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O Ministério Público Federal, em Curitiba, apresentou nova denúncia contra 15 pessoas por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no contrato para construção do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), no Rio de Janeiro, de 2008. O contrato entre a Petrobras e o Consórcio Novo Cenpes, formado pelas empreiteiras OAS, Carioca Engenharia, Schahin, Construbrase e Construcap, inicialmente de R$ 850 milhões saltou para R$ 1 bilhão, depois de sucessivos aditivos.

A força-tarefa da Lava Jato informa que para que o negócio fosse fechado, executivos do Consórcio Novo Cenpes ofereceram e efetivamente pagaram mais de R$ 20 milhões em propinas para funcionários do alto escalão da Petrobras e representantes do Partido dos Trabalhadores (PT), que dava sustentação política a tais funcionários corrompidos.

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Conforme ficou comprovado, informa o MPF, "os 15 denunciados dividiram tarefas e desempenharam diferentes funções no interesse da organização criminosa, sendo inseridos em 4 diferentes núcleos criminosos: empresarial, operacional, político e administrativo".

"O núcleo empresarial era integrado por sócios e administradores da OAS, Carioca, Schahin, Construbase e Construcap, e voltava-se à prática de crimes de cartel e licitatórios contra a Petrobras, de corrupção de seus agentes e de representantes de partidos políticos que lhes davam sustentação, bem como à lavagem dos ativos obtidos com a prática destes crimes", informou a força-tarefa, em nota.

Nove são os denunciados que integram esse núcleo: Roberto Ribeiro Capobianco, Ricardo Pernambuco Backheuser Júnior, Ricardo Backheuser Pernambuco, José Antônio Marsílio Schwarz, José Aldemário Pinheiro Filho, Genésio Schiavinato Júnior, Erasto Messias da Silva Júnior, Edison Freire Coutinho e Agenor Franklin Magalhães Medeiros.

Já o núcleo operacional do esquema criminoso era formado pelos denunciados Adir Assad, Rodrigo Morales e Roberto Trombeta, além de Alexandre Correia de Oliveira Romano, advogado que firmou acordo de colaboração premiada com a Força-Tarefa. Eles intermediavam os interesses escusos da organização, operacionalizando o pagamento das vantagens indevidas entre o núcleo empresarial e o núcleo político, bem como estruturando a lavagem dos recursos provenientes dos crimes cometidos.

PT

Dentro da organização, o núcleo político foi estruturado principalmente por parlamentares, ex-parlamentares e integrantes dos diretórios das agremiações partidárias. Eles indicavam e davam suporte à permanência dos funcionários corrompidos da Petrobras em seus cargos, recebendo, em troca, vantagens indevidas pagas pelas empresas cartelizadas contratadas pela estatal. O ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT), Paulo Adalberto Alves Ferreira, representou o núcleo político nos fatos e é objeto de acusação nesta denúncia.

E, finalmente o núcleo administrativo, que é representado pelo denunciado Renato de Souza Duque, e que foi corrompido pelos integrantes do núcleo empresarial, passando a auxiliá-los na consecução dos delitos de cartel e licitatórios.

O procurador da República Roberson Pozzobon, destaca que onze dos quinze denunciados são acusados nesta oportunidade pela primeira vez no âmbito da Operação Lava Jato. "Entre os nomes estão um ex-tesoureiro do PT bem como três administradores de empresas cujos executivos ainda não tinham sido denunciados perante o Juízo da 13ª Vara da Seção Judiciária do Paraná: Construcap e Construbase. Isso evidencia que as investigações da Lava Jato continuam em expansão."

Provas documentais, como contratos fictícios e notas fiscais frias, somadas a depoimentos de diversos colaboradores, apontaram que Paulo Ferreira era o beneficiário de recursos oriundos de empreiteiras contratadas pela Petrobras. Não bastassem esses elementos, o próprio ex-tesoureiro do PT reconheceu que solicitou ao advogado operador do esquema que fizesse pagamentos no seu interesse.

"Numa engrenagem criminosa cujo eixo é a corrupção e na qual se envolvem empresários, operadores financeiros, agentes públicos e políticos, chama atenção a intensa participação de tesoureiros partidários. Paulo Ferreira, ex-tesoureiro do PT entre 2005 e 2010, foi antecedido no cargo por Delúbio Soares e sucedido por João Vaccari Neto. O primeiro foi condenado no Mensalão e o último já condenado na Lava Jato", destacou o procurador da República Júlio Noronha.

Para que o dinheiro "sujo" circulasse de forma dissimulada e oculta dos empresários corruptores para os agentes públicos e políticos corrompidos, os operadores financeiros promoveram diversos ilícitos: celebraram contratos simulados e superfaturados com pessoas físicas ou jurídicas indicadas pelos destinatários da propina; quebraram o rastro do dinheiro, por meio de saques feitos nas contas das empresas de fachada, antes da entrega aos beneficiários; depositaram valores em contas de terceiros; e transferiram valores no exterior mediante a utilização de contas bancárias mantidas no exterior em nome de empresas offshores.

A denúncia apresentada aponta operações de lavagem de dinheiro por intermédio da celebração de 19 contratos ideologicamente falsos que envolveram a interposição de 12 pessoas jurídicas e 2 pessoas físicas diferentes, totalizando montante superior a R$ 7,5 milhões. Ainda foram identificados depósitos em favor de 1 pessoa jurídica e 13 pessoas físicas indicadas por Paulo Ferreira totalizando mais de R$ 300 mil. Por fim, as transações ilícitas no exterior, no valor de US$ 711 mil, foram realizadas por meio de contas na Suíça abertas em nome das offshores Cliver Group Ltd., Kindai Financial Ltd. e Mayana Trading Corp.

Criado na década de 1970, o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), localizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é responsável pela criação de tecnologias para a Petrobras, além de projetar e fiscalizar obras realizadas na estatal.

A ampliação, iniciada em 2007, visava a preparar o centro para as demandas da exploração do pré-sal. As obras, alvo da 31.ª fase da Operação Lava Jato, foram orçadas em cerca de R$ 840 milhões, mas custaram mais de R$ 2,5 bilhões após mais de 50 aditivos contratuais pedidos pelas empreiteiras.

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De acordo com as investigações, diferentes contratos da ampliação do Cenpes foram repartidos entre as empresas investigadas por formação de cartel, como OAS, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e UTC. O projeto era tocado pela Diretoria de Serviços da companhia, comandada pelo ex-diretor Renato Duque. A PF investiga também contratos de R$ 5 milhões com empresas da filha do ex-diretor de abastecimento Paulo Roberto Costa para fornecimento de móveis.

Na inauguração da ampliação, em 2010, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva exaltou o Cenpes como o "maior centro de pesquisas do hemisfério Sul". O ex-presidente também destacou a Petrobras como a "segunda maior empresa de petróleo do mundo" em função de seu valor de mercado à época, estimado por Lula em US$ 220 bilhões. Na última sexta-feira, a companhia registrou valor de mercado de US$ 44 bilhões.

O projeto de ampliação do Cenpes também atraiu a instalação de centros de pesquisa de outras petroleiras e fornecedores da cadeia de petróleo e gás no Parque Tecnológico da UFRJ. Inaugurado em 2003, o parque tecnológico reúne hoje centros de pesquisa de 13 grandes empresas, oito pequenas e médias, além de sete laboratórios da própria UFRJ.

Sindicância

Em nota, a Petrobras informa que realiza investigação interna para "averiguar possíveis irregularidades sobre os contratos das obras de ampliação do Cenpes", e que os relatórios finais serão enviados às autoridades. A estatal também afirma que já concluiu investigações e adotou "medidas disciplinares" contra o conteúdo das acusações. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A promotora de Justiça Gláucia Santana afirmou na tarde desta terça-feira, 16, que os prejuízos a Petrobras em obras do Centro de Pesquisas (Cenpes) e do Centro Integrado de Processamento de Dados (CIPD) podem ser superiores aos valores apurados inicialmente, de R$ 31,4 milhões.

O Ministério Público anunciou nesta terça-feira, 16, que entrou com ação civil contra a Petrobras, Andrade Gutierrez (AG) e o ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli, além de outros sete funcionários por improbidade administrativa.

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"Há uma série de desvios e falhas no contrato entre Petrobras e Andrade Gutierrez (...) Nós temos de início identificados prejuízos de R$ 31,4 milhões, mas estima-se que esse valor possa ser maior", afirmou a promotora a jornalistas no Rio. Segundo ela, "há elementos suficientes de que houve sobrepreço, superfaturamento e direção das licitações para favorecer a AG".

Caso os acusados sejam condenados, terão que recompor o patrimônio da Petrobras, além de estarem sujeitos a pagamentos de multas civis. A promotora disse ainda que eles serão acusados de danos morais coletivos.

"Estamos sustentando que o povo brasileiro está envergonhado e, essa vergonha decorre do desmando ou da falta de respeito desses gestores com a nação brasileira", afirmou. "Nós estamos imputando a ação a ele Gabrielli. Como chefe, gestor da Petrobras".

Além de Gabrielli, são acusados Renato de Souza Duque, ex-diretor de Engenharia e Serviços; Pedro José Barusco Filho, gerente-executivo de Serviços e Engenharia; Sérgio dos Santos Arantes, gerente Setorial de Estimativas de Custos e Prazos; José Carlos Villar Amigo, gerente de Implementação de Empreendimentos para o Cenpes; Alexandre Carvalho da Silva gerente Setorial de Construção e Montagem do Cenpes; e Antônio Perrota Neto e Guilherme Neri, responsáveis pela elaboração dos orçamentos dos contratos. Os cargos citados eram ocupados à época.

Além disso, foi pedido que, no caso daqueles que ainda ocupam cargos públicos, percam os postos. A inelegibilidade e suspensão dos direitos políticos também são decorrência de ato de improbidade administrativa.

Segundo a promotora, os contratos foram colocados durante a gestão de Gabrielli sem serem devidamente planejados. "Essas decisões eram tomadas em nível de diretoria e, durante a fiscalização do TCU, a gestão da Petrobras obstruiu a fiscalização e verificação das falhas".

A investigação teve início a partir de auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) em obras realizadas pela estatal no ano de 2009. "As principais falhas eram não abrir para os auditores acesso aos documentos, não fornecer as senhas para os sistema serem examinados para verificar o valor real de cada item, de cada preço contratado. Além disso, entregava documentação em formatação que não permitia ao TCU aferir a fórmula usada para chegar àquele preço contratado, havia sempre um interlocutor que dificultava o acesso aos documentos", diz a promotora.

De acordo com Gláucia, existem outros inquéritos em curso. No momento, há oito contratos sendo analisados pela promotoria, todos relacionados ao Cenpes e CPDI.

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