A falta de política pública em vários setores levaram ao ceticismo da população. No Brasil, a falta de identidade com as instituições, principalmente com a classe política, leva ao ceticismo do eleitorado. Estes acabam se abraçando com pessoas e não com partidos. Elas vêem a solução pelo personalismo. Os últimos acontecimentos no Brasil com a Lava Jato, a prisão do ex-presidente Lula e a ascensão de um governo radical de direita eleva as paixões ideológicas que culminaram com estes embates”, opina Ribeiro.

##RECOMENDA##

Antes mesmo do início da campanha, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já recebeu 13 ofícios com denúncias de agressão a parlamentares e a jornalistas em diversas localidades do país. Os ofícios foram formulados pelo Senado e pela Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados e detalham ataques a vereadores de Câmaras Municipais e a membros do PT, Psol, PSDB, Rede Sustentabilidade e do PSD. 

O caso mais grave registrado até o momento no país aconteceu no dia 9 de julho deste ano, quando o guarda municipal de Foz do Iguaçu, no Paraná, Marcelo Arruda, que era tesoureiro do PT, foi morto a tiros pelo agente penitenciário Jorge José Rocha Guaranho, que é declaradamente bolsonarista.

No dia do crime, Arruda comemorava os seus 50 anos com uma festa que tinha como tema o ex-presidente Lula (PT). As investigações da polícia apontam que o bolsonarista teve acesso às imagens de segurança do local onde ocorria o aniversário e foi até o espaço tocando em seu carro uma música que fazia alusão ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que era chamado de "Mito" na canção.

A Justiça tornou Guaranho réu por homicídio duplamente qualificado e "notoriamente praticado por divergências político-partidárias".

Alex Ribeiro acredita que é preciso uma intervenção dos candidatos com os seus apoiadores, principalmente os que disputam a Presidência da República.

"Existe uma tensão peculiar para a campanha eleitoral deste ano. Há uma polarização clara de ideias em dois candidatos e incidentes e fatalidades já ocorrem. É preciso que as lideranças políticas prezem pela democracia e o respeito às instituições e seus adversários. Contudo, pelas últimas movimentações, isso está longe de ocorrer", diz.

Raiva de quem discorda

Para o cientista político Caio Souza, as divergências observadas tendem a resultar em violência. “É importante entender que é um engano nosso achar que nossa humanidade é pacífica. Nós passamos por ciclos de pacificidade, ciclos onde às vezes determinadas formas de pensar e agir monopolizam a política e o discurso. Esses ciclos nos dão uma falsa impressão de que há uma concordância pacífica das ideias e de que as pessoas que divergem não guardam nenhum tipo de raiva ou violência quanto à ideia divergente”, explana.

“O que nós observamos no Brasil é uma ascensão de idéias antagônicas. Essa ascensão ecoa de forma muito mais rápida pelas redes sociais. Então, as redes facilitam com que a divergência fique mais notória e isso possibilita também que as pessoas, que não sabem lidar com as divergências, recorram ao uso da violência e rótulos para tentar justamente invalidar a outra posição e, quem sabe, até exterminar”, complementa. 

Gerenciamento contra a violência

Por conta da escalada da violência com motivações políticas, o TSE instituiu um Grupo de Trabalho destinado a elaborar e a sugerir diretrizes para disciplinar as ações voltadas ao tema durante as Eleições 2022. 

Entre as atribuições dos membros do GT estão a promoção de audiência pública, de eventos e de atividades que promovam debates que subsidiem o diagnóstico e formulação de diretrizes adicionais, especialmente com a participação dos partidos políticos, do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), do Ministério Público Eleitoral (MP Eleitoral) e de entidades da sociedade civil vinculadas ao assunto. Os resultados dos estudos devem ser apresentados em 45 dias.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando