Junho de 1992, o Brasil era pela primeira vez sede de uma grande conferência internacional. Palco também de uma das maiores turbulências políticas até então já vistas na história republicana. Foi com uma entrevista a Veja que, em Maio daquele ano, Pedro Collor de Mello denunciou o esquema PC Farias, levando, meses depois, ao impeachment do irmão Fernando Collor de Mello.
Ao fim daquele ano assumia a presidência do país o mineiro Itamar Franco, que apresentou, na função de Ministro das Relações Exteriores, o distinto sociólogo e futuro idealizador do Plano Real, Fernando Henrique Cardoso. Um divisor de águas na história econômica do país, um mais do mesmo na narrativa política daquela recém-nata democracia.
Nas ruas, as ombreiras. A moda dos cabelos volumosos dispensavam as chapinhas. Nos esportes, a dupla de atacantes-congressistas, Bebeto e Romário, iniciavam o caminho em busca do tetracampeonato. Algumas coisas pareciam fazer mais sentido.
A luta contra a hiperinflação que ultrapassava 1000% ao ano e dizimava o poder de compra do consumidor, tornou expressões como “overnight” e “remarcação de preços” comuns ao dia-a-dia do brasileiro.
Na Europa, um novo e aprofundado conceito de integração regional era selado com a assinatura do Tratado de Maastricht. De “Comunidade”, a Europa passava a “União”. O Euro, que vinte anos mais tarde enfrentaria uma crise capaz de colocar em cheque a própria existência, teve as suas bases estabelecidas e foi celebrado como uma experiência inédita na história econômica dos povos.
A ECO92 chegava ao país com a missão de desmistificar o conflito aparente entre desenvolvimento e proteção ambiental. A mensagem parece ter sido captada, ou pelo menos a importância dela. É o que sugere as mais de 30 empresas e entidades que, em 2012, foram patrocinadoras ou apoiadoras oficiais do evento no Rio de Janeiro. Meio-ambiente, sustentabilidade e responsabilidade social ganharam, dentro das corporações, o mesmo espaço e importância que as áreas de marketing, comercial ou financeira.
Na Rio+20, assim como na Rio92, pretendeu-se pensar o futuro. Pelas enormes surpresas que as últimas duas décadas apresentaram, não é difícil sugerir que esta seria uma tarefa um tanto ambiciosa para um encontro de pouco mais de dez dias. Apesar dos desentendimentos quanto a conceitos, o ganho em importância da PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) dentro da comunidade internacional foi incalculável. É possível estarmos diante da criação de um tipo de OMC do Meio Ambiente. Uma agência com autoridade para a governança ambiental global.
Os desafios para uma economia sustentável são cada vez maiores. Nos últimos vinte anos a população na terra pulou de 5,5 bilhões para 7 bilhões de pessoas. Em 2032 deverão ser 8,5 bilhões. A China passou de nona, a segunda economia internacional. Já os Estado Unidos repousa estático sobre a alcunha de principal poluidor per capita a nível mundial.
A Rio+20 esteve sub-representada pelas grandes potências mundiais. Barack Obama e Angela Merkel foram sem dúvida as ausências mais sentidas. Enquanto em 1992, o PIB mundial dos Estados representados ultrapassou os 70%, em 2012, ficou na casa dos 40%. As discussões foram fracas em metas e abundante em intenções. “Pouca ambição”, segundo a definição do próprio secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon
O que esperar para os próximos vinte anos? Pode ser Neymar o novo prefeito da baixada santista ou quem sabe as ombreiras voltem a ser moda. Talvez seja a vez dos países do Mercosul partilharem de uma única moeda. A única certeza é que, em 2032, o tempo será um recurso ainda mais escasso.