Quem compareceu aos shows previstos para esta sexta-feira (18), no Mercado Eufrásio Barbosa, pode dizer, sem sombra de dúvidas, que se divertiu. Porém, quem não deve ter se divertido muito foram as bandas que também estavam previstas para tocar, fora a estrela e atração mais esperada da noite, a cantora paulista Céu, e a veterana Orquestra Contemporânea de Olinda, com seu público já cativo.
Explico: o evento atrasou cerca de três horas para começar e as bandas “secundárias” previstas, a Tagore e A Praça, não tiveram tempo nem de passar o som – uma falta de respeito, considerando que era o evento de estreia da produtora Decooltura. Controvérsias à parte, por volta das 0h, a Orquestra subiu ao palco do mercado e mostrou todos os ingredientes que a fazem ser um sucesso de público. Mesmo que soe redundante – é uma orquestra, e é contemporânea.
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A energia dos frontmans Maciel Salú, Tiné e Gilsinho, os vocais melódicos e as dançantes notas executadas pelos instrumentos de sopro caracterizam a Orquestra como uma banda que não nega sua identidade olindense, acima de qualquer “modinha” que o estilo “Original Olinda Style” possa ter. Músicas do disco que está para sair, como “Janela”, “Do bem” e “Som da cidade” animaram tanto quanto os hits “Canto da Sereia” e “Ladeira”. O público ainda vibrou com “Ciranda de Maluco”, de Otto, e quando voltaram para fazer o bis: “Quem não dançar é a mulher do padre”, disse o percussionista Gilsinho, entre passos de frevo e de maracatu.
Depois foi a vez da delicadeza e sensualidade “despretensiosa” da cantora Céu. O show foi bastante equilibrado na escolha das músicas entre “Vagarosa”, disco lançado em 2008, e seu primeiro trabalho, “Céu”, de 2005. “Antecipei minha volta de São Paulo para ver este show. Desde que escutei o myspace dela, viciei”, conta a enfermeira Rebeka Gomes, de 23 anos, que é natural de Arcoverde e curte vocais femininos como Marisa Monte, Maria Rita, Bruna Caran e Ana Clara Horta. “Gosto da não obrigação da cantora em ter que produzir um disco a cada ano, porque quando lançam, é com mais qualidade”, comenta, sobre o terceiro disco da cantora que já está no forno.
Guardadas às devidas proporções, o público de Céu é tão fiel quanto o de Los Hermanos no quesito “devoção” - não importa se a música é agitada ou lenta, se é hit ou aquelas bem “específicas”, todos cantam de fechar os olhos a sequência de músicas. Destaque para a participação do baterista Pupilo, da Nação Zumbi, que tocou com a moça, e do bis com “Concrete Jungle”, de Bob Marley, atendendo à pedidos. “A gente se vê em breve”, disse.
MAIS – A banda Tagore pareceu ser uma ótima surpresa, apesar do pouco público presente em sua apresentação (começaram a tocar às 4h, quando estavam previstos para abrir a noite, às 22h). Com um vocalista/violonista incomum vestido com uma saia igualmente incomum, uns riffs de guitarra da melhor qualidade, um baixo, um baterista e um percussionista, a banda é uma salada mista que funciona pelos quesitos inovação e pela ode ao que tem de melhor na música brasileira e internacional.
Eles vão, com naturalidade, de Raul Seixas à Beatles; tocam Alceu Valença e Tom Zé no mesmo pé de ritmo e é uma banda que com certeza promete no novo cenário musical pernambucano. Ponto positivo também para o setlist do DJ 440 que, nos intervalos das bandas, acertava ao abusar das músicas locais – o público cantou, em coro, Zé Cafofinho e Karina Buhr – e clássicos dançantes e “cabeças”, como Novos Baianos e Chico Buarque.