Sua agenda está tão lotada que só de ouvir falar tudo o que Isabelle Huppert tem pela frente muita gente já estaria cansada - pedindo férias. Ela participou de alguns eventos sociais do Festival Varilux na terça-feira, 15, e na quarta-feira, 16. Nesta quinta-feira, 17, retorna a Paris e, no sábado, 19, já estará no palco, representando Marivaux. Sem interromper a turnê que a levará a diversas cidades da França, vai fazer uma pausa para representar em inglês, num festival de teatro, As Criadas, de Jean Gênet. Não Les Bonnes, mas The Maids. Logo em seguida vai a Nova York fazer um filme com um diretor neozelandês, faz outro filme sob a direção de Joachim Trier, reencontra Mia Hansen-Love, que já foi sua filha num filme e agora será sua diretora, e já tem outro reencontro profissional marcado para 2015 - com Gérard Depardieu, com quem fez Loulou, de Maurice Pialat. Vão estar no próximo filme de Guillaume Nicloux, que a dirigiu em A Religiosa.
O importante para Isabelle Huppert - Mademoiselle Huppert, porque uma atriz francesa é sempre Mademoiselle, informou ao repórter ninguém menos que a grande Jeanne Moreau - é sempre o prazer que ela experimenta fazendo teatro e cinema em casa, na França, ou dando a volta ao mundo. Muitos atores dizem que é um desafio interpretar tal ou qual papel. Que o desafio encerraram para Mademoiselle Huppert papéis como a diretora - inspirada na própria Catherine Breillat - que fica doente e, fragilizada, cai nas mãos de um espertalhão em Uma Relação Delicada/Abus de Faiblesse? Ou a mulher casada que vive no campo com o marido e enfrenta a erosão dos sentimentos em Um Amor em Paris, de Marc Fitoussi. Foram duas atrações do festival que terminou ontem, mas todos os filmes terão lançamento comercial e o de Catherine Breillat vai estrear em maio.
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"Desafio não é bem a palavra. Não creio que um papel, qualquer papel, encerre, em si, um desafio. Para mim, desafio foi interpretar As Criadas em inglês, uma língua que não é a minha. Posso falar, mas representar numa língua estrangeira é sempre mais difícil. E eu insisto que atuar, seja no cinema ou no teatro, é sempre um prazer. O prazer do texto, dos reencontros." Foram dois encontros com o público - nas sessões de Um Amor em Paris e Uma Relação Delicada - e uma coletiva de imprensa. Isabelle foi sempre receptiva. Eventualmente, foi monossilábica. Não foi agressiva nem deixou de responder a perguntas.
Qualquer cinéfilo enumera as vezes que ela trabalhou com autores como Claude Chabrol e Michael Haneke, mas Isabelle também trabalhou mais de uma vez com Benoit Jacquot, Bertrand Tavernier e Marc Fitoussi (seu diretor em Copacabana, no qual contracenou com a filha). Como ela explica sua fidelidade a tantos cineastas - "Mas é o contrário, eles é que são fiéis a mim! Posso ter vontade de trabalhar com alguns diretores, e tenho, mas o desejo tem de ser deles. Eles é que me escolhem." E quando surgem os convites? "Existem papéis que penso que seriam bons, mas em geral, senão quase sempre, é o diretor. Pode ser um primeiro filme. Existem diretores que seduzem os atores sem ter currículo para mostrar. É preciso confiar."
E o Brasil? "Gostaria de filmar com diretores brasileiros."Deixa subentendido que nunca foi convidada. Admite que conhece pouco o cinema do País. "Walter Salles, Cacá Diegues, Glauber Rocha." Conhece mais São Paulo, aonde tem vindo com certa frequência, com peças e em eventos de cinema. O que ela teve tempo de conhecer na cidade: "as lojas, os museus. Conhecer os museus não é pouco, hein? Os teatros (Sesc Pinheiros e Consolação, onde se apresentou em peças de Bob Wilson - ela pronuncia Bób Uílsôn). Os restaurantes." Uma jovem atriz, que diz que Isabelle é seu farol, lhe pede conselhos. O que ela diria a uma principiante? "Não sou muito boa para dar conselhos e, quanto a ser principiante, eu mesma me sinto muitas vezes assim. Mas acho que é importante experimentar e tentar de tudo. Apostar na diversidade." Comédia ou drama? "Não faço nenhuma distinção. Existe humor em muitos dramas pesados de Michael Haneke e muitas comédias são impregnadas de melancolia." OK, os diretores escolhem, mas com quem ela gostaria de trabalhar, ou de ter trabalhado? "Alfred Hitchcock." Senhoras e senhores, Mademoiselle Huppert. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.