Tópicos | Sasha Baron Cohen

Sasha Baron Cohen é conhecido por suas paródias do olhar americano em relação aos estrangeiros. O Ditador (The Dictator, EUA) é mais um filho desta piada que parece não ter fim, embora apresente sinais de desgaste. O filme apresenta a jornada do General Almirante Lider Supremo Aladeen (sim, pronuncia-se Aladin), ditador do país fictício Wadhya, no noroeste africano.

Fictício é a chave para os sucessos e falhas do filme. A produções próprias anteriores de Cohen eram, de alguma forma, peças semidocumentais: pegadinhas que o comediante pregava em pessoas desavisadas, misturando cenas ensaiadas com um toque de realidade maníaca que dava um ar de que qualquer coisa podia acontecer em qualquer momento.  O Ditador é uma história linear fictícia comum, detalhando uma viagem de Aladeen (Cohen) aos EUA, onde ele é substituído por um sósia imbecil que deveria protegê-lo de assassinatos (Cohen), numa tentativa de golpe branco de Tamir (Ben Kingsley), seu segundo em comando.

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Sem poder e sem a barba que lhes são característicos, resta a Aladeen tentar recuperar o controle do seu país com a ajuda da verdureira vegana natureba Zoey (Anna Faris) e Nadal (Jason Mantzoukas), o físico nuclear refugiado que trabalha numa Applestore em Manhattan, antes que o país - horror dos horrores - se torne uma democracia.

O personagem de Cohen é uma combinação de Sadam Hussein, Kim Jong-il, Osama Bin Laden, Kadafi e ‪Mahmoud Ahmadinejad‬. Como geralmente são os personagens do comediante, ele é racista, sexista, antissemita, nojento e sem limites. Suas excentricidades são notórias: num dado momento, a atriz Megan Fox (Transformers) faz uma aparição na cama do ditador após uma noite de sexo por dinheiro, e sua foto é colocada num mural onde Halle Berry, Oprah Winfrey e Arnold Schwarzenegger também marcam presença. Mais na frente, o ator Edward Norton faz uma 'pontinha' similar. Nas olimpíadas do país, o Comandante Supremo atira em seus competidores para poder ser medalhasta olímpico nacional pela décima terceira vez,  e manda executar seu chefe de programa nuclear por que o míssil não é "suficientemente pontudo."


   

Porém, o filme sofre pelo sua atmosfera. O Ditador não possui um ritmo narrativo acertado, e que não é compensado pelo frescor da performance não ensaiada,  um ar misturado de brincadeira maldosa que pode ou não ser verdade presente em filmes anteriores do comediante, respectivamente Borat (2006) e Bruno (2009). Os atores secundários, Faris e Kingsley, mestres da comédia, são mal utilizados, e o próprio Alladeen é apenas o que aconteceria se Borat fosse líder supremo. A ausência da impressão de que tudo-pode-acontecer-em-qualquer-momento nos deixa sempre com uma sensação de tem algo faltando que nunca chega, uma piada que não tem clímax, em vários momentos.

Mas Baron Cohen também tem um humor de risos curtos, de canto de boca, algo que remete ao ritmo pastelão dos irmãos Marx com a maldade ácida dos bons trabalhos de Chico Anysio. É um humor político e humano que pode chocar os mais puritanos. Mas pelo menos não é uma adaptação de quadrinhos, um romance tornado filme, ou um remake de algo feito nos anos 80.

O Ditador pode ser visto como espelho maléfico de O Grande Ditador (1940): É essencialmente mesma estrutura, embora no lugar do discurso humanista de Charles Chaplin, a fala de Cohen aponte os preconceitos da sociedade dos EUA e suas atitudes na suposta guerra ao terror: na verdade, a democracia americana pode ser muito mais próxima de uma ditadura do que qualquer outro território do planeta.

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