A nona edição do Arraial Tomazina reafirma, em mais um ano, o caráter multicultural do São João do Recife, formato já adotado no Carnaval da cidade. A Prefeitura do Recife em parceria com a Casa de Produção apostou, mais uma vez, numa programação que foge à tradição dos festejos juninos para um público que busca uma alternativa na hora de se divertir no São João. Bandas da nova geração independente ganham espaço para mostrar seus trabalhos autorais, sem deixar de lado as raízes nordestinas. Este ano, cada atração contribuiu para a homenagem ao centenário de Luiz Gonzaga, executando uma canção do Rei do Baião com uma nova roupagem.
Segundo o idealizador do Arraial Tomazina, Johnny Dheni, a noite do último sábado (23) foi definida como o Dia das Camisas Pretas, voltada para o rock tradicional e pesado. The Trumps Band abriu a noite para um público ainda pequeno. Com um som calcado no surf music com guitarradas, a banda cantou músicas em inglês até o final da apresentação. A morte do vaqueiro foi a canção escolhida para homenagear o Mestre Lua. Por volta da terceira música, o polo contava com um público maior que pediu canções de ícones do rockabilly como The Cramps e The Sonics e correspondeu ao show com gritos eufóricos, além da clássica pedida "Canta Raul".
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Mas quem incorporou canções do baiano em seu repertório foi o quarteto Tao, que subiu ao palco em seguida. O som psicodélico com timbres de guitarra do grupo instigou o público, que conferiu um repertório autoral mesclado com canções de artistas nacionais, a exemplo de Lula Côrtes. A banda abriu o show executando o hino gonzaguiano Asa Branca em versão instrumental. "Luiz Gonzaga não morreu, ele continua sendo uma estrela. Parabéns, Reio do Baião, pelo seu centenário de brilho", disse o vocalista da banda, Zé Junior, logo no início da apresentação. Em outro momento, o vocalista evocou o astral do momento: "Esse é um momento de energia. Nós com a energia musical e vocês com a energia do pensamento". A banda interagiu com o público até o final do show e provou que sabe fazer um bom rock'n'roll do jeito brasileiro.
A Desalma encerrou a noite com um show pra lá de agressivo. Em entrevista ao LeiaJá, o vocalista da banda, Dartelly Lins, definiu a apresentação em três palavras: euforia, agonia e transtorno geral. Performático, o integrante não deixou ninguém parado e, ao lado dos músicos Mathias Canuto (guitarra), Renato Correa (bateria e voz) e Pedro Diniz (baixo) provou que foi a atração mais esperada da noite, reunindo em peso os camisas pretas na Rua Tomazina. "Vamos dançar forró?", ironizou Dartelly. O momento mais ousado, sem dúvida, foi a releitura da canção Ovo de Codorna de Luiz Gonzaga, que, originalmente distoante do som da banda, ganhou uma versão caótica no estilo trash metal.
O fotógrafo Victor Max, 26, foi à Tomazina especialmente para ver a Desalma. "Eu me identifico com o som porque já sou envolvido com projetos musicais de hardcore e não sei dançar forró. Se não fosse o Arraial, o público alternativo ficaria sem opção para aproveitar o São João da cidade."A designer Leíla Nunes, 25, vai todo ano ao Arraial Tomazina. "Gosto da iniciativa do polo, pois tem gente que não gosta de forró, então se torna mais uma opção gratuita para esse público".
Confira entrevista com Johnny Dheni:
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