A relação de amizade tipicamente masculina é um assunto que pouco explorado na tela grande, mas que tem progressivamente ganhando espaço. Na era do politicamente correto é um tema perfeito para permitir que uma quantidade saudável de escatologia corra solto, que o humor negro derrame, e as piadas racistas possam ser contadas de forma impune. Ted é um filme assim: como o cartunista Quino fez com seu personagem Mafalda, o diretor Seth Macfarlane (Uma Família da Pesada) usa a boca infantilizada de um urso de pelúcia para falar muita bobagem divertida, e umas poucas verdades mais escabrosas de forma livre.
A história de Ted começa como muitos filmes sessão-da-tarde começam, com um inocente John pedindo um amigo perfeito que vai ficar com ele para sempre na noite de natal. Pedido realizado, Ted(Dublado pelo próprio diretor Macfarlane) ganha vida, e vira uma celebridade instanânea. John (Mark Walbergh, confortável no papel) cresce, a popularidade de Ted morre, e descobrimos que ele e seu ursinho continuam como melhores amigos, numa metáfora divertida daquele seu amigo de infância, babaca de um modo inofesivo e diverto, mas que nunca fez nada de decente com sua própria vida. Como melhores amigos que são, John e Ted dividem passatempos, opiniões, preferências por filmes, piadas sujas, drogas, e a paciência de Lori (Mila Kunis), a linda namorada de John que não vê a hora de que o namorado se livre do incômodo amigo de pelúcia para poderem ter uma vida juntos mais sossegada.
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A relação entre John, Lori e Ted é turbulenta, cheia de altos e baixos que podem ou não agradar dependendo do seu nivel de tolerância à piadas jogadas fora de contexto, afirmações politicamente incorretas e um pouco de misoginia. A figura do urso de pelúcia é incrivelmente fácil de se relacionar, e os diálogos são tão bem escritos como os de Superbad (2008), embora não tenha a elegância de ritmo e de desenvolvimento de personagens do mesmo. É um filme crú em certas características sobre amigos que se amam muito e que não se poupam de certas verdades, ajudado pela forma como o urso é caracterizado: a história funcionaria do mesmo modo, com os mesmos diálogos, se Ted fosse uma pessoa e não um urso. Como bons amigos, Ted e John se drogam juntos, falam bobagem alá Jay e Silent Bob (Clerks), adoram os mesmo filmes, por vezes deixando Lori viajando, e como bons amigos também se desentendem e descem pancada um no outro, uma cena ao mesmo tempo hilária pelo surrealismo de um homem adulto apanhando sonoramente de um ursinho de pelúcia, e profundamente tocante e triste. Celebridades também são incluídas na história, sendo fontes de piadas, como Ryan Raynolds, Norah Jones, que fazem pontinhas, e Justin Bieber e Brandon Routh, que são referenciados.
Porém como o próprio Ted, o filme é repleto de um recheio fofo e gordo de referências e piadas-dentro-de-piadas, à exemplo da adoração dos amigos ao Flash Gordon dos anos 70, que força a história quase a se ragar nas emendas. Existe uma linha fina, que Superbad respeita e Ted não, que define a elegância narrativa da história. Tudo no filme demora demais: A contextualização da amizade, a espera de Lori, a indecisão de John, e os 10 minutos finais da história que mereciam ser refeita. Nota para todos os roteiristas dos E.U.A: perseguições de carro NÃO são soluções para seus problemas de roteiro.