Tópicos | dia do combate ao alcoolismo

Após um instante de silêncio, uma prece é lida e inicia-se a reunião de recuperação dos Alcoólicos Anônimos (A.A), com o compartilhamento de experiências, cada membro pode falar sobre durante 10 minutos para o tratamento dos membros do grupo. A data 18 de fevereiro é o Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, a data é para estimular a conscientização sobre os danos que a doença pode causar ao indivíduo.

Em Pernambuco, existem 402 grupos de Alcoólicos Anônimos registrados, sendo 111 no Recife e 41 em Olinda, além dos outros municípios do Estado.

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Uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig) mostra que 55% da população brasileira tem o hábito de consumir bebidas alcoólicas, sendo que 17,2% declaram aumento do consumo durante a pandemia da Covid-19 associado a quadros de ansiedade, devido ao isolamento social. 

Psiquiatra da Singular e tesoureira da Sociedade Pernambucana de Psiquiatria, Mayara Barros confirmou o uso do álcool atrelado a outras doenças mentais. “O uso de álcool tem muita relação com transtornos depressivos, ansiosos, fobia social, principalmente no homem, que começa a beber para conseguir se desenrolar no trabalho, apresentação da faculdade, para dar em cima de uma pessoa numa festa. Ele começa a beber para se sentir melhor numa relação e acaba relacionando com outros transtornos mentais que precisam ser identificados”, explica. 

O levantamento aponta que uma em cada três pessoas no país consome álcool pelo menos uma vez na semana. O consumo abusivo de bebidas foi relatado por 18,8% dos brasileiros ouvidos na pesquisa. 

Já durante a pandemia, uma pesquisa realizada pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) mostrou que a venda de bebidas online subiu para 93,9%, ou seja, houve um grande aumento no consumo. 

O delegado suplente da área 6 dos Alcoólicos Anônimos, que não quis ter o nome revelado, tendo em vista a proposta do grupo, relatou o aumento de pessoas que procuraram o grupo pós-lockdown. "A quantidade de pessoas que vieram pra cá depois da pandemia aumentou bastante. E depois da nossa divulgação que fazemos todos os anos nos ônibus da Região Metropolitana do Recife foi que aumentou mesmo, e sempre acontece nessa época de janeiro e fevereiro. Para se ter noção, existe no escritório de 7 a 10 pedidos de ajuda, mas quando há essa divulgação o número triplica. Procuramos saber de qual bairro e cidade a pessoa é, porque temos uma listagem dos grupos e quase toda cidade do interior tem um grupo de A.A", detalhou. 

Ele explicou que no A.A quem se diagnostica como alcoólatra ou alcoólico é a pessoa que tem problemas com o álcool, a partir da resposta de 12 perguntas. "Nós geralmente não diagnosticamos que a pessoa é alcoólatra, só ela que decide através de 12 perguntas formuladas durante as reuniões que fazemos. A pessoa analisa as perguntas e se tiver enquadrado em quatro ou mais, possivelmente ela pode ser alcoólica, ou está em um futuro bem próximo".  

Mayara Barros ressaltou que o tratamento psicológico, psicoterápico e com o A.A se complementam e, inclusive, indica pacientes com o transtorno para o A.A. "Os tratamentos não são excludentes, eles se complementam. O trabalho do A.A é válido porque não é todo mundo que tem acesso a psiquiatria, psicoterapia. Sempre encaminho meus pacientes alcoolistas a procurar o A.A, que é um tratamento de apoio. Um paciente que tem abstinência, se sente mal e está num A.A, às vezes precisa de medicação para ajudar a passar pela abstinência. Se um paciente grave parar de beber e não fizer o internamento para a desintoxicação para depois estarem em um ambiente menos controlado, ele morre". 

Para a psiquiatria, o alcoolista pode ser diagnosticado a partir do Diagnostic and Statistical Manual Of Mental Disorders 5 (DSM 5). "Algumas questões têm que ter sofrimento, um comprometimento no último ano e entra algumas questões com 11 critérios, e se você pontuar mais de dois deles como, por exemplo, consumo de álcool em maiores quantidades e por um tempo mais longo do que você queria; não ter momento de parar; uso em momentos inadequados; gasta muito dinheiro para comprar álcool; deixa de trabalhar, ir para evento importante da família porque está de ressaca ou bêbado; é um critério de alerta". 

A reportagem do LeiaJá foi até um dos encontros que acontecem todos os dias em Olinda, na Rua Jerônimo de Albuquerque, 182 - Varadouro, ás 19h30. Foi possível constatar a presença de vários homens e algumas mulheres. Além disso, foi possível conversar com alguns dos membros. 

Um dos membros que está no A.A há nove anos relatou ter tido conhecimento da associação após ter sido socorrido ao hospital por conta da bebida por diversas vezes. "Toda vez que eu bebia era socorrido. A última vez que fui socorrido, a médica que foi conversar comigo falou que se eu continuasse a beber da maneira que eu tava, eu ia morrer, porque eu já tava vomitando sangue; uma hora eu vomitava verde. Pedi pra ela passar um remédio para eu parar de beber, ela falou, 'procure um CAPS ou o Alcoólicos Anônimos'. Foi quando eu vim pra cá, no dia 18 de agosto de 2013 e me declarei alcoólatra. Já vou completar nove anos e estou dando continuidade ao programa". 

Ele contou que ficava desconfiado de ir para o A.A no início, mas depois "vi que se não viesse pra cá, não teria jeito". "Eu tentei parar de beber de várias maneiras e não consegui. Fui pro Caps, passei um mês lá, tomava alguns remédios, mas voltei a beber de novo. Fui para a igreja evangélica, levantei a mão, aceitei Jesus e não deu jeito, foi quando eu decidi procurar o A.A. Só não perdi a minha família porque a minha esposa, graças a Deus, teve paciência comigo. Eu não ia trabalhar quando bebia e começava a passar necessidade dentro de casa, o meu mal na bebida era isso". 



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De acordo com ele, a pior parte do processo de recuperação foi a dependência do álcool no organismo. "Me tornei um dependente do álcool, essa foi a pior parte que passei do alcoolismo. Pra tudo na minha vida tinha que ter álcool: quando eu acordasse, tinha que beber, porque senão passava mal, e quando era de noite tinha que beber de novo, porque senão não dormia, tinha alucinações, via bicho, barata, timbu. Minha esposa contou que teve uma vez que eu tava conversando comigo mesmo no espelho, mas na minha imagem eu via outra pessoa. Nos primeiros três meses da fase de recuperação foi um pouco difícil por causa da abstinência, mas depois foi mais fácil. Desde quando entrei no programa venho dando continuidade, quase todos os dias eu estou aqui, melhor do que ficar em casa assistindo TV é estar numa sala de A.A, porque pelo menos estou me recuperando". 

Mayara falou, ainda, que o alcoolista metaboliza o álcool mais rápido porque vai criando tolerância e vai precisando de quantidades maiores. Isso pode causar vários problemas de saúde e físicos. "Além do problema no fígado com a cirrose, pode dar problema cardíaco de coração crescido, demência induzida pelo uso de álcool, diminuição na alimentação, que baixa a vitamina B12 e dá problema de coordenação motora", detalhou.

Ela chamou atenção que na psiquiatria não se usa mais a nomenclatura "alcoólatra", por ter se vulgarizado e se tornado um xingamento. "Mudou pela carga que o nome carrega, acabou virando xingamento. Acontece com transtorno mental como um todo e hoje a gente usa transtorno por uso de álcool, abstinência ao álcool, não existe formalmente esse nome 'alcoolismo' para a psiquiatria", disse. 

Um outro membro que faz parte da associação há 38 anos, e teve como palco de alcoolismo o bairro de Afogados, Zona Oeste do Recife, confessou ter sido um alcoólico problemático. "Perdi família, esposa, trabalho, muita coisa. Fiz uma fuga geográfica porque eu não aguentava mais ser enxotado pela família. Pedi demissão do meu primeiro emprego e vim passar o Carnaval em Olinda, não conhecia o Carnaval da cidade. Aqui, recebi uma abordagem de um ex-funcionário do meu pai, que trabalhava de dia e bebia à noite. Ele sentou no bar comigo, eu pedi uma cerveja e ele um refrigerante, até estranhei, foi quando ele falou do A.A e, desesperado, eu disse que não queria parar de beber, 'eu quero é beber'". 
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"De calça e blusão jeans, encontrei umas pessoas desconhecidas que fiz amizade. Dormi na casa deles, comecei a namorar com uma menina e depois de três meses estava casado de novo. Desempregado, comecei a beber e essa foi a minha vida durante quatro anos, até que no dia 28 de junho de 1974, levei um tapa na cara de um dono de uma barraca que não quis me vender fiado. O esculhambei, recebi uma mão para me levantar, e foi chorando com o rosto inchado que naquele dia em diante eu decidi que não ia ser mais desmoralizado", afirmou.

Como funciona o A.A

Além das reuniões presenciais, que podem ser checadas local, data e hora no site da organização, o A.A também conta com reuniões de recuperação online, que acontecem de segunda a domingo, das 20h às 22h.

O interessado ou interessada também pode entrar em contato por telefone, ligando para o escritório pelo número 3221-1555, localizado no Edifício Tereza Cristina, localizado na Praça Machado de Assis, 63, na Boa Vista.  

"Alcoólicos Anônimos é uma Irmandade de homens e mulheres que compartilham suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolverem seu problema comum e ajudarem outros a se recuperarem do alcoolismo. O único requisito para tornar-se membro é o desejo de parar de beber. Para ser membro de A.A. não há taxas ou mensalidades; somos autossuficientes, graças às nossas próprias contribuições. A.A. não está ligada a nenhuma seita ou religião, nenhum movimento político, nenhuma organização ou instituição; não deseja entrar em qualquer controvérsia; não apoia nem combate quaisquer causas. Nosso propósito primordial é mantermo-nos sóbrios e ajudar outros alcoólicos a alcançarem a sobriedade", é o que diz o conceito da Associação.

12 perguntas

1. Já tentou parar de beber por uma semana (ou mais), sem conseguir atingir seu objetivo?



2. Ressente-se com os conselhos dos outros que tentam fazê-lo parar de beber?



3. Já tentou controlar sua tendência de beber demais, trocando uma bebida alcoólica por outra?



4. Tomou algum trago pela manhã nos últimos doze meses?



5. Inveja as pessoas que podem beber sem criar problemas?



6. Seu problema de bebida vem se tornando cada vez mais sério nos últimos doze meses?



7. A bebida já criou problemas no seu lar?



8. Nas reuniões sociais onde as bebidas são limitadas, você tenta conseguir doses extras?



9. Apesar de prova em contrário, você continua afirmando que bebe quando quer e pára quando quer?



10. Faltou ao serviço, durante os últimos doze meses, por causa da bebida?



11. Já experimentou alguma vez ‘apagamento’ durante uma bebedeira?



12. Já pensou alguma vez que poderia aproveitar muito mais a vida, se não bebesse?

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