Tópicos | Cinthia Ribeiro

O protagonismo político das mulheres ganhou uma nova página nesta sexta-feira (1), quando foram empossadas 657 prefeitas no Brasil. O percentual de mulheres eleitas prefeitas chegou a 13% em 2020, uma marca ainda tímida, porém importante na luta das mulheres para galgar espaços de poder no meio que é predominantemente masculino. O número de 658 das cidades que elegeu uma mulher sofreu uma redução com a morte da prefeita eleita de Santo Antônio das Missões (RS), Izalda Maria Barros Boccacio, de 72 anos, que morreu em decorrência da Covid-19.

Entre as capitais, Palmas, no Tocantins, terá uma mulher no comando do executivo municipal por mais quatro anos, Cinthia Ribeiro (PSDB). A tucana foi a primeira mulher a ocupar a cadeira na cidade, após o prefeito Carlos Amastha abdicar do cargo, em 2018, para disputar o governo estadual. Mas esta foi a primeira vez que ela disputou as eleições como cabeça de chapa.

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Em seu discurso de posse, a prefeita afirmou que pretende estar mais próxima das pessoas, nos sindicatos e nas associações. “Eu já me apresentei como a prefeita de todos os palmenses e provei isso na prática, governando para todos. Agora quero lhes apresentar a Capital de todos os tocantinenses. A cidade que vai inspirar as demais para um novo modelo de desenvolvimento, assim como idealizou Siqueira Campos, que optou por construir uma capital à margem direita do Rio Tocantins, para que ela pudesse irradiar progresso para todo o Estado.”

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Ainda sobre as mudanças que pretende promover na sua atuação frente ao executivo, ela destacou  os desafios que a pandemia impõe. “Não será apenas um ano novo. Será um mundo novo. Uma cidade totalmente nova, remodelada por uma pandemia de proporções bíblicas, que ainda insiste em nos tirar do rumo e embaçar o nosso foco. Uma cidade nova, que vai nos exigir um novo modelo de gestão, diferente de tudo que já conhecíamos. Por isso, será primordial que estejamos prontos e atentos para ouvir este novo cidadão, que está emergindo desta crise comportamental, com novos hábitos, novas preocupações, novas demandas e novas prioridades”, frisou.

Cinthia também enfatizou o protagonismo político feminino na Câmara Municipal de Palmas, que conta com quatro vereadoras e elegeu pela primeira vez uma mulher como presidente a vereadora de primeiro mandato, Jonad Valcari (Podemos).

Em Pernambuco, outra tucana tomou posse de sua reeleição, Raquel Lyra, que se emocionou ao rememorar a trajetória política de sua família na prefeitura da Cidade. Diante de seu pai, o ex-governador de Pernambuco e ex-prefeito de Caruaru por dois mandatos, João Lyra, ela enfatizou que se sente feliz, honrada e motivada por ocupar o cargo. “Eu sou muito grata e honrada em poder liderar essa cidade por mais quatro anos, em poder ser instrumento de esperança para nossa gente. E vou honrar, mais uma vez, o nosso compromisso de chegar com mais qualidade de vida para os que mais precisam, com mais moradia, oportunidades, calçamento, saneamento, lazer, turismo", discursou na cerimônia.

Sobre os tempos de pandemia, ela falou do desafio de manter as crianças na escola. “Esse trabalho que tem começo, meio, mas não tem fim, será ainda mais desafiador. Em tempo de pandemia, temos que evitar que aumente o índice de evasão escolar. Estudos mostram que 28% dos jovens brasileiros, de 15 a 29 anos, pensam em deixar os estudos quando as escolas reabrirem, segundo pesquisa do Conselho Nacional de Juventude”.

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Em outro município pernambucano, Camaragibe, a médica Nadegi Queiroz tomou posse para administrar a cidade por quatro anos com a promessa de governar para os que mais precisam. ¨Hoje fui honrada com um mandato de prefeita da minha cidade; é um dia que eu nunca vou esquecer! Serei eternamente grata pela confiança depositada em mim pelos camaragibenses. Vamos - eu e Delio Júnior- governar para todos, com prioridade para os que mais precisam. A cidade terá uma prefeita comprometida, que trabalhará dia e noite para melhorar a vida do nosso povo! Contem comigo e vamos ao trabalho!”, escreveu em uma publicação no Instagram.

Já a cidade de Uberaba, em Minas Gerais, empossou pela primeira vez uma mulher no executivo municipal. Elisa Araújo (Solidariedade) lembrou que a eleição foi o acontecimento mais desafiador de sua vida.

“Encontrei em mim, uma mulher que nem eu sabia que existia. A força foi encontrada no dia a dia, no encontro com as pessoas que depositaram a esperança delas em mim. Agradeço, agora como prefeita, todo esse apoio”, destacou. A nova prefeita também se comprometeu a atuar com ética, transparência, diálogo e disse que colocará o “coração” nas ações que promoverá. “Somos servidores do povo”, cravou.

Desafios 

Apesar do simbolismo que carrega a posse das prefeitas eleitas este ano, o cientista político Pedro Soares avalia que a crise da pandemia está entre as problemáticas que as mulheres terão que encaram nesta gestão. No entanto, ele lembra também que o grande desafio para estas mulheres está no campo simbólico, enfrentar o “machismo” estrutural, uma vez que, elas estão ocupando um espaço que historicamente, majoritariamente é formado por homens. Neste sentido, o estudioso frisa que, apesar de terem sido eleitas para comandar o mais alto posto municipal, elas terão uma equipe composta, em sua maioria, por homens. Soares pontua que ter uma mulher no comando faz os homens se sentirem “intimidados” e “incomodados”. Ele explica que o “mandonismo”, advindo da primeira república se aplica ao sentimento masculino em relação às mulheres nos espaços de poder. “As mulheres agora ocupam esse espaço de mandona. Não estou me referindo a essa semelhança colonial, mas a esse aspecto de ser quem manda mesmo", pontua.

Essas vitórias são históricas, ainda que seja em número pequeno, “há cem anos a mulher não podia nem votar no Brasil e hoje você tem uma mulher sendo prefeita, sendo vereadora, uma mulher sendo vice-governadora. Então, aos poucos, dentro de núcleo que tem um significado, um conjunto de características coloniais muito fortes, que são os países América Latina e o Brasil se inclui nesse grupo, a conquista feminina foi muito difícil. Foi necessário, na verdade, um conjunto de narrativas históricas, de eventos históricos acontecendo pelo mundo, para que esses eventos pudessem influenciar nessas vitórias”.

Soares assevera que também há um significado extremamente feminista, “porque reflete na luta da mulher, mesmo que a mulher não se observe como feminista, reflete a luta e as conquistas dela, dentro de um perfil político, ou seja, é a mulher tentando sair de uma seara do significado do outro. Porque a política, dentro do círculo político, sempre observada como o outro, assim como o indígena, assim como o negro, como os integrantes da comunidade LGBTQI+. No entanto, é que a mulher de maneira, não quantitativa, mas de maneira simbólica, ela é considerada dentro do perfil político como minoria. Aí dentro desse critério, a gente faz uma leitura de que a partir do momento em que ela avança e a cada eleição a gente percebe que esse número aumenta, da participação de mulheres na política, a gente percebe que ela vai se desvencilhando desse quesito de ser entendida como o outro e isso tem um perfil de luta feminista e feminina”.

 

No dia 15 de novembro, Cinthia Ribeiro (PSDB) foi reeleita prefeita de Palmas, no Tocantins, e será a única mulher a administrar uma capital pelos próximos quatro anos. Aos 43 anos, Cinthia tem uma trajetória marcada pela coordenação de campanhas políticas e por passagens pelo hospital por causa da família. Ela diz que seu "coração de mãe já foi testado de tudo que é jeito".

O ano de 2020 foi o primeiro em que a prefeita se lançou como cabeça de chapa. Em 2014, concorreu a vice-governadora de Tocantins pelo PTN (Atual Podemos), sem sucesso. Já em 2016, foi eleita vice-prefeita da capital pelo PSDB, na chapa de Carlos Amastha (PSB). Assumiu o cargo em 2018, depois de Amastha renunciar ao posto para concorrer ao governo do Estado - e perder. Neste ano, foi reeleita com 36,24% dos votos válidos no dia 15 - Palmas tem menos de 200 mil eleitores e, portanto, não tem segundo turno.

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Mais velha entre três irmãs, Cinthia nasceu em Anápolis (GO), filha de comerciante e dona de casa. Fonoaudióloga, ela se aproximou da política por causa do senador João Ribeiro, com quem foi casada. Ele faleceu em 2013, de leucemia.

Foi com João Ribeiro que Cinthia teve seu único filho, João Antônio, de 13 anos. Ela lembra que foi por causa da criança que passou os momentos mais difíceis de sua vida - e também os mais bonitos.

João Antônio nasceu com uma cardiopatia rara e precisou fazer uma cirurgia aos 21 dias de idade. Outras duas grandes cirurgias, uma antes do primeiro ano e outra aos sete, seriam necessárias. O menino passou pela cirurgia no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, o mesmo onde o pai, João Ribeiro, lutou pela vida durante um ano.

Cinthia se define como "uma mulher moderna". Católica, ela namora um pastor, Eduardo Mantoan, há dois anos e meio. Diz que é "de centro", "muito feminista" e "conservadora". Mesmo tendo dito que era "impossível não se emocionar" quando assistiu à posse de Jair Bolsonaro como presidente, Cinthia rejeita o adjetivo de bolsonarista. "Dizer que somos aliados é extremo". Para ela, a reeleição foi um marco importante e, sobre a representatividade feminina na política, diz que "ainda é necessário avançar mais".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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