Tópicos | urgência oftalmológica

Dezenas de mulheres e homens estão indo parar na emergência após terem utilizado pomadas modeladoras para tranças nas prévias carnavalescas que aconteceram neste fim de semana, na Região Metropolitana do Recife. Mais de 100 pessoas foram parar na emergência. 

De acordo com o g1, pelo menos 68 foram atendidas na Fundação Altino Ventura, a única emergência oftalmológica pública do Recife, entre o domingo (5) e o início da tarde desta segunda-feira (6). A queixa dos pacientes é irritação nos olhos após o uso de pomadas modeladoras durante as prévias. 

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A estudante de enfermagem de 19 anos, Thais Maely, foi uma das pessoas que usou a pomada modeladora para trança e teve a retina do olho arranhada pela ação do produto químico. A marca utilizada pela jovem foi a Negros Trançados, que não consta na lista da Anvisa sobre as recomendações. 

Ao LeiaJá, a Rainha da Bateria Auê, Thais, fez o penteado para uma apresentação em Olinda, ainda no sábado (4). “Começou a chover muito e eu senti uma irritação no olho. Na hora, percebi que seria a pomada, porque era a única coisa possível que estaria escorrendo no meu olho. Como eu estava com aplique no cabelo, soltei ele todo e levantei a cabeça para cima, para que a chuva pudesse bater e limpar, o que não deixou piorar a situação”, disse. 

A estudante contou ter sentido ardência só na hora da chuva, quando o produto caiu no olho, e ficou com a visão um pouco turva, mas melhorou depois. “De Olinda, eu fui para outro bloco e estava tranquilo. O meu olho só estava vermelho, mas eu não estava sentindo tanta dor, até dormir. Quando acordei, já não enxergava mais nada e a minha visão estava totalmente turva”, afirmou. 

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Thais disse ter ficado desesperada, com medo de perder a visão. “Eu fui dormir só com a irritação nos olhos e acordei sem enxergar nada. Não conseguia nem visualizar a tela do celular para ligar para alguém, e eu estava sozinha em casa. Consegui falar com a minha avó por ser o contato de emergência do meu celular. Já liguei pra ela chorando e desesperada”. 

Quando a avó chegou, já no domingo (5), ela lavou os olhos com soro fisiológico e correu para o hospital. Mesmo com plano de saúde, Maely observou que não teve nenhuma assistência. “O hospital que o plano de saúde mandou a gente ir não tinha emergência oftalmológica e lá me mandaram ir no SUS. Não fui porque estava lotado com casos similares e optei por ir num hospital particular, o Hope. Chegando lá, tinham 12 pessoas na minha frente e eu tive que pagar R$ 400 de consulta, porque estávamos desesperadas, tanto eu quanto a minha avó. A gente não sabia mais o que fazer. Eu gritava e chorava de dor, sem enxergar nada. E todas as meninas que chegavam lá estavam na mesma situação ou pior”. Os sintomas dela foram: tontura, dor de cabeça, ânsia de vômito e a visão totalmente turva. 

Segundo a jovem, havia 12 pessoas na frente com os mesmos sintomas, e a rede hospitalar estava com uma médica específica para atender estes casos. “Ela [a médica] falou que chegava muita gente com isso desde a madrugada. Ela foi bem clara e disse que a gente estava com produto químico no olho e que, quanto mais tempo passava, a gente tinha o risco de ter uma lesão mais séria. No meu caso, a minha retina arranhou. Além do mais, estavam colocando analgésico no nosso olho assim que a gente chegava, porque não dava pra abrir nem para examinar. Voltei ao hospital depois de 24 horas para retirar o curativo que a médica colocou no olho que estava mais arranhado, porque não pode colocar nos dois”, detalhou. 

A médica orientou que a paciente não fique na claridade, evite abrir os olhos, não pode mexer no celular e “sol nem pensar”, e passou um tratamento de oito dias. “Quando a gente compra a pomada, eles só pedem que a gente evite tomar banho de piscina e molhar o cabelo, mas não avisam que isso pode acontecer e a gente pode ter uma lesão tão séria assim no olho”, apontou a jovem. 

Especialistas reforçam que, para os penteados, devem ser utilizados gel sem álcool e gelatina sem álcool. A Anvisa proibiu, recentemente, algumas pomadas modeladoras de cabelo causadoras de efeitos adversos graves, como queimaduras nos olhos e cegueira. Dezenas de produtos foram alvos de ações da agência. 

As pomadas modeladoras têm sido utilizadas para penteados, principalmente em tranças, e são mais usadas em cabelos crespos e cacheados para trazer definição. Os produtos costumam fazer sucesso por deixar o cabelo mais consistente e fácil de modelar. Porém, em contato com a água, ele “derrete” e, ao tocar nos olhos, causa o problema. 

Anvisa

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) cancelou a regularização que autorizava a fabricação de sete pomadas modeladoras para cabelos por não estarem cumprindo as normas sanitárias previstas, segundo a Agência. A resolução foi publicada no Diário Oficial da União do dia 16 de janeiro. 

A marcas que foram objeto de medidas restritivas na comercialização e do uso, assim como a fabricação, dada a regulamentação, foram as seguintes marcas: Pomada Braids Hair, Pomada Cassu Braids Cassulinha Cabelos, Pomada Braids Tranças Poderosas Esponja Magic, Rosa Hair - Pomada Modeladora - Mega Fixação 150G, Pomada Modeladora Master Fix Black Ser Mulher, Pomada Black - Essenza Hair e Pomada Modeladora para Tranças Boxbraids (Fixa Liss). Todos têm a função de modular os cabelos.

A orientação da Anvisa é que os produtos fabricados especificamente pela Microfarma Indústria e Comércio Ltda, devem entrar em contato com a empresa para checar a forma de devolução, já que o fabricante deve recolher todos os produtos disponibilizados no mercado. Determina, ainda, que os estabelecimentos que tiverem produto para uso dos clientes devem suspender a utilização “imediatamente”.

A Agência já havia divulgado um alerta de prevenção à pomada Cassu Braids, no início de janeiro deste ano, depois de relatos de que o produto estaria causando danos aos olhos como irritação ocular, pálpebras inchadas, dor nos olhos e dificuldades para enxergar o cabelo. 

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