Tópicos | 60ª fase

A Polícia Federal prendeu nesta terça-feira, 19, em São Paulo, pela terceira vez, o engenheiro Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da Dersa, estatal paulista responsável por obras viárias. Já apontado como arrecadador de campanhas do PSDB, ele foi incluído, agora, no rol de operadores financeiros da Odebrecht pela 60.ª fase da Operação Lava Jato.

Segundo as investigações, após deixar a Dersa, em 2010, Vieira de Souza providenciou junto com doleiros R$ 100 milhões em espécie para a empreiteira pagar propina e caixa 2 de campanha a políticos em todo o País, e mantinha cerca de R$ 132 milhões de origem ilícita em quatro contas na Suíça da offshore panamenha Groupe Nantes, controlada por ele.

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A PF também fez buscas em imóveis do ex-senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), que foi ministro de Relações Exteriores (governo Temer). Ele é suspeito de ter recebido, em 2007, um cartão de crédito em nome da Groupe Nantes. Nesta terça-feira, 19, o tucano pediu demissão do cargo de presidente da agência paulista Investe São Paulo, do governo João Doria (PSDB).

Deflagrada pela força-tarefa da Lava Jato do Paraná, a operação desta terça leva a principal acusação envolvendo o suposto operador do PSDB em São Paulo para a 13ª. Vara Criminal Federal de Curitiba, onde tramitam todos os casos relacionados à Petrobrás e ao Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht - como era chamado o "departamento de propinas" da empreiteira baiana.

Os procuradores do Paraná sustentam que ao integrar o esquema de lavagem de dinheiro da Odebrecht, Vieira de Souza deve agora ser investigado na vara onde atuava o ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sergio Moro. Assim, a ação fica sob a relatoria do ministro Edson Fachin no Supremo Tribunal Federal (STF) e "foge ao alcance", das decisões do ministro Gilmar Mendes, conforme afirmou a juíza Gabriela Hardt, que ordenou a prisão do engenheiro.

No ano passado, Gilmar concedeu dois habeas corpus livrando Vieira de Souza da prisão. "Se isso acontecesse (de novo), seria um caso de exercício arbitrário de poder, fora do Direito", escreveu nesta terça no Twitter o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa de Curitiba.

Réu em duas ações penais da Lava Jato em São Paulo - uma por desvio de R$ 7,7 milhões e outra por fraude e formação de cartel envolvendo as obras do Rodoanel Sul -, o ex-diretor da Dersa estava em recolhimento domiciliar integral e monitoramento por meio de tornozeleira eletrônica por decisão tomada pela Segunda Turma do STF em setembro de 2018.

As investigações que levaram à nova prisão tiveram início a partir de depoimentos de executivos da Odebrecht e de doleiros investigados em fase anteriores da Lava Jato e ganharam força após o Ministério Público da Suíça enviar ao Brasil comprovantes da movimentação financeira das contas da offshore de Vieira de Souza naquele país.

Os documentos mostram que enquanto o engenheiro foi diretor da Dersa, entre 2007 e 2010, a Groupe Nantes recebeu cerca de R$ 2,8 milhões (em valores da época) de offshores ligadas as empreiteiras Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht, todas com contratadas pela Dersa no Rodoanel.

As operações já eram feitas em conjunto com os doleiros Adir Assad e Roberto Tacla Duran, que operavam para a Odebrecht. Após deixar a estatal, em abril de 2010, o engenheiro passou então a atuar com os demais operadores no esquema de lavagem de dinheiro da empreiteira, sempre recebendo uma comissão pelo serviço. A offshore dele fez uma joint venture com uma empresa de Tacla Duran para dar aparente legalidade às transações.

Bunker

Em depoimento ao MPF, Adir Assad contou que Vieira de Souza tinha cerca de R$ 100 milhões guardados em dois imóveis na capital paulista, o dobro da quantia encontrada em setembro de 2017 no 'bunker' do ex-ministro Geddel Vieira Lima (Governo Temer), em Salvador. Ele relatou ainda que carregava uma perua com até 15 malas com R$ 1,5 milhão cada na garagem de uma das casas e que o engenheiro colocava notas de dinheiro ao sol "para que elas não mofassem".

Defesas

As empreiteiras citadas afirmaram nesta terça que colaboram com as investigações. Em nota, a Odebrecht disse que "tem colaborado de forma eficaz com as autoridades em busca do pleno esclarecimento dos fatos". "A Odebrecht já usa as mais recomendadas normas de conformidade em seus processos internos e segue comprometida com uma atuação ética, íntegra e transparente", afirma o comunicado.

A construtora Camargo Corrêa afirmou que "foi a primeira empresa de seu setor a firmar um acordo de leniência e, desde então, vem colaborando continuamente com as autoridades".

A Andrade Gutierrez informou que apoia toda iniciativa de combate à corrupção. "A companhia assumiu esse compromisso público ao pedir desculpas em um manifesto veiculado nos principais jornais do País."

A reportagem fez contato com a assessoria de Paulo Vieira de Souza, mas não obteve resposta até a conclusão desta matéria. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Polícia Federal (PF) cumpriu 12 mandados de busca e apreensão e um de prisão na 60ª fase da Operação Lava Jato, chamada de Ad Infinitum. O ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza foi preso em São Paulo.

De acordo com o delegado da Polícia Federal Alessandro Vieira, Souza deveria seguir para Curitiba (PR) ainda hoje, mas ficou em São Paulo a pedido do Ministério Público porque tem "compromissos judiciais" na capital relativos a outros processos, como uma audiência na manhã desta terça-feira.

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"São pessoas investigadas e que respondem a outros processos criminais. Temos a sensação de que estamos diante de um ciclo interminável de corrupção e lavagem de dinheiro", afirmou o delegado.

De acordo com o procurador da República Roberson Pozzobon, Paulo Vieira participou de lavagem de mais de R$ 100 milhões. A operação envolve a Odebrecht e também investiga os outros supostos operadores do esquema Rodrigo Tacla Duran, Adir Assad e Álvaro Novis.

Nos depoimentos, os operadores disseram que Paulo Vieira tinha um bunker para guardar propinas de mais de R$ 100 milhões e que chegava a colocar notas para "tomar sol" para evitar bolor. "O bunker de Paulo Preto (sic) tinha o dobro do bunker do Geddel (Vieira Lima)".

O ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, apontado como operador do PSDB, colocava notas de dinheiro ao sol "para que elas não mofassem". A declaração foi dada pelo procurador da República Roberson Pozzobon, baseada em relatos de delatores da Operação Lava Jato relataram que Paulo Vieira de Souza foi preso nesta terça-feira, 19, na Operação Ad Infinitum, fase 60 da Lava Jato, que fez buscas contra o ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira (Governo Temer/Relações Exteriores), hoje presidente da Investe São Paulo (Agência Paulista de Promoção de Investimento e Competitividade) do governo João Doria.

Uma das bases da investigação é a delação premiada do operador de propinas Adir Assad. "O escárnio era tão grande que Adir Assad revelou que não conseguiu buscar todos os valores por si, mandou emissários buscarem o dinheiro nesse endereço de Paulo Preto (Paulo Vieira). Esses emissários falaram: 'olha, às vezes a gente ia buscar o dinheiro nesse apartamento, tinha um quarto só para guardar notas de dinheiro. Só que como era um quarto úmido, algumas vezes a gente via Paulo Preto colocando as notas de reais para tomar sol, porque senão elas emboloravam'", relatou Roberson.

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"Paulo Preto (sic) possuía um grande volume de recursos em espécie no Brasil. Segundo Adir Assad relatou, ele pretendia remeter esses valores ao exterior e fez isso com essa operação casada para a Odebrecht."

Segundo o procurador, Paulo Vieira de Souza "é investigado no âmbito da Lava Jato em Curitiba como um operador financeiro".

"Na investigação aqui em curso o que se revelou foi que Paulo Preto (sic), no interesse da Odebrecht, participou de um esquema de lavagem de mais de R$ 100 milhões. Foi ele o responsável, segundo o averiguado por diversas fontes de prova, por fornecer R$ 100 milhões ou R$ 110 milhões, a quantia gira em torno disso, em dinheiro, para o setor de propinas da Odebrecht, o Setor de Operações Estruturadas da empresa", afirmou.

"Os gastos remontam à identificação de transferência de valores desse operador financeiro que foi alvo da operação a idos de 2010 e 2011. Entretanto, há atualidade nos fatos em virtude de que o dinheiro recebido por esse operador no exterior está sendo mantido até hoje em contas de forma oculta. A gente está falando de algo em torno de R$ 130 milhões, um valor bem significativo."

O Ministério Público Federal informou que a operação mergulha em "complexo esquema de lavagem de dinheiro de corrupção praticada pela Odebrecht, que envolveu os operadores Paulo Vieira de Souza, Rodrigo Tacla Duran, Adir Assad e Álvaro Novis, que mantiveram relações pelo menos entre 2007 e 2017".

Roberson Pozzobon declarou que "a atribuição da força-tarefa Lava Jato para investigar o caso foi definida pelo Supremo Tribunal Federal, pelo ministro Fachin, que remeteu a investigação do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht para Curitiba no ano de 2017".

"Essa operação é um desdobramento do aprofundamento das investigações que dizem respeito ao setor de propinas da Odebrecht, particularmente o que procuramos aqui é obter mais provas do quebra-cabeça criminoso desse sistema de lavagem, especificamente como o dinheiro em espécie era gerado em favor da empreiteira para que ela efetuasse pagamento de propina para diversos agentes. No caso, como pudemos averiguar, também efetuar pagamento de propina para funcionários públicos da Petrobras e agentes políticos que haviam os alçado ao poder e lá mantido esses agentes", disse.

"Adir Assad revelou que Paulo Preto (sic) possuía entre cerca de R$ 100 milhões e R$ 110 milhões no Brasil, em espécie, em notas. Imaginem o volume desse dinheiro. É muito volume. Este dinheiro estava acondicionado em dois endereços. Estava acondicionado em uma residência em São Paulo e também num apartamento que, segundo revelado por Adir Assad, era local onde Paulo Preto (sic) tinha um bunker para guardar as propinas".

A Operação Ad Infinitum foi deflagrada por ordem da juíza Gabriela Hardt, da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba.

Vieira de Souza já é réu da Lava Jato em São Paulo. Ligado a governos do PSDB no Estado, ele foi diretor da Desenvolvimento Rodoviário S.A (Dersa), estatal paulista. Suas relações com tucanos é muito antiga. Ele desfruta da fama de que detém informações privilegiadas.

Defesas

A reportagem está tentando contato com os citados.

A Polícia Federal, o Ministério Público Federal e a Receita abriram nesta terça-feira (19) a Operação Ad Infinitum, 60ª fase da Lava Jato. Um total de 46 policiais federais cumprem 12 mandados de busca e apreensão e uma ordem de prisão preventiva na capital, São Paulo, e nas cidades paulistas de São José do Rio Preto, Guarujá e Ubatuba.

O alvo é um operador financeiro já indiciado em outras fases da Lava Jato e suspeito de ter fornecido grande parte dos recursos para a Odebrecht. Os mandados foram expedidos pela 13ª. Vara Federal de Curitiba (PR).

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Em nota, a PF informou que o objetivo da ação é apurar a existência de um complexo e sofisticado método de lavagem de dinheiro envolvendo o repasse de quantias milionárias ao chamado Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, por meio da atuação de operadores financeiros, entre os anos de 2010 a 2011, para que a empresa irrigasse campanhas eleitorais e efetuasse o pagamento de propina a agentes públicos e políticos no Brasil.

O nome da operação remete ao fato de o caso parecer tratar de mais uma repetição do modo de atuação de alguns integrantes da organização criminosa, remetendo a um ciclo criminoso que nunca termina. Também foi determinada ordem judicial de bloqueio de ativos financeiros dos investigados.

As investigações tiveram início a partir de depoimentos e colaborações colhidas dos próprios funcionários da Odebrecht e de doleiros investigados em fase anteriores da operação e permitiu apurar que, entre os anos de 2010 e 2011, um dos investigados mantinha em território brasileiro cerca de R$ 100 milhões em espécie, relativamente aos quais, conseguiu, ao longo deste período, repassar ao Setor de Operações Estruturadas da empreiteira, a fim de possibilitar que esta fizesse caixa para financiamento de campanha eleitorais e pagamento de propina a agentes públicos.

Para tanto, a fim de ver recebido o dinheiro de volta, após o empréstimo ilícito, o investigado principal se valeu de cooperação de operadores financeiros que atuavam lavando dinheiro devolvidos pela Odebrecht por meio de empresas e contas no exterior que passavam assim a justificar os recursos usados indevidamente.

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