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O primeiro contato com o álcool geralmente ocorre na adolescência e muitas vezes é visto como um rito de passagem. Alguns vão conviver harmonicamente com a bebida alcoólica, mas para muitos, esta relação será conturbada. O excesso acaba interferindo na profissão, nas relações familiares e nas amizades. 

Foi o que aconteceu com Laura*. A jovem conta que começou a beber ainda aos 13 anos e, em pouco tempo, viu o álcool tomar uma dimensão cada vez maior em sua vida, ao ponto de começar a beber ainda pela manhã. 

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“Com o tempo, toda festa que eu ia eu bebia. Passou mais um tempo, eu comecei a beber antes da festa, durante a festa e depois. Eu não conseguia estudar, não conseguia focar nas coisas que eu precisava focar e eu vi que o álcool estava virando um problema na minha vida”, relembra Laura.

A presença do álcool foi avassaladora também para Torres*. O primeiro contato com as bebidas alcoólicas foi logo aos 12 anos.

"Aos 15 anos, eu já bebia todo final de semana. Aos 25 anos, eu bebia praticamente todos os dias à noite. Aos 32 anos eu já bebia pela manhã. Entre os 30 e 32 anos, começaram minhas internações por alcoolismo. O alcoolismo vai parando todas as áreas da vida. a área profissional, a área afetiva, a área espiritual. Vai abandonado todo o contato que eu tinha com uma força maior, natureza, com esporte. A gente vai largando a parte boa da vida e se dedicando a se afundar no alcoolismo”.

Irmandade

Embora com uma grande diferença de idade, as histórias de Laura e Torres se cruzaram em uma das unidades dos Alcoólicos Anônimos (AA), na zona sul do Rio de Janeiro. Ali conheceram outras pessoas com o mesmo problema. Através dos encontros, no que chamam de irmandade, foram se abrindo e largando a bebida. Hoje deixaram totalmente de consumir álcool.

“Eu me perdi completamente. Foi olhando no espelho e não sabendo mais quem eu era que eu pensei que eu precisava tomar uma atitude. Eu vi no site dos Alcoólicos Anônimos e no site tem doze perguntas. Tá escrito que se você responder a quatro perguntas, você pode ter algum problema com o álcool. Eu gabaritei”, conta Laura.

Há 25 anos no AA, Torres diz que a admissão do problema é um passo importante. “Quando a chave vira, quando a admissão do alcoolismo é completa, quando eu entendo que perdi o controle da minha vida para o álcool, e eu posso não beber um dia de cada vez, como meus companheiros fazem. A chave vira, a mente abre”

O Alcoólicos Anônimos, entidade criada nos Estados Unidos na década de 1930, é uma porta sempre aberta para quem deseja largar o álcool. No Brasil, são 76 anos de atividade, tendo como uma das principais regras o anonimato. Ninguém pergunta o nome ou a profissão de quem chega. Cada um pode adotar um apelido e o comparecimento é voluntário. Mas o vínculo que se forma entre os membros da irmandade é muito forte. Quando alguém sente que está propenso a voltar a beber, liga para um dos companheiros e pede ajuda, e sempre a recebe. 

Vice-presidente nacional do AA, a psicóloga Gabriela Henriques conta que a entidade está sempre aberta em centenas de endereços no Brasil para ajudar, de forma gratuita, quem precisa.

“A partir do momento que a pessoa entende que tem uma dificuldade no uso com a bebida alcoólica, ela pode procurar o Alcoólicos Anônimos participando  de uma reunião, indo ao grupo, pedindo ajuda, que é o propósito primordial do AA, que é estender a mão ao alcoólico que ainda sofre”.

Uma das portas de entrada para buscar ajuda é a página da entidade na internet, onde é possível saber a localização do AA mais próximo e até mesmo conversar com alguém pelo WhatsApp. 

*Nomes fictícios a pedido dos entrevistados.

*Para preservar o anonimato, foram utilizados nomes fictícios. 

“A bebida começou a interferir no meu relacionamento e na minha vida como um todo. A decadência foi tão rápida que eu comecei a perder espaço na empresa onde trabalhava, a perder espaço em casa, comecei a ser negligente e a ter um comportamento bastante distorcido, mas não admitia. Eu carregava as características de uma pessoa com problemas de alcoolismo e negava a realidade, não associava a minha forma de agir e o problema à bebida. Para mim, o problema sempre estava nos outros”. 

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Luiz* é um voluntário na irmandade dos Alcoólicos Anônimos do Brasil e responsável pela equipe de divulgação do grupo em Pernambuco. Aos 60 anos de idade, celebra, junto à comunidade que o acolheu, quase 33 anos de sobriedade, que fecham o ciclo exato no próximo mês de julho. O depoimento dele, apesar de suas particularidades, é similar a muitos outros ouvidos pelas pessoas que enfrentam o alcoolismo. 

O lema de “beber com moderação” se perde especialmente entre os homens. De acordo com a Vigilância de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2019), do Ministério da Saúde, o padrão de consumo de 18,8% da população brasileira é de bebedor abusivo. Entre os homens, esse percentual é de 25,4%. Em 2010, esse número era de 27%. 

A ingestão de bebida alcoólica entre as mulheres, no entanto, aumentou nesse período. Em 2010, 10,5% delas tinham um consumo abusivo. Em 2019, esse percentual subiu para 13,3%. O levantamento também mostrou que subiu o consumo abusivo entre pessoas com mais de 55 anos. Em 2010, o percentual era de 8,9. Já em 2019, de 10,3%. 

Em confronto às tendências de consumo do álcool no país, surge a irmandade dos Alcoólicos Anônimos (AA), que completou, neste mês, 88 anos de vida. O AA, que opera a nível mundial, surgiu em 1935, nos Estados Unidos. Após 12 anos, em 1947, chegou ao Paraná, no Sul do Brasil. Em Pernambuco, o primeiro escritório foi montado apenas em 1964, durante a ditadura militar. O escritório de Luiz, que funciona no Centro do Recife, existe há 51 anos, desde 1972.  

A experiência  

Luiz tinha 27 anos quando conheceu um grupo do AA na capital pernambucana. Ele foi convencido por um tio, que tinha conhecidos passando pelo processo de adaptação, bem como outros que já se encontravam em estado de sobriedade, mas seguiam participando das reuniões. Esse comportamento, segundo o voluntário, é bem comum entre os membros. Todos se consideram uma grande família, costumam ser participativos nas vidas pessoais uns dos outros, e mantém contato ainda que a sobriedade esteja sólida há muito tempo. 

O integrante acredita que motivos pessoais o empurraram para o álcool, como uma forma que ele encontrou de sair da própria realidade. O contato com a bebida começou cedo, aos 14 anos, e o surgimento da paternidade de duas crianças, aos 21 e 23 anos, acabou por torná-lo imerso em suas responsabilidades. “Comecei a trabalhar cedo, isso me deu autonomia para beber mais. Eu tinha como pagar, saía com gente mais velha, vivia fora de casa”, relata Luiz. 

O primeiro relato de Luiz exibido aqui conta que ele percebeu ter perdido espaço na empresa onde trabalhava. Agora, 33 anos depois, ele celebra a oportunidade de ter passado mais 12 anos trabalhando no mesmo local, de onde saiu para experiências ainda melhores, isso também depois de ter recuperado a boa relação com sua esposa. Tudo graças ao AA, de acordo com o voluntário. 

“As pessoas notavam um comportamento de irresponsabilidade. O alcoólico tem um comportamento de muita intolerância. Grosseria, truculência, falta de paciência, a coisa da negação, a defesa. Tinha muito orgulho e vivia fora da realidade. As coisas aconteciam e eu não via. Todo mundo via, menos eu. Comecei a mentir muito, a dar muita desculpa. Aí ele [o tio] contou a história dele e como conseguiu resolver entrando no AA. Fui para uma reunião pela primeira vez e não entendi bem, mas percebi muita coisa. Senti de forma muito positiva o AA porque tive a sensação de acolhimento, porque fui recebido pelos companheiros. Me deu prazer e satisfação estar ali”, completa Luiz. 

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André*, de 74 anos, é um companheiro de AA de Luiz. Os dois se conheceram através da irmandade, há mais de duas décadas, e hoje dividem as responsabilidades do voluntariado no grupo recifense. André está sóbrio, de forma contínua, há 39 anos. Ele explica que no AA não há contratações, todos são voluntários e funcionam, de fato, como uma irmandade independente e autossuficiente.  

“O voluntário se coloca à disposição para servir. Independente de qualquer cargo, por si só, um membro de AA já é um voluntário. Há só um propósito: o de acolher o alcoólico que ainda sofre. O companheiro sem cargo nenhum tá lá e ajuda. Se ele se levanta e vai entender, ele é um voluntário. A irmandade não pode contratar ninguém”, explica André. 

Para os irmãos, as reuniões são trocas de experiências, forças e esperanças. “Eu estou há 42 anos participando do AA e não tenho nenhuma dúvida de que sobrevivi à morte. O comportamento com relação às emoções que me levaram a beber foram todos trabalhados no AA. O primeiro ponto do programa de AA é a sobriedade. Evitar o primeiro gole. A gente passa a gostar do novo modo de vida. O mais importante pra mim é o controle das minhas emoções. Eu procurava medidas fáceis, álcool, droga”, conta. 

A irmandade dos Alcoólicos Anônimos tem 355 grupos funcionando presencialmente em Pernambuco e quem cuida de cada reunião são os servidores do local. No Brasil, são quatro mil grupos. Durante a pandemia, eles passaram a fazer encontros on-line para manter o ritmo e o formato continua existindo mesmo após o retorno do presencial. Uma das conquistas do AA Brasil foi a condição de ter reuniões virtuais mais extensas e com links pro Brasil todo, sem custo adicional na plataforma do Google Meet. 

Onde encontrar ajuda em Pernambuco? 

O escritório matriz da irmandade dos Alcoólicos Anônimos em Pernambuco fica no Empresarial Pessoa de Melo, no endereço Avenida Conde da Boa Vista, número 50. O funcionamento do escritório acontece entre às 8h e 17h, de segunda a sexta-feira. Lá, interessados podem buscar informações e ser realocados para grupos de atendimento que pertencem às suas regiões ou bairros. Só no Recife, há 88 grupos disponíveis, com reuniões semanais. 

A listagem completa você confere aqui.

Alguns dos grupos

Grupo Espinheiro (Recife) 

R. Conselheiro Portela, s/n, Aflitos 

Igreja Matriz do Espinheiro 

Anexo da Igreja Matriz do Espinheiro 

Reuniões: terças-feiras, das 19h30⁠ às ⁠21h30 

Grupo Caminho Certo (Recife) 

R. São Miguel, 87, Afogados 

Escola Estadual Amaury de Medeiros 

Reuniões: sábados, das 16h às 18h / domingos, das 10h⁠ às 12h 

Grupo Derepente (Recife) 

R. Severino Bernardino Pereira, 289, Alto José do Pinho 

Sede Própria 

Reuniões: terças, das 19h30⁠ às ⁠21h30 / quintas, das 19h30⁠ às ⁠21h30 

Grupo Só Por Hoje (Recife) 

R. Cassiterita, 91, Brejo da Guabiraba 

Sede Propria 

Reuniões: segundas, das 19h às ⁠21h / quartas, das 19h às 21h / domingos, das 16h às 18h 

Grupo Barra de Jangada (Jaboatão dos Guararapes) 

R. Rio Pardo, 148, Barra de Jangada 

Capela de Santo Antônio 

Reuniões: segundas, das 19h às ⁠21h 

Grupo 13 de Maio (Jaboatão dos Guararapes)  

Av. Leonardo da Vinci, S/N, Curado 2 

Escola Municipal Simon Boliva 

Reuniões: quartas, das 19h30⁠ às ⁠21h30 

Grupo Abraham Lincoln (Cabo de Santo Agostinho) 

R. Dr. Antônio de Souza Leão, 115, Centro 

Igreja do Livramento 

Reuniões: terças, quintas e domingos, das 19h às 21h⁠  

 

Uma pesquisa sobre o alcoolismo feminino nos grupos de Alcoólicos Anônimos (AA) mostra que o tratamento das mulheres pode ser mais eficiente quando os encontros dos participantes são realizados apenas com pessoas do sexo feminino. O estudo, conduzido por pesquisadores da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), foi publicado na revista Drug and Alcohol Review .

Segundo o autor da pesquisa, o professor Edemilson de Campos, as mulheres relataram sentirem-se  menos acolhidas e mais expostas nos grupos mistos. O programa terapêutico do AA se baseia no compartilhamento de experiências e de vivências.

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“Nas reuniões onde elas participam com os homens, muitas vezes elas têm dificuldade para expor questões íntimas, questões mais pessoais, que envolve, por exemplo, a questão da sexualidade ou questões afetivas. Elas se sentem intimidadas pelos homens e também, em alguns casos, se referem a assédio, a brincadeiras sexistas, que os homens fazem”.

“Pelo que eu constatei, em entrevistas e também na observação dessas reuniões, algumas mulheres conseguem participar de reuniões mistas, mas a maioria ou a maior parte não consegue, elas acabam muitas vezes abandonando o tratamento por conta disso”, acrescentou.

O pesquisador ressalta que o alcoolismo feminino enfrenta preconceito maior na sociedade do que o masculino. Segundo ele, a mulher alcoólatra é muito mais estigmatizada, ou seja, mesmo que sofra da mesma doença, ser dependente de álcool para a mulher é mais “desonroso” do que para o homem. 

“O uso de bebidas alcoólicas por homens e mulheres a sociedade vê de forma diferenciada. Para a sociedade, a mulher assumir que ela tem o alcoolismo é uma questão difícil, existe um preconceito muito forte da mulher alcoolista, e da mulher que bebe também. Isso dificulta para que ela assuma que está realmente dependente do álcool. É um problema da sociedade como um todo, que reflete no próprio AA”.

Segundo o último inventário feito pelo AA, em 2018, cerca de 13% dos participantes eram mulheres. Na capital paulista, de acordo com o pesquisador, dos 120 grupos existentes na cidade, apenas dois realizam reuniões exclusivamente femininas.

“E é nesse espaço feminino, da reunião feminina, que as mulheres se sentem mais acolhidas. Entre pares, entre iguais, enfim, do ponto de vista de gênero, aí elas conseguem compartilhar melhor as suas experiências. Esse espaço de gênero é muito importante para a recuperação das mulheres”.

Após um instante de silêncio, uma prece é lida e inicia-se a reunião de recuperação dos Alcoólicos Anônimos (A.A), com o compartilhamento de experiências, cada membro pode falar sobre durante 10 minutos para o tratamento dos membros do grupo. A data 18 de fevereiro é o Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, a data é para estimular a conscientização sobre os danos que a doença pode causar ao indivíduo.

Em Pernambuco, existem 402 grupos de Alcoólicos Anônimos registrados, sendo 111 no Recife e 41 em Olinda, além dos outros municípios do Estado.

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Uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig) mostra que 55% da população brasileira tem o hábito de consumir bebidas alcoólicas, sendo que 17,2% declaram aumento do consumo durante a pandemia da Covid-19 associado a quadros de ansiedade, devido ao isolamento social. 

Psiquiatra da Singular e tesoureira da Sociedade Pernambucana de Psiquiatria, Mayara Barros confirmou o uso do álcool atrelado a outras doenças mentais. “O uso de álcool tem muita relação com transtornos depressivos, ansiosos, fobia social, principalmente no homem, que começa a beber para conseguir se desenrolar no trabalho, apresentação da faculdade, para dar em cima de uma pessoa numa festa. Ele começa a beber para se sentir melhor numa relação e acaba relacionando com outros transtornos mentais que precisam ser identificados”, explica. 

O levantamento aponta que uma em cada três pessoas no país consome álcool pelo menos uma vez na semana. O consumo abusivo de bebidas foi relatado por 18,8% dos brasileiros ouvidos na pesquisa. 

Já durante a pandemia, uma pesquisa realizada pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) mostrou que a venda de bebidas online subiu para 93,9%, ou seja, houve um grande aumento no consumo. 

O delegado suplente da área 6 dos Alcoólicos Anônimos, que não quis ter o nome revelado, tendo em vista a proposta do grupo, relatou o aumento de pessoas que procuraram o grupo pós-lockdown. "A quantidade de pessoas que vieram pra cá depois da pandemia aumentou bastante. E depois da nossa divulgação que fazemos todos os anos nos ônibus da Região Metropolitana do Recife foi que aumentou mesmo, e sempre acontece nessa época de janeiro e fevereiro. Para se ter noção, existe no escritório de 7 a 10 pedidos de ajuda, mas quando há essa divulgação o número triplica. Procuramos saber de qual bairro e cidade a pessoa é, porque temos uma listagem dos grupos e quase toda cidade do interior tem um grupo de A.A", detalhou. 

Ele explicou que no A.A quem se diagnostica como alcoólatra ou alcoólico é a pessoa que tem problemas com o álcool, a partir da resposta de 12 perguntas. "Nós geralmente não diagnosticamos que a pessoa é alcoólatra, só ela que decide através de 12 perguntas formuladas durante as reuniões que fazemos. A pessoa analisa as perguntas e se tiver enquadrado em quatro ou mais, possivelmente ela pode ser alcoólica, ou está em um futuro bem próximo".  

Mayara Barros ressaltou que o tratamento psicológico, psicoterápico e com o A.A se complementam e, inclusive, indica pacientes com o transtorno para o A.A. "Os tratamentos não são excludentes, eles se complementam. O trabalho do A.A é válido porque não é todo mundo que tem acesso a psiquiatria, psicoterapia. Sempre encaminho meus pacientes alcoolistas a procurar o A.A, que é um tratamento de apoio. Um paciente que tem abstinência, se sente mal e está num A.A, às vezes precisa de medicação para ajudar a passar pela abstinência. Se um paciente grave parar de beber e não fizer o internamento para a desintoxicação para depois estarem em um ambiente menos controlado, ele morre". 

Para a psiquiatria, o alcoolista pode ser diagnosticado a partir do Diagnostic and Statistical Manual Of Mental Disorders 5 (DSM 5). "Algumas questões têm que ter sofrimento, um comprometimento no último ano e entra algumas questões com 11 critérios, e se você pontuar mais de dois deles como, por exemplo, consumo de álcool em maiores quantidades e por um tempo mais longo do que você queria; não ter momento de parar; uso em momentos inadequados; gasta muito dinheiro para comprar álcool; deixa de trabalhar, ir para evento importante da família porque está de ressaca ou bêbado; é um critério de alerta". 

A reportagem do LeiaJá foi até um dos encontros que acontecem todos os dias em Olinda, na Rua Jerônimo de Albuquerque, 182 - Varadouro, ás 19h30. Foi possível constatar a presença de vários homens e algumas mulheres. Além disso, foi possível conversar com alguns dos membros. 

Um dos membros que está no A.A há nove anos relatou ter tido conhecimento da associação após ter sido socorrido ao hospital por conta da bebida por diversas vezes. "Toda vez que eu bebia era socorrido. A última vez que fui socorrido, a médica que foi conversar comigo falou que se eu continuasse a beber da maneira que eu tava, eu ia morrer, porque eu já tava vomitando sangue; uma hora eu vomitava verde. Pedi pra ela passar um remédio para eu parar de beber, ela falou, 'procure um CAPS ou o Alcoólicos Anônimos'. Foi quando eu vim pra cá, no dia 18 de agosto de 2013 e me declarei alcoólatra. Já vou completar nove anos e estou dando continuidade ao programa". 

Ele contou que ficava desconfiado de ir para o A.A no início, mas depois "vi que se não viesse pra cá, não teria jeito". "Eu tentei parar de beber de várias maneiras e não consegui. Fui pro Caps, passei um mês lá, tomava alguns remédios, mas voltei a beber de novo. Fui para a igreja evangélica, levantei a mão, aceitei Jesus e não deu jeito, foi quando eu decidi procurar o A.A. Só não perdi a minha família porque a minha esposa, graças a Deus, teve paciência comigo. Eu não ia trabalhar quando bebia e começava a passar necessidade dentro de casa, o meu mal na bebida era isso". 



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De acordo com ele, a pior parte do processo de recuperação foi a dependência do álcool no organismo. "Me tornei um dependente do álcool, essa foi a pior parte que passei do alcoolismo. Pra tudo na minha vida tinha que ter álcool: quando eu acordasse, tinha que beber, porque senão passava mal, e quando era de noite tinha que beber de novo, porque senão não dormia, tinha alucinações, via bicho, barata, timbu. Minha esposa contou que teve uma vez que eu tava conversando comigo mesmo no espelho, mas na minha imagem eu via outra pessoa. Nos primeiros três meses da fase de recuperação foi um pouco difícil por causa da abstinência, mas depois foi mais fácil. Desde quando entrei no programa venho dando continuidade, quase todos os dias eu estou aqui, melhor do que ficar em casa assistindo TV é estar numa sala de A.A, porque pelo menos estou me recuperando". 

Mayara falou, ainda, que o alcoolista metaboliza o álcool mais rápido porque vai criando tolerância e vai precisando de quantidades maiores. Isso pode causar vários problemas de saúde e físicos. "Além do problema no fígado com a cirrose, pode dar problema cardíaco de coração crescido, demência induzida pelo uso de álcool, diminuição na alimentação, que baixa a vitamina B12 e dá problema de coordenação motora", detalhou.

Ela chamou atenção que na psiquiatria não se usa mais a nomenclatura "alcoólatra", por ter se vulgarizado e se tornado um xingamento. "Mudou pela carga que o nome carrega, acabou virando xingamento. Acontece com transtorno mental como um todo e hoje a gente usa transtorno por uso de álcool, abstinência ao álcool, não existe formalmente esse nome 'alcoolismo' para a psiquiatria", disse. 

Um outro membro que faz parte da associação há 38 anos, e teve como palco de alcoolismo o bairro de Afogados, Zona Oeste do Recife, confessou ter sido um alcoólico problemático. "Perdi família, esposa, trabalho, muita coisa. Fiz uma fuga geográfica porque eu não aguentava mais ser enxotado pela família. Pedi demissão do meu primeiro emprego e vim passar o Carnaval em Olinda, não conhecia o Carnaval da cidade. Aqui, recebi uma abordagem de um ex-funcionário do meu pai, que trabalhava de dia e bebia à noite. Ele sentou no bar comigo, eu pedi uma cerveja e ele um refrigerante, até estranhei, foi quando ele falou do A.A e, desesperado, eu disse que não queria parar de beber, 'eu quero é beber'". 
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"De calça e blusão jeans, encontrei umas pessoas desconhecidas que fiz amizade. Dormi na casa deles, comecei a namorar com uma menina e depois de três meses estava casado de novo. Desempregado, comecei a beber e essa foi a minha vida durante quatro anos, até que no dia 28 de junho de 1974, levei um tapa na cara de um dono de uma barraca que não quis me vender fiado. O esculhambei, recebi uma mão para me levantar, e foi chorando com o rosto inchado que naquele dia em diante eu decidi que não ia ser mais desmoralizado", afirmou.

Como funciona o A.A

Além das reuniões presenciais, que podem ser checadas local, data e hora no site da organização, o A.A também conta com reuniões de recuperação online, que acontecem de segunda a domingo, das 20h às 22h.

O interessado ou interessada também pode entrar em contato por telefone, ligando para o escritório pelo número 3221-1555, localizado no Edifício Tereza Cristina, localizado na Praça Machado de Assis, 63, na Boa Vista.  

"Alcoólicos Anônimos é uma Irmandade de homens e mulheres que compartilham suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolverem seu problema comum e ajudarem outros a se recuperarem do alcoolismo. O único requisito para tornar-se membro é o desejo de parar de beber. Para ser membro de A.A. não há taxas ou mensalidades; somos autossuficientes, graças às nossas próprias contribuições. A.A. não está ligada a nenhuma seita ou religião, nenhum movimento político, nenhuma organização ou instituição; não deseja entrar em qualquer controvérsia; não apoia nem combate quaisquer causas. Nosso propósito primordial é mantermo-nos sóbrios e ajudar outros alcoólicos a alcançarem a sobriedade", é o que diz o conceito da Associação.

12 perguntas

1. Já tentou parar de beber por uma semana (ou mais), sem conseguir atingir seu objetivo?



2. Ressente-se com os conselhos dos outros que tentam fazê-lo parar de beber?



3. Já tentou controlar sua tendência de beber demais, trocando uma bebida alcoólica por outra?



4. Tomou algum trago pela manhã nos últimos doze meses?



5. Inveja as pessoas que podem beber sem criar problemas?



6. Seu problema de bebida vem se tornando cada vez mais sério nos últimos doze meses?



7. A bebida já criou problemas no seu lar?



8. Nas reuniões sociais onde as bebidas são limitadas, você tenta conseguir doses extras?



9. Apesar de prova em contrário, você continua afirmando que bebe quando quer e pára quando quer?



10. Faltou ao serviço, durante os últimos doze meses, por causa da bebida?



11. Já experimentou alguma vez ‘apagamento’ durante uma bebedeira?



12. Já pensou alguma vez que poderia aproveitar muito mais a vida, se não bebesse?

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