Insegurança, medo, dificuldade em enxergar e aceitar as conquistas e pressão para ser bem-sucedido são sintomas da 'Síndrome do Impostor'. Identificada em 1978 pelas psicólogas norte-americanas Pauline Clance e Suzanne Imes, a condição reflete tanto no âmbito profissional quanto no afetivo.
Essa insegurança, atrelada à ansiedade, fez Almeida*, de 33 anos, evitar a participação em algumas seleções de empregos. "Muitas vezes, isso me faz duvidar do meu valor, o que me leva a duvidar de todo mundo ao meu redor. Quando alguém me elogia, eu não acredito", relata. Ele explica que tenta afastar esse sentimento e enxergar as qualidades, mas só reconhece as falhas.
##RECOMENDA##"Se alguém chega e me diz que passei em alguma seleção, me pergunto logo: mas eu só fiz aquilo, não foi nada demais! Porque eu sei que poderia ter feito muito mais e sei quem faz e fez muito mais que eu", explica.
Alerta aos sintomas
A 'Síndrome do Impostor' não se manifesta da mesma forma para todos, existem sinais ou sintomas que podem ajudar a identificar o problema. Para a psicóloga Nathália Moura, ter dificuldade em reconhecer o próprio esforço diante das conquista é uma alerta para os profissionais. "O mercado de trabalho, muitas vezes, apresenta-se hostil e as pessoas tendem a se sentirem pressionadas a dar o seu melhor. Por mais que elas possuam um bom currículo e sejam qualificadas, algo os leva a crer que são uma farsa e gera uma autossabotagem", salienta.
A especialista ainda aponta que ansiedade, procrastinação, que é o adiamento da execução de tarefas, e perfeccionismo em excesso são outros indicativos. "Pessoas com esta condição temem o fracasso e acham que sempre têm que mostrar o seu melhor, porque se sentem ameaçadas por acharem que o colega é mais inteligente ou capaz. Mesmo diante de uma afirmativa ou elogio, elas não conseguem aceitar e se exigem cada vez mais”.
Nathália salienta que muitas pessoas não se identificam como alguém com 'Síndrome do Impostor' e, por isso, convivem com certos medos e acabam naturalizando a sua condição. "O termo síndrome afasta um pouco as pessoas, porque parece algo pejorativo e incomum", diz.
A consultora em Gestão de Recursos Humanos e Liderança, Carolina Holanda, explica que todo sujeito vive em conflito entre o que "quer fazer" e o "que pode fazer". Dessa forma, a insegurança pode aparecer em certos momentos. “O profissional deve refletir sobre suas experiências, sem cobrança, e ser transparente, ou seja, não criar personagens ou situações as quais nunca vivenciou”, explica.
Ela observa que ações simples podem amenizar a tensão. “Em situações, como uma seleção de emprego, o candidato deve treinar em casa. Não é um jogo de adivinhação, mas estar preparado para isso é necessário. Escreva o que gostaria de falar e relembre as suas experiências”.
Para Moura, o primeiro passo para trabalhar e afastar a síndrome é reconhecer e aceitar os defeitos, falhas e respeitar o limite. "A aceitação é a principal premissa para as pessoas nesta condição. Não apenas reconhecer o lado negativo, mas ressaltar as boas características. Além disso, é importante, caso seja do desejo da pessoa, procurar um psicólogo para juntos traçarem o melhor tratamento, através de terapia, e expor as dificuldades", pontua.
*Nome fictício para preservar a identidade
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