Tópicos | Ymanitu Silva

Com alívio e tranquilidade, os tenistas brasileiros Daniel Rodrigues, Leandro Pena e Ymanitu Silva chegaram ao Brasil, na manhã desta terça-feira, após horas de sustos e medo em Israel. Os atletas de tênis em cadeira de rodas passaram mais de 30 horas no aeroporto de Tel-Aviv antes de conseguirem um voo para deixar o país, que está em guerra contra terroristas desde sábado.

O trio desembarcou no aeroporto de Guarulhos após uma "maratona" de voos nos últimos dias, desde sua ida para Israel, no próprio sábado. Eles viajaram para disputar o torneio Israel Open, mas precisaram deixar o país às pressas após os ataques terroristas do grupo Hamas que deixaram centenas de mortos no sul de Israel.

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Leandro, Daniel e Ymanitu, trio acostumado a disputar os grandes torneios de tênis do circuito, precisaram passar 33 horas no aeroporto de Tel-Aviv à espera de um voo para deixar Israel. Eles contaram com o apoio da Confederação Brasileira de Tênis (CBT), do Comitê Paralímpico do Brasil e do governo federal para pegar um avião rumo a Bangcoc, na Tailândia. De lá, embarcaram em outro voo, rumo a Doha, no Catar. E, do país do Oriente Médio, entraram em outra aeronave em direção ao Brasil.

"Depois de 33 horas esperando aqui no aeroporto, estamos dentro do avião para embarcar para Bangcoc, na Tailândia. Vamos para casa, chega", disse Daniel Rodrigues, ao lado de Ymanitu e Leandro.

Neste intervalo, levaram sustos e quase não dormiram. O primeiro aconteceu quando chegaram ao hotel onde ficariam hospedados, poucas horas antes do início dos ataques. "Caiu uma bomba aqui próximo do hotel. Só que a gente não se ligou. Não fazíamos ideia do que era, do que estava acontecendo. Nem a sirene, nem o estrondo. A gente não ligou o estrondo à bomba", contou Pena em contato com o Estadão.

"Eu acredito que a bomba caiu em Tel-Aviv, porque a gente estava num hotel bem ali no centro quando a gente ouviu o estrondo da bomba, muito alto. Mesmo com as janelas fechadas e à prova de som, chegaram a tremer. Eu estava só no quarto na hora", lembrou o tenista. O torneio acabou sendo cancelado.

Com o susto, entraram em contato com a CBT para pedir ajuda para o retorno. E aí veio nova frustração. Eles compraram passagem para a Turquia, mas o voo foi cancelado em meio à lotação do aeroporto, que começou a aglutinar centenas de pessoas que buscaram deixar Israel às pressas.

O trio, então, passou horas para buscar orientação e informações para encontrar novo voo. Acabaram passando a noite de sábado para domingo em claro, sem dormir e sem um local adequado para descansar. Por cerca de 15 minutos, chegaram a ser levados para um bunker dentro do próprio aeroporto, por medida de segurança. No domingo à noite, pelo horário local, embarcaram para a Tailândia.

A "maratona" de voos acabou na manhã desta terça, após um périplo que começou na quinta-feira à noite, pelo horário de Brasília. Foi quando o trio embarcou rumo a Israel. Foram 35 horas de viagem entre Brasil e Tel-Aviv.

QUEM SÃO OS TENISTAS

Ymanitu tem 40 anos e ficou tetraplégico depois de sofrer um acidente de carro em 2007, mas recuperou o movimento das mãos. Durante a reabilitação, conheceu o tênis em cadeira de rodas, se profissionalizou e agora acumula uma extensa lista de conquistas. Atual 10º colocado do ranking da Federação Internacional de Tênis (ITF, na sigla em inglês), tem 56 títulos e é o único brasileiro a disputar todos os Grand Slams no tênis em cadeiras de roda. Soma dois vice-campeonatos de duplas em Roland Garros (2019) e no Aberto da Austrália (2023).

Leandro Pena, que nasceu sem as duas pernas, é o 18º colocado do ranking da ITF e tem 20 títulos no currículo. Tanto ele quanto Ymanitu disputam a categoria quad, para tenistas com restrições em três ou mais extremidades do corpo. Já Daniel Rodrigues compete na categoria open, para atletas diagnosticados obrigatoriamente com alguma deficiência nos membros inferiores. Ele nasceu com má-formação na perna direita, 20 centímetros menor do que a esquerda), e decidiu amputar a perna e usar prótese. É o número 20 do ranking e tem 74 títulos.

A Copa do Mundo de tênis em cadeira de rodas, realizada em Alghero (Itália), marcou o início do ciclo da Paralimpíada de Paris (França) para Ymanitu Silva. Número oito do mundo da classe quad (atletas com deficiências em três ou mais extremidades do corpo), o catarinense de 38 anos tem como objetivo, no caminho até os Jogos na capital francesa, participar das quatro principais competições do circuito mundial, os Grand Slams, que são os mesmos do tênis convencional: Aberto da Austrália, Roland Garros, Wimbledon e US Open.

“A primeira meta até Paris é fazer pelo menos um ano jogando os quatro Grand Slams. Para isso, tenho que estar entre os sete do mundo. Permanecendo em oitavo, tem a possibilidade de receber convite. Subindo para sétimo, entro direto nos torneios”, explicou Ymanitu à Agência Brasil.

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Em 2019, o brasileiro fez história ao ser o primeiro tenista em cadeira de rodas do país a participar de um Grand Slam. Na ocasião, disputou Roland Garros como convidado. A estreia na chave de simples foi contra o australiano Dylan Alcott, número um do mundo, que o derrotou por 2 sets a 0 (1/6 e 2/6). Na disputa pelo terceiro lugar, Ymanitu perdeu por 2 sets a 1 para o japonês Koju Sugeno, de virada (6/3, 4/6 e 2/6). Nas duplas, o catarinense e Sugeno foram superados na final por Alcott e o norte-americano David Wagner por 2 sets a 0 (duplo 6/3).

O atual posto no ranking da Federação Internacional de Tênis (ITF, na sigla em inglês) na classe quad, atingido em setembro, credencia Ymanitu a disputar o Masters, evento que reunirá os oito melhores tenistas do mundo. O torneio será realizado em Orlando (Estados Unidos) entre 31 de outubro e 7 de novembro. É a segunda vez que o brasileiro disputará a competição. A primeira foi há quatro anos, quando também era o número oito da categoria. Ele não foi além da primeira fase, superado por David Wagner e pelo sul-africano Lucas Sithole.

“Para mim, é muito importante estar entre os oito do mundo, mostra que o trabalho diário é colocado em prática. Os resultados vêm a longo prazo no tênis. Será um tiro curto [até Paris], um ciclo com menos de três anos para atingir o ápice lá. Seguirei treinando e só devo parar nas datas festivas do fim do ano. Minha equipe aproveitou a Paralimpíada de Tóquio [Japão] e o Mundial para ver o nível dos adversários e tirar um embasamento do que é preciso para chegar bem em Paris”, destacou o tenista, que treina na ADK Tennis, em Itajaí (SC).

“Nos últimos anos, chegaram novos jogadores na categoria, como os holandeses [Sam Schröder e Niels Vink, medalhistas de prata e bronze em Tóquio]. Isso é importante, pois torna a concorrência mais forte. A quad é uma classe onde os jogadores têm ao menos três limitações [físico-motoras]. Atletas com menor grau de deficiência têm aparecido e deixado os jogos mais difíceis”, completou.

A Paralimpíada na capital francesa poderá ser a terceira de Ymanitu. O catarinense, que é natural de Tijucas (SC), disputou os Jogos do Rio de Janeiro tendo menos de dois anos de experiência internacional. Na ocasião, foi superado por Lucas Sithole na primeira rodada. Neste ano, em Tóquio, teve David Wagner como adversário na estreia. O brasileiro chegou a vencer o primeiro set, mas sofreu a virada do rival, ex-número um do mundo e atualmente na quarta posição do ranking.

“Foi a Paralimpíada na qual estava melhor preparado, mesmo sabendo que o Wagner tem 15 anos de estrada. Consegui abrir um set a zero de maneira rápida [6/3]. Aí ele usou aquele tempo de banheiro, cerca de 20 a 25 minutos, para dar uma esfriada no jogo. Continuei focado, mas quando ele voltou foi um recomeço. O jogo foi parelho, mas ele abriu vantagem [na segunda parcial] e também começou melhor no terceiro set”, analisou Ymanitu.

“Fiquei frustrado pela derrota, claro, pela expectativa e todo o trabalho, mas feliz com o rendimento. Tirei um set de um top cinco do mundo, que é uma coisa que os incomoda bastante. Tanto que ele parou o jogo [risos]. No tênis, a gente tem mais derrotas do que vitórias, então, cada derrota é um aprendizado para retornarmos mais fortes”, concluiu.

O Brasil terá um reforço inédito nesta edição de Roland Garros. Trata-se de Ymanitu Silva, que se tornará o primeiro tenista brasileiro a disputar um Grand Slam em cadeira de rodas. Entre os melhores do mundo nos últimos anos, o catarinense de 36 anos vai realizar um sonho de infância, adiado pelas dificuldades financeiras de se tornar um profissional e por um acidente de carro quase fatal.

Natural de Tijucas, a 45km da capital Florianópolis, do amigo Gustavo Kuerten, Ymanitu vai estrear em Roland Garros na segunda semana do torneio francês, quando serão disputadas as chaves dos cadeirantes. O brasileiro disputa a chave do "quad", para tenistas com limitações nos membros superiores e inferiores - há outra categoria para cadeirantes, chamada "open", com atletas com limitações somente nas pernas.

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"Era um sonho que eu tinha desde que jogava em pé. Essa chance em Grand Slam era uma batalha que vínhamos enfrentando. Faz dois anos que estou entre os 10 melhores do mundo, que sou o número oito. Fui o quinto colocado nos Jogos Paralímpicos do Rio-2016. Sempre trabalhei para isso", disse o tenista, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo. Ymanitu obteve o convite em Roland Garros graças a uma parceria da Confederação Brasileira de Tênis (CBT) e a Federação Francesa de Tênis (FFT, na sigla em francês).

Em Paris, o atleta paralímpico espera obter maior visibilidade para esta modalidade. "Tem um pouco de preconceito ainda. Não temos tanta visibilidade quanto os tenistas andantes. Temos a mesma rotina de treinos, a mesma dedicação. Mas não a visibilidade, principalmente em relação aos patrocínios", afirmou o catarinense. "No circuito, já adquirimos o respeito dos demais. Somos vistos como atletas profissionais e de bom ranking".

A falta de visibilidade faz os tenistas de cadeira de rodas ainda dependerem de outras fontes de renda para sobreviverem no circuito. Para disputar uma média de 18 torneios por ano e manter sua rotina de treinos, Ymanitu trabalha na área de marketing de uma grande empresa da região. Ao mesmo faz faculdade em gestão ambiental, à distância, pensando no seu futuro. Depende ainda de um patrocinador e de ajuda institucional da CBT, do Bolsa-Atleta, das Loterias Caixa e do Fundesporte, em nível estadual.

Assim, o atleta divide sua vida entre treinos, viagens para competição, trabalho in loco e à distância, faculdade e família - está noivo. "É uma vida muito corrida. Com o meu salário e os patrocínios consigo sobreviver e ter uma vida tranquila até. Mas precisaria de mais apoio para disputar mais torneios do circuito. Para um atleta do meu nível, preciso competir mais".

Ymanitu entrou no tênis ainda na infância. Chegou a disputar torneios juvenis em nível nacional e até sonhava com o profissional. Porém, a família não tinha recursos para sustentar o seu sonho. O retorno ao tênis acabou acontecendo em situação improvável. Aos 24 anos, sofreu grave acidente ao dormir no volante do seu carro. Ficou tetraplégico.

O esporte, que parecia então ainda mais distante, ressurgiu ao iniciar sua reabilitação na Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, em Brasília. Na mesma época, estava em tratamento no local a tenista cadeirante Rejane Cândida, que se recuperava de lesão no ombro. Ela integra a seleção até hoje e serviu de estímulo para o retorno de Ymanitu ao esporte.

"Apenas me disseram: senta na cadeira e joga. Quando eu sentei e vi que dava para jogar, voltei para aquele período da infância, quando era um garotinho ainda. E daí em diante voltei a jogar e competir em alto nível", contou o atleta.

Desde então, Ymanitu vem aperfeiçoando sua técnica na cadeira de rodas todos os dias. Ele treina em Florianópolis, nas quadras da Federação Catarinense (que hoje divide parte de sua estrutura com a Confederação Brasileira), e no clube Itamirim, em Itajaí, também no litoral catarinense.

Os resultados animaram o atleta paraolímpico. Visando as grandes competições, ele comprou nova cadeira para competições em fevereiro deste ano: um investimento de R$ 30 mil, em Londres. "É o preço do meu carro. Mas tudo isso é necessário para melhorar o meu rendimento em quadra".

A nova cadeira, já testada no Mundial de Tênis de Cadeira de Rodas, disputado em Tel-Aviv, em Israel, na semana passada, passará por seu maior desafio no saibro de Paris. "É o Grand Slam mais charmoso. E ainda mais com todo aquele espírito que vi o Guga disputando. Isso me deixa mais feliz ainda", afirmou Ymanitu, amigo pessoal de Gustavo Kuerten.

Com o apoio moral do tricampeão de Roland Garros, o cadeirante espera também confirmar a fase vivida pelos atletas da modalidade no País. "Estamos numa crescente. A cada ano aumenta o número de participantes nas competições nacionais. Diante dos outros países, já somos vistos como potência mundial. Canadenses e americanos sempre nos perguntam como conseguimos produzir tantos jogadores. Eles têm toda a estrutura, mas não tem boa quantidade de atletas em seus países".

O tênis brasileiro conta atualmente com sete atletas no Top 30 dos rankings de cadeira de rodas. Ymanitu é o mais bem colocado, com o oitavo posto. Daniel Rodrigues é o atual 22.º na modalidade open, mas já foi o 15.º. No feminino, também no open, Natalia Mayara é a 19.ª e Meirycoll Duval, a 29.ª. No juvenil, João Lucas Takaki é o número três do mundo, enquanto que Breno Salles é o 17.º e Jane Lanai, a 13.ª.

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