Se você fizer uma pesquisa rápida na internet, procurando pelas ilhas que existem em Pernambuco, é possível encontrar o seguinte resultado: Arquipélago de São Pedro e São Paulo, Fernando de Noronha, Ilha de Santo Aleixo, Ilha de Itamaracá, Ilha do Massangano, Ilhota da Coroa do Avião. Todas elas separadas do Recife; ou melhor, quase todas. Localizada na Imbiribeira, zona sul da capital, existe uma ilha que é cercada pelos rios Beberibe, Tejipió e o Jordão. É a Ilha de Deus.
Uma ilha que até o ano de 2007, além dos rios, era cercada por muita miséria, palafitas, falta de saneamento básico e - claro - por um povo trabalhador. Com aproximadamente 2 mil moradores, essa comunidade pesqueira hoje investe e é banhada pelo chamado Turismo de Base Comunitária. Diferente do que se conhece por “turismo tradicional”, o de base comunitária é “um modelo alternativo ao modelo de massa. Geralmente é promovido em áreas com certo índice de vulnerabilidade. Valorizando a participação popular, os processos de autogestão, a cultura e os recursos locais. Com a finalidade de desenvolver o território (comunidade)”, explica João Paulo, doutorando em Desenvolvimento Humano.
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A entidade por trás dessa implementação turística, e por muitas conquistas sociais dentro da Ilha, é a Saber Viver. A ONG atua na comunidade há trinta anos. Para se ter uma dimensão da atuação do grupo no local, a Saber Viver foi responsável pela alfabetização de maior parte das crianças da comunidade e pela conscientização de preservação do mangue. Tendo como gestora a Josenilda Pedro da Silva, mais conhecida como Nalvinha, filha da Ilha.
Nesse mundo de coalizão entre o que é bom e o que é ruim, a Ilha se mostra aberta para que as pessoas tenham uma vivência diferente daquilo que se costuma consumir no turismo. "Hoje a ilha tem uma estrutura muito boa. Nós temos o grupo de dança Nativos, as mulheres artesãs e o seu centro de artes, as marisqueiras e a Negra Linda (conhecida pelo seu tempero) e o nosso Marco Zero. Se a pessoa vier aqui e não for no Marco Zero, precisa voltar porque não conheceu a Ilha”, explanou Edy Rocha, coordenador dos projetos sociais na comunidade.
Com uma história de inovação, se comparada ao que se foi implementado nas outras comunidades do Recife - sendo a Bomba do Hemetério, localizada na zona norte do recife, única comunidade que desenvolve essa forma de turismo além da Ilha -, os "Ilhéus" só conseguiram acesso ao “básico” depois de muita luta. A única ponte existente no local, que permite o ir e vir dos moradores, foi entregue em 2009 e, não por acaso, tem o nome “Vitória das mulheres”. “Quando os alemães chegaram na Ilha de Deus, eles foram um dos responsáveis por incentivar as mulheres para que elas lutassem e conseguissem os seus objetivos. A comunidade era muito sofrida mas o povo era muito feliz. Vivíamos como índios”, lembrou Nalvinha.
“O movimento turístico na Ilha de Deus melhorou a imagem dela mediante a sociedade. Um local que era conhecido como violento e hoje é um lugar turístico. Além dos benefícios sociais como a autoestima das pessoas que cresce, porque o turista está indo conhecer a história dela. Sem falar das questões de emprego e renda que são oferecidos através desse Turismo de Base Comunitária”, afirmou João Paulo, que também é coordenador voluntário na Ilha.
Com Nalvinha, Edy e João à frente do projeto turístico, a comunidade, hoje estruturada, tem até um hostel, com um valor base de R$ 30 a diária. O espaço comporta até 50 turistas do país e do mundo, que se propõem a conhecer a cidade em troca de trabalhos comunitário. E não apenas isso, a Ilha também tem roteiro garantido no Catamarã desde o ano passado. Com um guia explicando a história do local, meio ambiente e cultura. O passeio custa hoje R$ 50 por pessoa.
Mesmo com as conquistas, eles ainda enfrentam algumas dificuldades para manter esse projeto. "As dificuldades que temos é por conta da atuação do poder público na garantia do básico. Falta também uma sensibilidade do mercado local para entender que essa forma de turismo é bacana e que o turista quer. As empresas do Brasil estão muito focadas ainda no turismo convencional, de sol e mar. Elas têm muitas dificuldades de se abrir para novos produtos como Bomba e Ilha”, finalizou João Paulo.
A única fonte de renda fixa da ONG Saber Viver vem da instituição alemã Aktionskreis Peter Beda, que são mantenedores há mais de 30 anos do projeto Semear e Colher - voltado para a educação ambiental e recuperação do mangue. Além disso, a Saber Viver é uma extensão do Porto Social, mantendo uma parceria.
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Mesmo com todo o trabalho de conscientização que há na comunidade, muitas pessoas ainda não respeitam o mangue, responsável pela filtração do rio. Por conta disso, e de lixos que são jogados em todo o rio - não apenas pelo povo da Ilha, mas por quem também tem acesso aos rios e mangues no Recife - a pesca de peixes é quase nenhuma na localidade. Muitos peixes foram encontrados mortos, flutuando no rio. Confira o depoimento de Fábio Pereira de Lima, 32 anos, morador da ilha.
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