Tópicos | Berlinale

O thriller do diretor chinês Diao Yinan "Carvão negro, gelo fino", história de um ex-policial que se apaixona por uma suspeita de assassinato, ganhou o Urso de Ouro da 64ª Berlinale, neste sábado. O protagonista do filme, Liao Fan, levou o Urso de Prata de melhor ator.

O diretor Diao Yinan usa os personagens do ex-policial e da mulher fatal como uma referência direta ao cinema clássico de detetives, sem deixar de entrar na vida das pessoas comuns.

##RECOMENDA##

Vinte e cinco anos após a queda do Muro de Berlim, o documentário Anderson, exibido nesta quinta-feira (13) na Berlinale traça a vida dupla de Sascha Anderson, ícone da cena artística underground de Berlim que, paralelamente, trabalhava como um informante da Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental. Este escritor, poeta e músico, de 61 anos, vive hoje em Frankfurt, mas foi uma figura chave de Prenzlauer Berg, beco de Berlim que atraia artistas alternativos da RDA nos anos 80, e hoje um dos bairros mais populares da capital alemã.

Sascha Anderson poderia ter se tornado uma das principais figuras intelectuais de seu país, mas está mais associado ao apelido de "Sascha Arschloch" (Sascha Babaca), dado por um amigo, que revelou ao público a relação do artista com a Stasi. Anderson, o filme que a diretora de origem alemã Annekatrin Hendel dedicou a ele, tenta traçar muito mais do que a carreira do homem que, para seus amigos e para muitos outros, encarna a figura absoluta do traidor.

##RECOMENDA##

"Não sou juíza, e sim diretora", explicou à AFP. "Queria entender a história e contá-la através dele e de outros que tiveram alguma relação com ele (...) Este filme sobre a culpabilidade e expiação também faz a gente pensar se, 25 anos depois, somos capazes de falar sobre o assunto".

Os documentos de arquivo fazem o espectador penetrar nesta época apaixonante e efervescente, onde a livre criação artística encontrava refúgio nas cozinhas, e ao mesmo tempo mergulha em Anderson, atormentando pelas mentiras, traições, culpa e rancor. Anderson não procura desculpas, não pede perdão. "Vemos seu olhar, sua incerteza (...) ele tem essa natureza contraditória", afirma Hendel.

Após o filme, o verdadeiro Anderson, que veio prestigiar a exibição, saiu para beber com seus ex-amigos. Eles não se viam há 25 anos, a noite será longa, garante Hendel.

Muito sangue por um punhado de yuanes

Já o filme chinês Terra de ninguém, do jovem diretor Ning Hao, trata da ganância nas montanhosas regiões do deserto de Gobi, no extremo norte chinês. Pao Xiao, um brilhante advogado interpretado pelo ator Xu Zheng, tira da prisão um mafioso que procura fazer fortuna com a caça ilegal de falcões.

Para pagar seus honorários, o mafioso dá seu carro de luxo ao advogado que não hesita em segui-lo a toda velocidade pelo deserto de Gobi até um tribunal localizado a 500 km, onde deve participar de um outro julgamento. Os capangas do mafioso montam uma armadilha na estrada para tentar roubar o carro. Este é o início de uma série de confrontos sangrentos, filmado como um western.

"Este filme pode ser considerado tanto um filme de road movie quanto um western. Acredito que quando for exibido na China vão rotulá-lo de humor negro, mas não é uma comédia", disse o diretor do Ning Hao. "Os falcões estão enjaulados. Este animal simboliza a força e a liberdade. Mas quando estão presos encarnam o desejo de ganhar dinheiro, a ganância", acrescenta o diretor, que diz ter demorado quatro anos para finalizar o filme por causa da censura.

Hao não esconde a sua paixão pelos westerns. "Desde criança gosto muito. O deserto de Gobi, no norte da China, e sobretudo a paisagem montanhosa de Khingan, se apresentavam como o cenário perfeito para um western, mas essa não foi a ideia, a violência é universal", declarou.

A 64ª Berlinale começou oficialmente nesta quinta-feira (6), com a exibição de The Grand Budapest Hotel, do americano Wes Anderson, e com um elenco cheio de estrelas. Desde o início da tarde, os fãs se aglomeravam para ver Ralph Fiennes, Willem Dafoe, Bill Murray, Jeff Goldblum, Edward Norton, ou ainda Tilda Swinton, na saída da coletiva de imprensa do filme. Durante o festival, que vai até 16 de fevereiro, mais de 400 filmes serão exibidos.

O americano Philip Seymour Hoffman, que morreu recentemente, será homenageado com a exibição de Capote, no qual sua atuação foi premiada com o Oscar de Melhor Ator em 2006. Vinte longas metragens de vários países vão competir pelo Urso de Ouro, incluindo o brasileiro Praia do Futuro, uma coprodução de Brasil e Alemanha dirigida por Karim Ainouz; o muito aguardado Monuments Men dirigido e interpretado por George Clooney; e La belle et la bête, de Christoph Gans, com Vincent Cassel e Léa Seydoux.

##RECOMENDA##

Filmes de grande orçamento ou mais modestos, diretores consagrados ou estreantes, vão competir pela premiação que será entregue 15 de fevereiro à noite. O veterano francês Alain Resnais apresentará aos 91 anos seu mais recente filme Aimer, boire et chanter, enquanto o jovem argentino Benjamin Naishtat trará seu primeiro longa Historia del miedo.

Os Estados Unidos serão representados ainda por Richard Linklater (Antes da meia-noite) com Boyhood, enquanto os crimes nazistas na Europa serão um dos temas centrais do festival, "mas não uma escolha consciente, porque há muitos filmes bons sobre a questão", afirmou recentemente o diretor do festival, Dieter Kosslick.

Monuments men, por exemplo, com Clooney, Matt Damon, Cate Blanchett, Bill Murray e Jean Dujardin, conta a história de uma equipe de especialistas que lutam para resgatar obras de arte roubadas por nazistas. Ao abrir o festival, Wes Anderson mostrou seu estilo estilo burlesco e uma imaginação sem limite, como de costume. The Grand Budapest Hotel se desenrola em um país imaginário da Europa Central - a República de Zubrowka - assolado por uma guerra, pelo fascismo e, depois, pelo comunismo, para descrever um mundo desaparecido, o de uma Belle époque e sua aristocracia.

Wes Anderson explicou à imprensa que para The Grand Budapest Hotel se inspirou no escritor austríaco Stefan Zweig, "mais pela atmosfera, do que por uma obra em particular", e também em Ernst Lubitsch, um mestre da comédia americana dos anos 1930-40. As mudanças da China contemporânea também serão abordadas através de três trabalhos em competição, com "filmes do gênero realizados por uma nova geração de cineastas", segundo Kosslick. Lou Ye apresenta Blind Massage, uma adaptação de uma obra literária sobre uma irmandade de massagistas cegos; Dao Yinan, Black Coal, Thin Ice, sobre um policial que persegue um serial killer; e Ning Hao, No Man's Land, que mergulha no submundo chinês.

Entre os demais filmes está, em particular, La voie de l'ennemi do franco-argelino Rachid Bouchareb, com os atores americanos Forest Whitaker e Harvey Keitel. O produtor americano James Schamus (O Segredo de Brokeback Mountain, O Tigre e o Dragão) presidirá o júri, que será formado pelos atores Christoph Waltz e Tony Leung, pelo cineasta francês Michel Gondry, pela documentarista iraniana Mitra Farahani e pela produtora da franquia James Bond, Barbara Broccoli.

Os horizontes são muito diferentes, mas, para James Schamus, "o cinema é uma grande família", mesmo que "em todas as famílias haja desavenças profundas no jantar". "No café da manhã do dia seguinte, todos continuam a se amar".

Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, primeiro longa de Daniel Ribeiro, é um dos três filmes que representam o Brasil no 64.º Festival de Berlim. O filme integra a seção Panorama, a segunda mais importante do evento, e narra com sutileza e força as experiências de um adolescente que se apaixona pela primeira vez.

Ele é Leo (Ghilherme Lobo), um garoto como todos os outros de sua idade, que leva uma vida normal e não desgruda de sua melhor amiga Giovana (Tess Amorim). Tudo vai bem até que Gabriel, um novo estudante, entra para a escola, desequilibra a amizade entre os dois e provoca em Leo sensações que ele nunca havia experimentado.

##RECOMENDA##

Além de ter de aprender a lidar com o que sente por Gabriel, Leo também começa a querer lidar com o mundo de uma nova forma. Ele, que é cego, já não quer mais ser levado pelo braço para casa, quer viajar, ficar sozinho, beijar, beber. "A cegueira dele não é um problema. Mas uma condição para falar da descoberta da sexualidade. Ela vem de dentro ou de fora?", questiona Ribeiro. "Apesar de haver um milhão de formas de nos conectarmos com o mundo, a visão está sempre muito atrelada ao desejo. O que acontece quando se tira este sentido? A gente nasce assim? ", completa Ribeiro, que já havia tratado do tema em seu segundo curta, Eu Não Quero Voltar Sozinho (2010), que dá origem ao longa. "O curta nasceu como experiência para Hoje Eu Quero, como forma de ter um portfólio para conseguir meios para filmar o longa", conta o jovem diretor de 32 anos.

A experiência deu tão certo que Eu Não Quero Voltar Sozinho rodou festivais pelo mundo, recebeu dezenas de prêmios e caiu no YouTube. O curta já foi visto por mais de 3 milhões de pessoas. "Foi um acidente. A gente tinha ganhado um prêmio que permitia que o filme fosse exibidos por 15 dias no PortaCurtas. Aí, alguém baixou e postou no YouTube", relembra o diretor, que, após diversas 'tiradas do ar', rendeu-se à rede e postou oficialmente o filme. "Tirávamos do ar por uma questão de participação em outros festivais, de ineditismo, mas a gente não venceu. Toda hora alguém postava de novo. Então decidimos: se era para o pessoal ver o filme na internet, que fosse no nosso próprio canal."

São estes mais de 3 milhões de espectadores que aguardam ansiosos para assistir ao longa, cuja première mundial ocorre na próxima segunda, dia 10, na Berlinale, com a presença do diretor, da produtora executiva Diana Almeida e do elenco principal.

Essa não será, no entanto, a estreia de Ribeiro em Berlim. Em 2008, foi premiado com o Urso de Cristal de Melhor Curta-Metragem (Generation 14plus) por seu primeiro curta, Café com Leite. Dois anos depois, voltou com o roteiro de Hoje Eu Quero para participar do Talent Campus (oficina que desenvolvimento de roteiros). "Agora é a prova dos nove. Finalmente vamos mostrar a história em versão longa para o público", diz Ribeiro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Berlim dá boas-vindas nesta quarta-feira (5) às estrelas do cinema mundial que chegam para assistir a 64ª Berlinale, que abrirá nesta quinta-feira (6) com a exibição de The grand Budapest Hotel, do americano Wes Anderson, e onde competirá um filme do Brasil. O representante brasileiro na disputa pelo Urso de Ouro, Praia do Futuro, é uma coprodução do Brasil e Alemanha, dirigido por Karim Ainouz e protagonizado por Wagner Moura. Filmado em 2012, o filme chega aos cinemas apenas no dia 1º de março.

Filmado em Fortaleza e na capital alemã, o longa conta a história da busca de um jovem por seu irmão que deixou a família para morar na Alemanha. Já o filme do diretor texano Anderson, que concorre ao Urso de Ouro, tem sido descrito como "uma comédia dramática" com personagens excêntricos, e no qual atuam Adrian Brody, o inesquecível pianista de Roman Polanski, Jude Law, Bill Murray, Edward Norton, Tilda Swinton e Lea Seydoux, entre outros.

##RECOMENDA##

Lea Seydoux, que venceu o prêmio de melhor atriz do último festival de Cannes junto a Adele Exarchopoulos por Azul é a cor mais quente, do francês Abdellatif Kechiche (Palma de Ouro) também protagoniza La belle & la bête, adaptação para o cinema do clássico conto de fadas A Bela e a Fera, do francês Christophe Gans, junto a Vincent Cassel, que será exibida fora de competição.

Anderson, autor de sucessos como O fantástico Sr. Raposo e Três é demais, competiu em 2012 em Cannes com Moonrise Kingdom, uma história de amor entre duas crianças, na qual atuavam Edward Norton, Bill Murray e Tilda Swinton. Outros artistas esperados para a competição são Catherine Deneuve, Forest Whitaker, George Clooney, Bruno Ganz, Matt Damon e Uma Thurman.

"Todos somos indígenas"

A edição deste ano terá seção dedicada ao cinema indígena, com filmes de ficção, documentários e curtas-metragens focados em histórias de povos indígenas. O diretor da Berlinale, Dieter Kosslick, expressou sua satisfação ao apresentar a segunda edição de Native: uma viagem pelo cinema indígena.

"A Berlinale segue com seu compromisso com o Cinema Indígena", declarou, ao fazer referência ao "choque de culturas que podemos sentir em muitos dos filmes da Berlinale este ano (...) tanto nas selvas brasileiras como nas paisagens da Nova Zelândia". "Entre o culto dos antepassados ​​e o celular há um grande abismo em que indígenas e não-indígenas podem se perder e, talvez, retornar às raízes para que possam tirar-nos deste pântano", acrescentou.

Kosslick explicou que nos filmes indígenas convidados para a Berlinale, "Há um encontro entre pessoas com passados ​​diferentes, com estruturas arcaicas que lutam para manter a paz com o mundo de hoje, com protagonistas que tentam definir a si mesmos e seu modo de vida". Será exibido durante a Berlinale A terra dos homens vermelhos, do chileno-italiano Marco Bechis, filmado em 2008 e que narra a luta dos indígenas brasileiros da etnia Guarani-Kaiowa para defender seus direitos.

Também serão projetados Feriado, do equatoriano Diego Araujo, e os curtas-metragens Filhos da Terra, do peruano Diego Sarmiento, e Só posso te mostrar a cor do seu compatriota Fernando Rodríguez Vilchez. O diretor do festival concluiu sua apresentação dos filmes indígenas citando o diretor australiano Warwick Thornton australiano: "Somos todos índios, tudo que temos a fazer é dar uma olhada para o passado distante".

Houve um consenso da crítica de que este não foi um grande Festival de Berlim. Os bons e até grandes filmes tiveram seu contraponto em alguns ruins e outros tantos medianos - não há nada pior do que uma seleção medíocre, daquelas que dão a impressão de ter medo de errar (e erram). Mas, de maneira geral, o júri presidido por Wong Kar-wai acertou. Pode ter errado ao ignorar o russo Boris Khlebnikov, de A Long and Happy Life, ou ao atribuir o importante prêmio de direção a um filme tão insignificante quanto Prince Avalanche, de David Gordon Green.

As demais impressões, ou reclamações, com certeza baseiam-se em impressões subjetivas - mas foram compartilhadas pela maioria dos jornalistas, um tanto perplexos, após a cerimônia de premiação no sábado à noite. A maioria esperava o Urso de Ouro para o chileno Gloria, de Sebastián Lelio, mas o melhor filme, segundo o júri, foi o romeno Child's Pose, de Calin Peter Netzer, também eleito pela crítica. A chilena Paulina Garcia foi a melhor atriz, por Gloria, e esse foi um dos prêmios em que o júri atingiu a unanimidade, sem que possa ser acusado de burrice (como diria Nelson Rodrigues).

##RECOMENDA##

Paulina não reclamou de ninguém e o próprio Lelio, por mais que esperasse o grande prêmio, fez saber que se sentia recompensado por meio de sua extraordinária atriz. A escolha do melhor ator foi honrosa, mas não deixa de colocar um problema. Nazif Mujic não é um ator profissional e reconstitui diante da câmera, em Un Episode in the Life of and Iron Piker, o que ocorreu com sua mulher e ele na vida real. O júri atribui dois prêmios ao belo filme de Danis Tanovic - além do de melhor ator, justamente seu prêmio especial (o do júri).

A questão que permanece em aberto é: até que ponto é lícito premiar um não ator, em um docudrama? É muito possível que tenha sido um prêmio conceitual. O júri poderia ter escolhido entre outras atrizes, porque o Festival de Berlim de 2013 teve muitas mulheres fortes, tanto as personagens como suas intérpretes. Já os homens, em sua maioria, foram fracos e isso, de alguma forma, se refletiu na qualidade das interpretações masculinas. Ao escolher um dos raros homens íntegros e fortes da Berlinale - e um que interpretava o próprio papel -, o júri com certeza quis passar um recado.

Danis Tanovic e a produtora de Child's Pose fizeram, de qualquer maneira, os discursos mais belos da noite. O filme de Tanovic é sobre o esforço desse homem, um cigano, para salvar a vida da mulher. Ela abortou e precisa com urgência de uma curetagem para evitar a septicemia, mas Zanif, que vive de catar ferro, não tem dinheiro nem seguro social. Inicia-se uma verdadeira via-crúcis, rigorosamente real, para o casal. A maneira como eles resolvem o problema é engenhosa e deixa aberta outra questão - se o sistema é discriminador e cruel, como cobrar ética das pessoas? Quando o filme passar no Brasil, vocês vão descobrir o que Nazif e a mulher fazem para driblar o poder e seus representantes.

As informações são do jornal O Estado de S.Paulo

A Fipresci - Federação Internacional de Críticos de Cinema - divulgou nesta sexta-feira (15) os melhores filmes do 63° Festival de Berlim para seus membros. Entre eles o brasileiro Hélio Oiticica, documentário que possui imagens inéditas da carreira do artista plástico.

O grande vencedor foi o romeno Child's Pose, de Calin Peter Netzer, o longa conta a história de Luminita Gheorghiu, mão de classe média alta que usa de sua influência para livrar seu filho da cadeia. Os especialistas também resolveram premiar mais dois filmes, um de cada mostra - Fórum e Panorama - ocorrida durante o Festival e, por conta da decisão, o brasileiro foi contemplado.

##RECOMENDA##

Hélio Oiticica é um filme de César Oiticica Filho e mescla imagens do pintor com alguns filmes em Super 8 - que recebem os nomes de Heliotapes - guardados por ele. Além de ganhar o prêmio da mostra Fórum, venceu o Galigari, honraria concedida aos projetos mais experimentais exibidos nela. Com isso a produção brasileira ganha € 4.000, sendo metade para sua distribuição e a outra para o diretor.

Inch'Allah ganhou o prêmio da Panorama, que exibe os longas que tentam equilibrar visão artística e capacidade de vendas. A coprodução entre a Itália e França narra o drama de uma médica canadense que é vizinha de um soldado israelense em Jerusalém, porém ela todos os dias cuida de pacientes palestinos em Ramallah.

O Urso de Ouro, honraria concedida através de um júri especializado, é anunciado no sábado (16) e tem como favorito o chileno Gloria.

 

E, de repente, da Bósnia- Herzegóvina-Eslovênia veio um pequeno milagre. O novo filme de Danis Tanovic mistura documentário e ficção, num formato de docudrama. An Episode in the Life of an Iron Picker começou a nascer quando o diretor leu um artigo de jornal, sobre uma história ocorrida com um casal de ciganos. Ele é catador de ferro. Vive com a mulher e as duas filhas em condições precárias, mas é uma boa vida. A mulher começa a sentir-se mal. Ele a leva para um centro médico, em busca de atendimento. A mulher estava grávida, mas perdeu o bebê e agora é preciso um procedimento simples, uma curetagem, mas de qualquer maneira caro para o casal. Eles não têm seguro, recorrem a vários hospitais e instituições. Nenhuma ajuda. No limite, conseguem o seguro social de outra pessoa, senão ela morreria de infecção generalizada, com o bebê morto em seu ventre.

A história é real e Tanovic a reconstitui com os próprios protagonistas. Ninguém é ator em cena, talvez um ou dois (os médicos). Na coletiva, Senada Alimanovic, a mulher, disse que gostaria que o que ocorreu com ela não se passe com nenhuma pessoa. Nazif Mujic, o marido, hoje dirige uma associação, uma ONG, que trabalha principalmente com crianças, tentando criar condições para que estudem, tenham assistência médica. "Não se fala em outra coisa senão na crise econômica que atinge a Europa. Em meu país, vivemos em crise pelo menos nos últimos 35 anos, incluindo uma guerra terrível que provocou morte e destruição. Em vez de ceder ao desespero, eu filmo para contar essas histórias." Um Episodio na Vida de Um Catador de Ferro é um convite à ação, à solidariedade.

##RECOMENDA##

Poderia ficar nas boas intenções e o cinéfilo sabe que o caminho do inferno é pavimentado com filmes que não vão além das telas. Não é o caso de Tanovic, que filma bem - ele até já ganhou o Oscar por Terra de Ninguém - e aqui assina outra obra austera, rigorosa e de grande densidade emocional. Só para efeito de comparação - Lota de Macedo Soares tem um piti e joga na cara de Elizabeth Bishop que ela nunca disse que a amava, no filme brasileiro de Bruno Barreto, Reaching of the Moon. Lota é um trator, egocêntrica, dominadora e talvez nem tenha consciência de que é. Faz parte da arrogância da classe dirigente a que ela pertence.

O cigano de Tanovic nem tem tempo de dizer à mulher que a ama, mas em todos os seus gestos, no seu desespero para salvá-la, o espectador identifica um sentimento profundo. No final, o filme volta ao começo, o casal na casa. Acende-se a luz e o marido reclina a cabeça no ombro da mulher. É o seu gesto de carinho, a sua maneira de dizer que a ama, e o espectador a entende.

As informações são do jornal O Estado de S.Paulo

No sexto dia de exibições do Festival de Berlim 2013, ninguém chamou mais a atenção dos fotógrafos do que Juliette Binoche. A atriz compareceu ao evento como a protagonista de Camille Claudel 1915, cinebiografia da famosa escultora francesa e mostrou-se saltitante diante das câmeras. O outro destaque vai para a coletiva de Terapia de Risco, de Steven Soderbergh. Além da presença do diretor, que anunciou sua aposentadoria em 2012 , estavam presentes na mesa os atores Jude Law e Rooney Mara.

Na segunda-feira (11), o cineasta Richard Linklater, diretor de Antes da Meia-Noite, foi homenageado com o Berlinale Camera Award, prêmio entregue pela organização do Festival de Berlim pelo conjunto de sua obra. Quando lançou o primeiro filme da trilogia estrelada por Ethan Hawke e Julie Delpy, Antes do Amanhecer, o cineasta recebeu o Urso de Prata, entregue anualmente ao melhor diretor escolhido pelo júri. Sua sequência, Antes do Pôr-do-Sol estreou no Festival de Berlim de 2004. A 63º edição do Berlinale começou na última quinta-feira (7) e vai até o dia 17 de fevereiro.

##RECOMENDA##

É sempre temerário fazer prognósticos antecipados num festival que ainda está no meio, e Berlim não é a exceção. A chilena Paulina Garcia surgiu como fortíssima candidata ao prêmio de interpretação feminina e é possível continuar torcendo por ela no belo filme de Sebastian Lelio, Gloria. Ontem, num breve encontro no palácio do festival, quando o repórter esperava para entrevistar o russo Boris Khlebnikov, de A Long and Happy Life, o próprio Lelio disse estar surpreso com a receptividade a seu filme. "Sempre achei que a história que queria contar valia a pena, mas o carinho das pessoas por Gloria superou minha expectativa", afirmou o cineasta. Paulina continua uma forte candidata a melhor atriz, mas ontem foi a vez da romena Luminita Gheorghiu dar seu show.

A Romênia foi uma das cinematografias que se impuseram nos anos 2000 nos grandes eventos internacionais de cinema. Seus autores ainda não acabaram de nos surpreender, mas é Luminita quem domina Child's Pose, de Calin Peter Netzer, no papel de uma mãe dominadora que tenta proteger o filho que matou um garoto num acidente carro. Logo no começo do filme, Luminita, fumando sem parar, queixa-se para a cunhada da desatenção do filho, que se recusa a vê-la mesmo em seu aniversário. A recepção, a seguir, reúne políticos, artistas, toda a classe dirigente romena. São vulgares, prepotentes. E aí, ocorre a tragédia. A leoa, cutucada, reage. Luminita passa como um trator sobre policiais, a família da criança morta. Só o que lhe interessa é o filho, mesmo que ele a odeie. É uma personagem detestável, própria para outra representação misantrópica da sociedade e do mundo.

##RECOMENDA##

E, então, as coisas começam a mudar e ela se humaniza. Duas cenas são exemplares - o diálogo, enfim, com o filho, e a visita à família do morto. Despida da sua capa de arrogância, ela termina chorando com a mãe do menino. E quando começa a falar no filho, é como se ele também tivesse morrido - para ela. Child's Pose foi um dos melhores filmes até agora, com o chileno e o russo. Há outro acidente de carro, com morte, em Layla Fourie, da sul-africana Pia Marais. Apesar de todas as mudanças na sociedade do país, um resquício de racismo ainda permanece e aflora, por toques, quando uma mulher negra atropela um homem (branco) na estrada e tenta socorrê-lo. Quando ele morre, Layla tenta esconder o crime, lançando o cadáver no lixo. Ela viaja com o filho, um garoto a quem cria sozinha. E ocorre de, em seguida, a protagonista se envolver com o filho da vítima. Que situação, hein?

As informações são do jornal O Estado de S.Paulo

O governo alemão pediu oficialmente ao Irã que deixasse o diretor Jafar Panahi, condenado a seis anos de prisão domiciliar em seu país sair, para que pudesse assistir nesta terça-feira a estreia na Berlinale de Cortinas fechadas, um filme que mostra como são seus dias enquanto tenta evitar a depressão. Panahi, ganhador do Urso de Prata em Berlim em 2006 com Offside, conseguiu realizar de forma ilegal Cortinas fechadas, com a ajuda de seu amigo Kamboziya Partovi, um conhecido cineasta iraniano.

Em 2010, o governo do Irã acusou Panahi de fazer propaganda contra ele e o condenou a 6 anos de prisão, o impediu de fazer cinema por 20, de viajar ao exterior ou conceder entrevistas. Em 2011, Panahi já tinha conseguido burlar a proibição de trabalhar ao filmar sua vida cotidiana em Isto não é um filme, que chegou de forma muito discreta ao Festival de Cannes. Kamboziya Partovi e a atriz Maryam Moghadam, que atua em Cortinas fechadas, chegaram a Berlim para apresentar o filme.

##RECOMENDA##

A trama deste segundo filme ilegal de Panahi é minimalista, dadas as circunstâncias. Partovi desempenha o papel de Panahi, escrevendo trancado em sua casa em frente ao mar. Às vezes filma com seu celular ou brinca com seu cachorro. Em um determinado momento, um homem e uma mulher (Maryam Moghadam) que parecem fugir de algo ou vir vigiá-lo, entram na casa. Fica claro que são dois personagens surgidos da imaginação do escritor.

"Jafar Panahi e eu somos amigos desde 1979. Ele era estudante e foi meu assistente em meus primeiros filmes. Eu escrevi o roteiro de 'O círculo'", lembrou Partovi. "Cada filme tem circunstâncias diferentes. Este trata da reclusão. É sobre algo que cai sobre você. Quem entra em minha casa se estou sozinho, se fechei tudo para ter uma vida criativa? Há pessoas que penetram apesar de tudo estar hermeticamente fechado, há elementos externos que penetram no pensamento", declarou Partovi.

"São as reflexões que passam pela cabeça na situação em que ele vive, é um filme que fala dele porque não tem direito de falar a outras pessoas. As condições que te limitam podem se servir de inspiração, podem influenciar no conteúdo. É disso que se trata", acrescentou. "É mais difícil não trabalhar que trabalhar, é algo difícil, sobretudo, quando se está no auge, como estava Jafar Panahi. É possível entrar em depressão, ficar trancado em casa. Ele devia aproveitar para tomar notas, para escrever. Não tínhamos ideias precisas, queríamos, sobretudo, nos ocupar, trabalhar", explicou.

"Devíamos tentar buscar a forma de superarmos a proibição, para que ele pudesse sobreviver sem filmar. Quando terminou o roteiro, estava feliz. Rodamos o filme em seguida. Não sabemos quais serão as consequências, não podemos prever, não sabemos o que o futuro nos reserva", acrescentou.

"Queríamos manter uma grande discrição sobre este filme. Trabalhamos com uma equipe reduzida: o cinegrafista, Panahi e sua esposa e eu. E depois, Maryam Moghadam. Por isso as cortinas que são mantidas fechadas. Era difícil conseguir um ator e por isso eu mesmo decidi atuar", destacou.

O personagem interpretado pela bela Maryam entra no mar até desaparecer. "Suicídio? Ele não pensa nisso. Se eu estivesse em uma situação assim, talvez, inconscientemente, me viessem essas ideias negras", reconheceu. Maryam Moghadam disse que seu personagem representava "o lado sombrio de seu espírito, o desespero inerente a toda pessoa, o lado que não tem esperanças, a ponto de se abandonar".

A caça ao Urso de Ouro do 63º Festival de Berlim, primeiro grande festival europeu de cinema do ano, começa na noite desta quinta-feira (7), em ritmo de kung fu. A abertura fica por conta do longa The Grandmaster, do diretor chinês Wong Kar Wai (autor de filmes como In the mood for love), que preside o júri.

Exibido fora da competição, a cinebiografia de Ip Man, mestre histórico da lenda do cinema asiático Bruce Lee, dará início a onze dias (7-17 de fevereiro) de festividade. Nesta edição, serão projetados mais de 400 filmes, todos acessíveis ao público. São 24 longa-metragens de 22 países que foram escolhidos para a seleção oficial, dentre os quais 19 estão no páreo para o Urso de Ouro, entregue em 16 de fevereiro.

##RECOMENDA##

Durante duas horas de muita poesia, The Grandmaster mergulha o espectador na filosofia e no senso de humor dos mestres das artes marciais, apresentando os primeiros anos da China moderna. Os combates, filmados debaixo de chuva, normalmente à noite ou em estúdio em câmera lenta, mostram o quanto o gesto, que pode matar, está enraizado num profundo domínio do corpo e do espírito, e num "modo de vida baseado na humildade", falou Wong Kar Wai à imprensa.

Além do talento, os dois heróis, Ip Man (Tony Leung) e Gong Er (Zhang Ziyi), uma mulher, compartilham deste modo de vida e de pensamento. É um caso de transmissão e de amor proibido que lembra, por sua atmosfera, o clássico cult In the mood fo love, do mesmo diretor. "As artes marciais são uma arte de defesa que pode matar, eles sabem disso e são extremamente disciplinados", explicou Wong Kar Wai, ovacionado pela imprensa.

"A disciplina e a generosidade são o que caracterizam os grandes mestres que dividem sua experiência e a transmitem. É uma parte de nossa cultura que eu gostaria de compartilhar com o público", disse. Aos 46 anos, Tony Leung, ator fetiche de Kar Wai, treinou kung fu durante quatro anos. Ele quebrou o braço no início das filmagens, enquanto fazia acrobacias. "Eu entendi que não era uma técnica de luta, mas uma forma de treinar o espírito, um modo de vida muito espiritual", disse o ator. Zhan Ziyi se disse a "atriz mais sortuda do mundo", acrescentando: "não há palavras para descrever o quanto este filme me fez crescer".

Fazendo jus ao cargo de presidente do júri, Wong Kar Wai afirmou que o Festival de Berlim é mais "íntimo" do que outros, pois é voltado para o "verdadeiro prazer" de compartilhar ideias e de saborear o cinema, mais do que um lugar de negócios. "Nós estamos aqui para servir os filmes, não estamos aqui para julgar, mas para apreciar, promover aqueles que nos inspiram...e nos transportam", declarou.

A seleção de 2013 é eclética, aliando filmes hollywoodianos de orçamentos enormes a produções de autores pouco conhecidos. A programação a partir de sexta-feira (8) terá títulos como W imie, da polonesa Malgoska Szuwoska, que aborda a homossexualidade de um padre carismático, e a última obra do americano Gus Van Sant, Promised Land. Matt Damon trabalha com o diretor pela primeira vez desde o oscarizado Gênio Indomável, de 1997. No filme de Van Sant, ele dá vida a um funcionário de uma empresa petrolífera que tenta convencer os habitantes de uma cidadezinha americana a autorizarem a exploração de gás.

Três filmes, muito esperados, defenderão a França: Elle s'en va, de Emmanuelle Bercot, que traz Catherine Deneuve num papel atípico; Camille Claudel 1915, de Bruno Dumont, com Juliette Binoche, e La religieuse, de Guillaume Nicloux, baseado no romance de Diderot, que traz Isabelle Huppert na pele de madre superiora. Todos devem passar pelo tapete vermelho, assim como Matt Damon, Jude Law, Ethan Hawke, Julie Delpy, Nicolas Cage, Emma Stone, Geoffrey Rush e Christopher Lee.

O júri é formado pelo ator e diretor americano ganhador do Oscar Tim Robbins, pelas diretoras iraniana Shirin Neshat e grega Athina Rachel Tsangari, pela cineasta dinamarquesa Susanne Bier, pelo diretor alemão Andreas Dresen e pela diretora de fotografia americana Ellen Kuras.

A organização do Festival Internacional de Cinema de Berlim - Berlinale divulgou a programação de filmes da edição 2012. Dezoito filmes concorrem ao prêmio máximo do evento, o Urso de Ouro, entre eles Tabu, co-produção de Brasil, Portugal, Alemanha e França. A mostra principal reúne 23 películas, e dezenas de estreias mundiais acontecerão durante a programação.

A grande homenageada do festival em 2012 é a atriz Meryl Streep, uma das mais respeitadas do cinema mundial. Meryl é recordista de indicações ao Oscar - 16, tendo levado a estatueta duas vezes - e já foi premiada sete vezes no Berlinale. Além do filme mais recente da atriz, Dama de Ferro, o festival aproveita para exibir outras obras clássicas de sua carreira, como Kramer vs. Kramer, Entre dois amores e As Pontes de Madison.

Centenas de filmes serão exibidos durante o festival, que acontece do dia 9 ao dia 19 de fevereiro. Alemanha, Brasil, Canadá, República Checa, China, Dinamarca, Espanha, EUA, Filipinas, França, Grécia, Inglaterra, Hong Kong, Hungria, Indonésia, Itália, Irlanda, Noruega, Portugal, Rússia, Senegal, Suécia e Suíça estão representados na mostra, que se divide em várias submostras, como a Retrospectiva e o Cinema Culinário.

Confira os filmes que concorrem ao Urso de Ouro:

Barbara, de Christian Petzold (Alemanha)

Cesare deve morire, de Paolo e Vittorio Taviani (Itália)

Captive, de Brillante Mendoza (França/Filipinas/Alemanha/Grã-Bretanha)

Dictado, de Antonio Chavarrias (Espanha)

A moi seule, de Frederic Videau (França)

Les adieux a la Reine, de Benoit Jacquot (França/Espanha)

Home For The Weekend, de Hans-Christian Schmid (Alemanha)

Jayne Mansfield′s Car, de Billy Bob Thornton (Rússia/Estados Unidos)

Csak a szel, de Bence Fliegauf (Hungria/Alemanha/França)

Gnade, de Matthias Glasner (Alemanha/Noruega)

Meteora, de Spiros Stathoulopoulos (Alemanha/Grécia)

Kebun binatang, de Edwin (Indonésia/Alemanha/Hong Kong/China)

En Kongelig Affaere, de Nikolaj Arcel (Dinamarca/República Tcheca/Alemanha/Suécia)

L`enfant d`en haut, de Ursula Meier (Suíça/França)

Tabu, de Miguel Gomes (Portugal/Alemanha/Brasil/França)

Aujourd`hui, de Alain Gomis (França/Senegal)

Rebelle, de Kim Nguyen (Canadá)

Bai lu yuan, de Wang Quan`an (China)

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando