O Paquistão denunciou, nesta quarta-feira (17), a morte de duas crianças em um bombardeio aéreo do Irã, após ataques semelhantes de Teerã no Iraque e Síria contra o que definiu como "grupos terroristas anti-iranianos".
Islamad afirmou em um comunicado que o ataque iraniano na noite de terça-feira, perto da fronteira entre os dois países, era totalmente "inaceitável e pode ter sérias consequências".
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O bombardeio "provocou a morte de dois meninos inocentes e feriu três meninas", acrescentou o comunicado do Ministério paquistanês das Relações Exteriores.
O Paquistão convocou o seu embaixador em Teerã e impediu o retorno do representante diplomático iraniano à Islamabad, anunciou posteriormente o ministério.
Nesta quarta-feira, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amir Abdollahian, afirmou que seu país efetuou o bombardeio com o objetivo de atacar o "grupo terrorista iraniano" Jaish al Adl.
"Nenhum dos cidadãos do país amigo e irmão do Paquistão foi alvo de mísseis e drones iranianos", disse ele, após o governo paquistanês denunciar a morte de duas crianças. "O chamado grupo Jaish al Adl, que é um grupo terrorista iraniano, foi o alvo", acrescentou à margem do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.
A agência de notícias iraniana Mehrnews declarou que "a resposta com mísseis e drones" foi dirigida contra os quarteis deste grupo jihadista no Paquistão e afirmou que foi "um passo decisivo a mais tomado pelo Irã em resposta à agressão contra a segurança de nosso país".
O Jaish al Adl, formado em 2012, é classificado pelos Estados Unidos e pelo Irã como um grupo terrorista e realizou diversos ataques neste país nos últimos anos. Em dezembro, assumiu a responsabilidade por uma ofensiva em um quartel da polícia em Rask, que matou pelo menos 11 policiais iranianos.
Segundo Washington, o grupo "ataca principalmente o pessoal de segurança iraniano", além de realizar assassinatos, sequestros e ataques suicidas contra autoridades governamentais e civis.
Na segunda-feira, o Irã havia lançado mísseis contra um "quartel de espionagem" e alvos "terroristas" no Curdistão iraquiano e na Síria.
Estas ações se somam às múltiplas crises abertas no Oriente Médio, como a guerra entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas na Faixa de Gaza e os ataques dos rebeldes huthis no Iêmen, no Mar Vermelho, respondidos com bombardeios pelos EUA e seus aliados.
- Relação delicada -
O ministro iraniano da Defesa, Mohammad Reza Ashtian, afirmou que seu país "não limitará" suas ações de segurança.
Já a diplomacia do Paquistão convocou o representante do Irã em Islamabad para protestar contra "uma violência injustificada de seu espaço aéreo".
O vice-presidente iraniano para assuntos parlamentares, Mohammad Hosseini, garantiu que o seu país alertou o Paquistão "que devem impedir a entrada no Irã de pessoas que matam um grande número de pessoas" e que "era normal que houvesse uma reação da República Islâmica".
A China, aliada de Islamabad e Teerã, pediu a ambos países que "ajam com moderação, evitem ações que levem a uma escalada de tensões e trabalhem juntos para manter a paz e a estabilidade", disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning.
Irã e Paquistão se acusam com frequência de apoiar militantes para lançar ataques do outro lado da fronteira, mas é pouco comum que as forças oficiais das duas partes se enfrentem.
Nas redes sociais, contas de usuários paquistaneses garantem que as explosões ocorreram na província do Baluchistão, onde ambos compartilham uma fronteira escassamente povoada de quase mil quilômetros de extensão.
Michael Kugelman, diretor do Instituto do Sul da Ásia do Wilson Center, em Washington, alertou para a gravidade do ataque.
"No passado, o Irã realizou ataques contra combatentes no Paquistão, mas não lembro de nada nesta escala. Isto mergulha a relação Paquistão-Irã, uma relação delicada mesmo nos melhores tempos, em uma grave crise", escreveu ele na rede social X.