Com seus diplomas universitários e vistos brasileiros em mãos, refugiados afegãos continuam a chegar ao aeroporto de Guarulhos. Servidores do governo, professores, médicos, advogados, economistas, muitos exerciam cargos de alta importância na região do Afeganistão. Atualmente, 127 deles aguardam acolhimento no Terminal 2, em um corredor em frente a uma agência do Banco do Brasil. Alguns estão no local há mais de dez dias.
Estas pessoas desembarcaram no Aeroporto Internacional de Guarulhos em busca de uma nova oportunidade, um lugar mais tranquilo e longe dos conflitos que assolam sua terra natal. Porém, sem condições e apoio de autoridades locais, acabaram montando um acampamento improvisado.
##RECOMENDA##Ao chegar no Brasil, os refugiados recebem alimentos, água, itens de higiene pessoal e algumas roupas. Também foram vacinados contra sarampo, poliomielite e Covid-19. Mas, agora a luta deles é por abrigo e oportunidades para restabelecerem suas vidas de uma maneira digna.
Muitas destas pessoas formadas e bem estabelecidas deixaram tudo o que tinham em seu país -incluindo bens pessoais, famílias, amigos, histórias e a própria casa - em decorrência da tomada de poder pelo Talibã, que assumiu o controle do país no ano passado.
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DE CABUL PARA GUARULHOS
Há cinco dias no Brasil, o economista Sayed Ahmad Shapoor, de 25 anos, natural de Cabul, também encontrou neste espaço do aeroporto um acampamento provisório. Ahmad deixou mãe, pai, tios, tias e irmãos no Afeganistão. O motivo de sua fuga? Ahmed trabalhava em um projeto social em conjunto com a UN, (Organização das Nações Unidas) que visava a educação privada de alta qualidade para meninas afegãs.
Em suas palavras: “Antes (do Talibã) as coisas eram boas, mas depois que assumiram o controle as gerações mais novas ficaram em risco. O sistema educacional ficou pior, meninas foram proibidas de estudar, qualquer um que trabalhou com a UN ficou em risco, estudantes foram perseguidos, inclusive. Não era mais seguro para mim continuar lá.”
Ahmad conta também que por conta dos problemas financeiros e a falta de trabalho, já não é mais possível permanecer no Afeganistão. "Meu irmão de 18 anos, foi atingido por um bombardeio enquanto estava na sua sala de aula, estudando. Os danos físicos que sofreu foram pequenos, porém, ele ficou devastado psicologicamente, precisando de tratamento até os dias de hoje", relembra ele.
“Brasileiros me parecem educados e gentis. Saímos de lá pois não podíamos concordar com as regras deles, retrocederam nosso país em 100 anos. É improvável pensar que em um ou dois anos as coisas voltem a ser como eram antes deles (Talibã). Me pergunta como estou me sentindo nessa situação? Se você esteve em uma situação de vida ou morte, isso aqui (aponta para o corredor do aeroporto) é ótimo para mim", desabafa Ahmad.
Já no fim da conversa em inglês, Ahmad comentou sobre suas perspectivas para o futuro no Brasil: “Essa situação não é para mim. Eu trabalhei muito duro na minha vida, escola, faculdade, preparação para concursos, trabalhei com a UN, esta situação não é para mim e para os que estão aqui. Todos aqui são pupilos do Afeganistão, muitos são educados, podem trabalhar com qualquer área que possa interessar ao governo brasileiro. E se eu voltaria para o Afeganistão em uma situação melhor? Claro que sim, não há nada melhor do que o espírito de casa", disse emocionado.
O QUE DIZ A PREFEITURA DE GRU
A Prefeitura de Guarulhos, em nota, afirma que a Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social (SDAS) realiza a primeira acolhida das famílias recém-chegadas, garantindo alimentação com café da manhã, almoço e jantar, enquanto elas ainda estão no aeroporto, além de kits de higiene e cobertores.
De acordo com a assessoria de imprensa, a PMG abriu emergencialmente no dia 10 de agosto a Residência Transitória para Migrantes e Refugiados, um local que tem capacidade para abrigar 27 pessoas e que no momento está lotado. Guarulhos já não possui mais vagas disponíveis para recebê-los em casas de acolhida na cidade. Até que sejam abertas novas vagas, os afegãos não podem deixar o aeroporto.
Segundo a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social, já foram investidos R$ 2,8 milhões para criar novas vagas de acolhimento a refugiados até dezembro e que uma casa de passagem está sendo estruturada perto do aeroporto.
A sociedade civil também tem se organizado para ajudar, por meio de doações lideradas por ONGs como Cáritas, Missão Paz e ACNUR, além de auxiliarem os imigrantes a obter documentos junto à Polícia Federal.
De janeiro a setembro de 2022, o Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante atendeu 1.101 afegãos. Apenas em outubro, até o dia 10, foram 142 atendimentos.
De 2020 até 2022, o Governo Brasileiro já emitiu mais de seis mil vistos humanitários para refugiados do Afeganistão. É importante lembrar que os vistos são emitidos pela embaixada Brasileira em Teerã, uma vez que o Brasil não possui embaixada oficial no Afeganistão.
Serviço Embaixada:
Telefones: Telefone: +98 (21) 2680 5295/5298/5310/5314/5318
E-mail: brasemb.teera@itamaraty.gov.br
Ligações do Irã: 0912 148 5200
De fora do Irã: +98 912 148 5200