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Casal se beija na Avenida Guararapes, área central do Recife. Foto: Júlio Gomes

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Nesta sexta-feira (13) é celebrado mundialmente o Dia do Beijo. A data contempla o gesto sem diferenciá-lo por etnia, cor ou gênero. Um beijo é um beijo, seja lá em quem for. O LeiaJa.com entrevistou casais homossexuais para entender se após tantas conquistas dos LGBTs por mais espaço e voz na sociedade, o ato de beijar em público ainda é um tabu.

Beijar quem se ama, andar de mãos dadas, acariciar o cabelo ou qualquer gesto não deveria ofender ninguém, muito pelo contrário. Apesar da homofobia, ocupar o espaço público com afeto é um atestado de resistência, todos os dias.

Durante a entrevista com o estudante Lucas Marinho, 21, e o barista João Nogueira, 23, no Centro do Recife, os olhares eram tortos por causa das mãos dadas e do carinho entre eles. Em um determinado momento, um motociclista ameaçou atropelá-los porque deram um beijo para o clique do fotógrafo. Gritos de um lado, xingamentos do outro. A expressão dos homens era de nojo. Como se não aguentassem olhar a cena sem interferir.

“Nessas horas eu penso se a gente realmente evoluiu no respeito ao próximo. Quando eu me aproximo deles, desviam o olhar e saem de perto. É um medo, uma fobia”, relata Lucas.

Eles se conhecem há anos, mas só engataram um relacionamento sério há três meses. “Quando a gente apenas se abraça todo mundo olha, parece até que estamos fazendo algo nojento. Sinto que ficam esperando para saber o que vai acontecer depois, se vamos nos beijar ou não”, conta Lucas. Na família e nos amigos, o suporte é necessário. Ambos têm o apoio diário e dizem que tudo é muito claro sobre a sexualidade deles. “Após o primeiro choque tudo se acalmou”, afirma João.

“Se fosse um casal hétero, ninguém fica contando que gosta de mulher ou de homem. Eu deixei que as pessoas fossem descobrindo naturalmente. Acho que estamos evoluindo quanto à aceitação dos LGBTs. Antigamente, muitas pessoas se chocavam quando viam dois homens se tocando”, destaca o barista.

Para Lucas, os gays estão cansados de se esconder no escuro. “Quando a gente mostra para o mundo o que somos, é tipo, aceita ou surta, sabe? Temos que mostrar que a gente existe porque só assim as pessoas podem se acostumar. Acho que as novelas, os beijos na televisão, estão ajudando”.

Emmily e Sônia em Itamaracá, Litoral Norte de Pernambuco. Foto: Arquivo Pessoal

Para as vendedoras Emmily Nascimento, 26, e Sônia Figueiredo, 27, juntas há quase sete anos, as pessoas estão aceitando mais a presença dos homossexuais. No entanto, há preocupações. “Eu procuro não me expor muito e evitar o afeto em público em ambientes mais conservadores porque não levo desaforo para casa e seria uma confusão”, conta Emmily. Ela ainda diz que a homofobia esteve presente durante uma fase da vida, na família e no colégio, mas que atualmente, não passa por constrangimentos. “Apesar de ter muita gente ignorante para essa questão, vejo que abrem a mente a cada dia”.

Para o sociólogo e coordenador do Instituto Boa Vista, Acioli Neto, a porta do armário foi aberta de tal forma que hoje é muito difícil alguém não ter na família um homossexual. “Eu convivi e observei toda essa movimentação com relação a liberdade de expressão da diversidade sexual do anos 1980 pra cá. E a liberdade de hoje é muito maior. São inegáveis esses avanços, existem leis que protegem a expressão de afeto em público. Muitas vezes a lei não consegue barrar um ataque homofóbico, mas certamente serve para punir um estabelecimento ou um agressor, já que não existe crime de homofobia. Eu percebo que evoluímos, porém ainda não é o suficiente para dizer que é uma situação de total normalidade”, explica.

O beijo entre gays, lésbicas, transexuais nas novelas e nos filmes é cada vez mais comum. Mas, sempre que uma emissora brasileira expõe a demonstração de afeto entre LGBTs, a polêmica é criada. Em uma entrevista ao programa Conexão Repórter, que trazia como pauta a questão da homofobia, o deputado federal Jair Bolsonaro disse que a classe artística do Brasil está sem limites. “Duas senhoras com 80 anos se beijando… Jogaram no lixo suas carreiras! É um crime, um desserviço à sociedade e à família brasileira. Por que fazem isso? Estimulados por quem? Isso faz parte de política do governo”, analisou.

Para Acioli, o momento não é fácil para os LGBTs. “Vale salientar que vivemos um momento, independente de certo personagem da política, de fortalecimento da direita do mundo, nos Estados Unidos, na França. O pensamento mais conservador está se revelando. Mas eu não consigo ver que os avanços que ocorreram diminuam porque foram muitos direitos conquistados”, diz.

Orlando e Marcelo na Praça de Casa Forte. Foto: Júlio Gomes

O publicitário Orlando Dantas, 25, e o cozinheiro Marcelo Augusto, 23, são casados há dois anos e procuram frequentar ambientes em que os gays são mais aceitos, porque um gesto de carinho pode gerar algo ruim em locais mais reacionários. “Quando estamos em um local muito heterossexual, não nos deixam à vontade, nem nos sentimos aceitos. No shopping que é um local público, a gente troca carinhos, porque temos a certeza de que estamos a salvos, pelo menos até agora”, conta Marcelo.

“Na nossa situação política atual, acho que tornar a homofobia crime é uma prioridade que nem existe. Aliás, a LGBTfobia no geral. Somos o país que mais mata travestis e transexuais do mundo. Ainda falta muito a ser conquistado, mas é importante não ter medo e nem deixar de demonstrar carinho em público porque as pessoas não aceitam as diferenças”, conta Orlando.

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O Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3) manteve a sentença que obriga a Superintendência de Seguros Privados (Susep) a pagar indenização do seguro DPVAT ao companheiro sobrevivente na hipótese de falecimento do parceiro homossexual.

Após ação do Ministério Público Federal, casais gays deverão ter os mesmos direitos já garantidos aos heterossexuais nos casos de morte cobertos pelo Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT). O acórdão transitou em julgado e não há mais possibilidade de recurso.

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A ação do MPF, ajuizada em 2003 por meio da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, buscava ampliar a interpretação da Lei 8.441/92, que determina o pagamento de indenização ao cônjuge sobrevivente e equipara o companheiro ou companheira ao esposo ou esposa quando a união ultrapassar cinco anos e nos casos admitidos pela lei previdenciária. Assim, os beneficiários do seguro DPVAT poderiam ser tanto hétero quanto homossexuais, garantindo-se o princípio da igualdade previsto na Constituição.

"A interpretação buscada é absolutamente correta, eis que as uniões homoafetivas, por interpretação inclusive das cortes federais e do próprio STF, tem reconhecidos direitos a tais situações na órbita da legislação previdenciária. O INSS reconhece formalmente tais direitos ao companheiro homossexual tanto no que pertine à pensão por morte, quanto no que concerne ao auxílio-reclusão", destacou a desembargadora federal Marli Ferreira.

Qualquer notícia de descumprimento da decisão judicial deve ser comunicada ao MPF, por meio do site http://cidadao.mpf.mp.br/, para medidas cabíveis.

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