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Em uma pequena sala com pouca iluminação, vários estilhaços de vidro, marcas em uma das paredes e eletrodomésticos dignos de um bazar ou antiquário. Longe de ser um estabelecimento comercial convencional, a Sala da Raiva, localizada no bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife, propõe aos clientes "quebrar tudo sem culpa". À frente do negócio está Andressa Braga, psicoterapeuta holística. Ao receber a reportagem do LeiaJá, ela explica que o local está iniciando as atividades. “Abri há 15 dias”, diz.

A dinâmica do espaço é simples. O cliente realiza o agendamento, escolhe os objetos, chamados de kits pela dona, a serem quebrados com taco ou marreta. Antes de entrar na sala, o usuário recebe as instruções de Andressa. Calça, sapato fechado, camisa de manga são fundamentais para a dinâmica, além da assinatura de um termo responsabilidade.

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Cliente durante sessão na Sala da Raiva. Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens

No estabelecimento, a dona coloca os equipamentos de proteção. Óculos, face shield, luvas, macacão cobrindo o corpo inteiro e capacete. “Vai querer quebrar o quê?”, questiona Andressa. Em seguida, ela lança outras perguntas: “Você quer usar o taco ou a marreta?”, “Qual música deseja ouvir?”, “Qual cor de luz?”. Ao ter os desejos atendidos, os clientes são deixados na sala, fecha-se a porta.

Na caixa de som ‘Come as you are’, do Nirvana. Mesmo com a música alta, é possível ouvir os golpes de marreta quebrando uma velha impressora. Em seguida, Andressa leva algumas garrafas de vidro. Uma a uma são arremessadas contra a parede. Em pouco tempo, o chão está tomado por pedaços de vidro e do que um dia foi um aparelho eletrônico. “A sensação é muito boa”, conta uma cliente que preferiu não ser identificada. 

Pedaços de eletrodomésticos e garrafas tomam conta do chão do espaço. Júlio Gomes/LeiaJáImagens

Os valores dos 'kits' de R$ 10 a R$ 60 e são distribuídos da seguinte forma: caixa com dez garrafas de vidro - R$ 10; Um eletrodoméstico - R$ 30; caixa com dez garrafas e um eletrodoméstico - R$ 40; dois eletrodomésticos - R$ 40 e duas caixas, cada um com dez garrafas, e eletrodoméstico - R$ 60 (valor promocional). Os valores podem ser pagos com cartões de débito e crédito, podendo o cliente parcelar, ou usar boleto bancário e Pix.

História de cinema

A proprietária da ‘Sala da Raiva’ fala com entusiasmo sobre o empreendimento. Questionada sobre de onde partiu a decisão de iniciar este negócio, Andressa explica que surgiu após ver algo parecido em um filme. “Eu estava vendo um filme e em uma das cenas, o marido leva a esposa para um lugar que ela podia quebrar tudo. Eu achei aquilo muito interessante e pensei que aqui poderia ter algo igual”, conta sem lembrar o nome da produção.

Após este primeiro contato com a ideia, a psicoterapeuta iniciou algumas buscas e descobriu que tinha, no Brasil, apenas uma ‘rage room’, localizada em São Paulo. “Entrei em contato com o dono e acompanho nas redes sociais. Ele até propôs que eu fosse franqueada, mas resolvi abrir uma. Esta é a primeira sala da raiva do Nordeste”, afirma.

Andressa Braga é a proprietária da Sala da Raiva. Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens

Andressa conta que o investimento inicial foi de R$ 1.800 e que o negócio não é sua única fonte de renda. Além de administrar o espaço, ela realiza tratamentos terapêuticos, que devido à pandemia da Covid-19, são realizados on-line. “Quando não estou com pacientes, estou aqui e vice-versa. Por isso, as atividades por aqui precisam ser agendadas”. Além das demandas profissionais, Andressa divide o tempo para criar os dois filhos.

Durante a entrevista, ela mostra a estrutura do local. Pergunto como foi o processo de montagem da sala. Mais uma vez, Andressa responde que foi tudo elaborado por ela, desde a escolha da casa para abrigar o empreendimento até a acústica da sala. Na entrada e em vão há eletrodomésticos e garrafas. "Muitas dessas coisas achei no lixo. Além disso, fiz algumas parcerias com ferro velho e espetinhos. Alguns donos perguntam para que eu quero essas coisas, quando explico, alguns escutam com estranheza”, conta.

Televisores antigos e garrafas de vidro são usados como válvula de escape no empreendimento. Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens

Não é violência, é terapia

O negócio peculiar de Andressa não está livre de críticas, mesmo com pouco tempo de existência. Por desconhecimento da dinâmica e julgamentos da proposta, algumas pessoas questionam a dona. "Algumas pessoas dizem que a sala contribui para a violência, que é algo pesado. Mas, não é nada disso. Aqui, as pessoas vêm para colocar para fora as angústias, as raivas e decepções. Vêm para extravasar, fazer coisas que não poderiam fazer na frente das pessoas", aponta.

A idealizadora do negócio comenta que em casos mais extremos, a Adressa psicoterapeuta holística entra em cena. "Dependendo do que acontece na sala, é necessário chamar para uma conversa". Ainda segundo ela, a maioria dos clientes é mulher. "As mulheres andam mais estressadas", observa.

Muito além da violência, o espaço é usado para extravasar as angústias e tensões. Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens

Todo processo não é cronometrado e não há limite máximo ou mínimo para permacer na sala. "Há pessoas que quebram os objetos em dois minutos, outras em duas horas, por exemplo. O importante é colocar o que incomoda para fora". Confira o vídeo:

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