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O aumento dos gastos do governo durante a pandemia do novo coronavírus, somado à crise política, levou o mercado financeiro a projetar um rombo primário recorde para o Brasil em 2020. Dados divulgados nesta segunda-feira (25) pelo Banco Central mostram que a expectativa de déficit primário do setor público para o ano subiu de 7,80% para 8,00% do Produto Interno Bruto (PIB). Este é o maior porcentual da série histórica do BC, iniciada em dezembro de 2001.

No pior resultado registrado até hoje, em 2016, o setor público consolidado registrou um déficit primário equivalente a 2,48% do PIB. Na época, o rombo ainda era consequência do descontrole fiscal verificado nos anos do governo da presidente Dilma Rousseff.

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Já a expectativa de déficit primário recorde para 2020 é consequência direta da crise provocada pela covid-19. Desde março, o governo tem anunciado uma série de medidas econômicas para evitar o fechamento de empresas e o aumento descontrolado do desemprego. As ações representam um aumento de despesas para o governo, com impacto direto sobre o resultado primário.

Outro fator que contribui para o rombo maior é a crise política. Nas últimas semanas, os economistas do mercado financeiro vêm revisando sistematicamente suas projeções para o PIB brasileiro, em meio às dúvidas sobre o futuro do governo de Jair Bolsonaro.

Atualmente, a projeção mediana do mercado para o PIB em 2020 é de retração de 5,89%, mas já há pelo menos uma instituição financeira que espera por um recuo de 11,00%.

O resultado primário reflete o saldo entre receitas e despesas do setor público, antes mesmo do pagamento dos juros da dívida pública. Os avanços nas projeções refletem a expectativa de que, com o aumento das despesas do governo durante a pandemia do novo coronavírus e o recuo do PIB, o País terá um cenário fiscal muito difícil em 2020.

Os dados do Relatório de Mercado Focus, divulgados nesta segunda-feira pelo BC, mostram ainda que o resultado nominal do setor público apresentará um rombo de 12,00% do PIB em 2020. Se confirmado, este será o pior desempenho da série histórica do BC, iniciada em 2002. O resultado nominal reflete o saldo entre receitas e despesas já após o pagamento dos juros da dívida pública.

Risco de insolvência

O avanço do déficit primário do setor público é uma preocupação para o governo e para os economistas do setor privado. Isso porque, para cobrir o rombo, o governo é obrigado a se endividar ainda mais, emitindo títulos públicos. O resultado é de alta na relação entre a dívida e o PIB.

Os números do BC mostram que, no fim de abril, a Dívida Bruta do Governo Geral estava em 78,4% do PIB. Com a crise provocada pelo novo coronavírus - que eleva o rombo fiscal e reduz o PIB - a expectativa entre os economistas do mercado financeiro é de que este porcentual supere os 80% nos próximos meses.

O cálculo sobre até onde vai a dívida, no entanto, é incerto. Isso porque o próprio governo não tem, neste momento, segurança sobre até quando as medidas de isolamento social vão continuar, com impactos negativos sobre a economia.

A Dívida Bruta do Governo Geral - que abrange o governo federal, os governos estaduais e municipais, excluindo o Banco Central e as empresas estatais - é uma das principais referências para avaliação, por parte das agências globais de classificação de risco, da capacidade de solvência do País. Na prática, quanto maior a dívida, maior o risco de calote por parte do Brasil.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, estimou nesta quarta-feira, 18, que o déficit primário do Governo Central será entre R$ 60 bilhões e R$ 80 bilhões inferior ao originalmente projetado para 2019. A meta do Governo Central para este ano era de déficit de R$ 139 bilhões.

"É perfeitamente possível promover ajuste fiscal estimulando crescimento econômico, empurrando crescimento privado, crédito privado", afirmou Guedes, durante coletiva de imprensa. "Buscamos agudizar tudo (ajuste), mas compatível com crescimento econômico", acrescentou, em entrevista coletiva à imprensa ao lado de secretários do ministério que trouxe uma apresentação de balanço para o ano de 2019.

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Guedes fez ainda um balanço das ações promovidas em 2019 e citou objetivos do ministério para o próximo ano. "O ano foi difícil, duro, mas foi extraordinariamente produtivo. Encontramos dificuldades pela frente, mas também muita ajuda", disse Guedes. "Fizemos reformas estruturais importantes. Mas o mais importante é o seguinte: nem começamos."

Segundo ele, o secretário especial de Desestatização, Salim Mattar, vai acelerar as privatizações em 2020. "Salim cumpriu a meta dele e vem aí com o 'fast track'", afirmou. "O Salim está dobrando a meta dele."

Ao citar o secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, Guedes o qualificou como o "senhor reforma". "Tem que dar uma desligada nele, senão vai reformar o Natal também", brincou.

Já o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, Carlos da Costa, tem como desafio, conforme Guedes, colocar o Brasil entre as 50 melhores economias para fazer negócios.

Em relação ao secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues, Guedes afirmou que ele "já sabe onde vai arrumar para derrubar o déficit primário". "O Waldery vai reduzir mais o déficit", disse.

Além disso, Guedes afirmou que o secretário especial de Comércio Exterior, Marcos Troyjo, "já tem um plano B se acontecer alguma coisa nessa nossa região". Guedes não entrou em detalhes, nem deixou claro se a referência feita era ao Mercosul.

O ministro da Economia afirmou ainda que a reforma administrativa será encaminhada "sem mexer em direitos adquiridos". Além disso, pontuou que muitas iniciativas do governo ainda são subterrâneas. "(Muita coisa) está sendo subterrânea, não está sendo falada muito, mas vai fazer efeito", disse Guedes, citando o saneamento como um dos exemplos.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, deixou claro na reunião ministerial feita na segunda-feira, 01, na Granja do Torto, que poderá cortar gastos do governo para equilibrar as contas, especialmente porque, segundo ele, os investimentos previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) estão muito atrelados ao dinheiro que não se encontra em cofre, como o do pré-sal, por exemplo.

Após longa exposição das ministras da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, sobre as maravilhas que serão investidas em obras e logística, Mantega ponderou: "Vamos garantir dinheiro para tudo isso, mas se o processo de vinculação de receitas futuras for muito acelerado, terei de cortar as despesas correntes".

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Mantega foi a primeira autoridade a discursar na reunião que durou mais de quatro horas.

Logo depois, a presidente Dilma Rousseff pediu que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, falasse por "ao menos dez minutos" - tempo considerado uma eternidade, já que ministros tinham, em média, 180 segundos falar. Tombini concentrou-se em elogiar a política econômica adotada pelo governo - e por ele mesmo. A presidente, por sua vez, disse acreditar na diminuição dos preços neste segundo semestre.

"Apostamos na queda da inflação porque historicamente ela sempre cai no segundo semestre, não é mesmo, Tombini?" O presidente do BC concordou. O ministro dos Transportes, César Borges, aproveitou a oportunidade única de estar frente a frente com a presidente e afirmou que "o governo precisa entregar ao povo o que promete". Dilma interferiu na fala. Para concordar plenamente com o peemedebista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Palácio do Planalto e a equipe econômica bateram o martelo de que é preciso "cortar na carne" e promover um novo bloqueio, da ordem de R$ 15 bilhões a R$ 20 bilhões, nas despesas previstas para este ano. Mas, diante da enorme dificuldade dos técnicos de encontrar gordura no Orçamento, a presidente Dilma Rousseff decidiu que será necessário aumentar impostos.

A ordem no governo é perseguir, a todo o custo, a meta de poupar o equivalente a 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) para o pagamento dos juros da dívida pública. Este é o cerne do "pacto pela responsabilidade fiscal", o primeiro dos cinco compromissos públicos anunciados por Dilma na semana passada como resposta às manifestações de rua que tomaram o País em junho.

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Em busca de despesas para cortar e de receitas para engordar os cofres públicos, o governo federal deve deixar em segundo plano uma das promessas do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de melhora no modelo de negócios das empresas: a simplificação e a unificação do PIS e da Cofins. Os dois são, neste momento, o alvo preferencial dos técnicos nos estudos sobre quais tributos podem ser elevados para aumentar a arrecadação. A decisão é delicada, uma vez que o governo passou dois anos e meio fazendo justamente o contrário.

Onde cortar

Pressionada a dar um choque de credibilidade para a política fiscal, a equipe econômica enfrenta dificuldades para fechar o corte adicional de despesas do Orçamento. Algumas propostas já foram levadas pelos técnicos a Mantega, mas o espaço fiscal para fechar as contas é bastante reduzido.

Segundo fontes, o novo contingenciamento terá que ser maior do que R$ 15 bilhões, mas o problema agora é achar a equação adequada. A avaliação que ganha força é de que um valor menor do que R$ 15 bilhões não resolverá o problema da credibilidade. "Temos um abacaxi para descascar", admitiu um técnico do Ministério da Fazenda.

O governo deve bloquear emendas dos parlamentares, diminuir gastos com pessoal e restringir ainda mais as despesas com passagens aéreas e outros gastos de custeio dos ministérios, autarquias e demais órgãos federais. Desta forma, economistas do governo avaliam ser possível bloquear entre R$ 4 bilhões e R$ 5 bilhões do Orçamento. Existem cerca de R$ 7 bilhões em emendas de parlamentares ainda à disposição. Este é o volume que restou após o primeiro corte, anunciado no fim de maio pelo governo federal, de R$ 28 bilhões.

Há espaço também para reduzir as previsões de despesas de pessoal, gastos com seguro-desemprego e subsídios. A atual reprogramação já tirou R$ 2 bilhões do funcionalismo e o governo pode tirar ainda mais, pois a presidente Dilma Rousseff tem sido firme nessa área.

Arrecadação

Do lado da arrecadação, o governo deve ainda subir as previsões de receitas previdenciárias, como fez no ano passado. O cenário mais otimista, na avaliação da área técnica, é o de um crescimento real das receitas de 4%, ante a estimativa anterior entre 3% e 3,5%. Este desempenho pode ser ainda maior, caso o governo efetivamente eleve a tributação sobre alguns setores.

O projeto que cria um regime especial de tributação para o setor de transporte coletivo rodoviário urbano, aprovado nesta terça-feira, 02, no Senado, deve receber o sinal verde de Dilma. Conforme análises preliminares, os técnicos avaliam que as passagens podem ficar cerca de 10% mais baratas, em média. No entanto, como a renúncia fiscal é relevante, o regime só deve entrar em vigor em 2014, segundo apurou o jornal O Estado de S.Paulo.

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dyogo Oliveira, deu pistas ao deixar uma audiência no Congresso: "Qualquer aumento de renúncia, neste momento, é uma dificuldade para o governo poder enquadrar dentro do esforço fiscal que estamos fazendo. Vamos avaliar com mais cuidado, mas eu vejo dificuldades". (Colaborou Laís Alegretti). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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