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Participando de um programa de intercâmbio em Madrid, na Espanha, em março de 2013, a biomédica Lívia Bandeira (foto), na época com 28 anos, viu sua vida tomar um rumo não esperado. Ela começou a sentir dores na cabeça, no corpo e muita náusea. Foram quase 15 dias entre internações e passagens pela emergência de hospitais sem saber a causa do seu mal estar. Sem melhoras ou diagnósticos corretos, ela decidiu retornar ao Brasil para buscar o apoio da família. "Quando voltei, eu já não conseguia andar e estava com a visão dupla (diplopia)", relata. Após passar por outras internações no Recife, Lívia foi finalmente diagnosticada com trombose cerebral e o uso contínuo do anticoncepcional foi apontado como um dos fatores principais para adquirir a doença. 

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A trombose cerebral acontece quando um coágulo de sangue entope uma das artérias do cérebro. Em agosto de 2016, mais de três anos após ficar curada da doença, Lívia lembra que fazia o uso da pílula 'Elani' por mais de quatro anos seguidos. "Na época que fui em uma ginecologista para saber sobre o uso das pílulas, me recomendaram um anticoncepcional com dosagem mais baixa. Mas em hora nenhuma foram feitas perguntas sobre o histórico de trombofilia na família ou de alguma alteração ou distúrbio de coagulação", lamenta. Lívia conta que na época da internação não fumava, não consumia bebidas alcoólicas e também não tinha o histórico da doença na família. 

Após passar por tratamentos, Lívia se curou e não teve sequelas, a biomédica conta que a trajetória com as pílulas teve fim e atualmente faz o uso de preservativos como método de prevenção. Como consequência, ela terá de tomar por toda a vida um anticoagulante oral para prevenir que a doença retorne. Para ela, a maioria dos médicos não faz uma avaliação correta antes de prescrever o anticoncepcional. Estimativas apontam que atualmente a pílula anticoncepcional é utilizada por cerca de 100 milhões de mulheres no mundo todo. No Brasil, as mulheres correspondem a mais de 10% da taxa mundial. São 11 milhões de adeptas ao produto. 

O uso do anticoncepcional também teve graves efeitos colaterais na funcionária pública Andrea Gorenstein, de 40 anos. Com ovário policístico, ela conta que foi submetida a hormônioterapia com pílula durante 17 anos. "Me tornei o sétimo caso da família aos 32 anos, com um câncer de mama agressivo, de crescimento rápido, em estágio avançado", detalha. Para ela, os médicos sempre ignoraram ou minimizaram esse fator de risco. De acordo com um estudo do Centro de Pesquisa do Câncer Fred Hutchinson, nos Estados Unidos, mulheres que tomam pílula anticoncepcional têm risco 50% maior de desenvolver câncer de mama em relação às que não utilizam o medicamento. 

Os diversos relatos e denúncias de mulheres que sofreram consequências pelo uso não orientado dos anticoncepcionais foram parar no Facebook. Na página "Vítimas de anticoncepcionais. Unidas a favor da Vida", que conta com quase 130 mil seguidores, é possível ter acesso às mais diversas histórias de consumidoras das pílulas. Em uma das postagens que viralizaram está o relato da internauta Vanessa Tozzi, de 33 anos. Ela conta que usava o produto desde os 16 anos e em março deste ano começou a sentir fortes dores na perna direita. 

"Achei que tivesse dado mau jeito, usei salompas, tomei anti-inflamatório, mas não passava, então dez dias depois, fui ao hospital e recebi a notícia. Tive uma tromboflebite na veia safena de mais de 40 cm de extensão", postou. Na rede social, Vanessa diz que ficou em choque com a revelação. "O trombo não se moveu, e sumiu por completo após o tratamento, com um anticoagulante fortíssimo que tive que tomar por três meses". A história de Vanessa foi compartilhada por quase 600 pessoas no Facebook. 

Mulheres que tomam pílulas anticoncepcionais da chamada terceira geração, mais recentes (com drospirenona, desogestrel, gestodeno e ciproterona), correm maior risco de adquirir a trombose venosa. De acordo com um estudo publicado na revista especializada BMJ Today, a estatística é quatro vezes maior do que mulheres que não tomam pílula. Ao tomar conhecimento do histórico de trombose na família, a professora Carolina Dantas também preferiu deixar de fazer o uso das pílulas. "É um método que promove muita comodidade porque, além de anticoncepcional, controla o ciclo menstrual. Mas raramente os ginecologistas informam dos riscos. Não se deve ficar contra a pílula, em absoluto, mas entender que cada organismo responde de uma forma e ficar atento. Eu não tenho intenção de voltar a usar nunca mais", afirmou. 

Ginecologista culpa automedicação das mulheres

O ginecologista e gestor executivo do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), Olímpio Barbosa, explica que os benefícios dos anticoncepcionais são maiores do que os malefícios. "Hoje no Brasil, por exemplo, a taxa da natalidade diminuiu bastante graças ao anticoncepcional", explica. O médico avalia que os casos de efeitos colaterais são exceções. "Grande parte dos profissionais brasileiros realizam a triagem do paciente. O que acontece é que a maioria das mulheres compra o produto nas farmácias sem a receita médica e se automedicam", argumenta.

Ele explica que atualmente é muito mais seguro ser consumidora da pílula do que quando o produto chegou ao Brasil, na década de 1960. "Já se tem vários alertas de contra indicações no uso desses remédios. Hipertensas, fumantes e mulheres com histórico de trombose na família devem se afastar do produto". O médico citou que a pílula também traz uma série de benefícios estéticos para a consumidora. Para ele, caso não seja indicado o uso da pílula, o melhor caminho é se adaptar a outros métodos de contracepção, como o DIU, o preservativo, o adesivo e o diafragma.

Em contrapartida, a ginecologista Rebecca Spinelli é enfática ao alertar suas pacientes a evitarem o uso dos anticoncepcionais. "Eu praticamente não prescrevo mais anticoncepcionais. Quando explico os meus motivos e receios sobre os danos à saúde reprodutiva da mulher, sobre a associação de anticoncepcionais hormonais e câncer no colo do útero, câncer de mama e trombose, a maioria das pacientes compreende e concorda que o risco não compensa", pontua a médica.

A polêmica e a problemática do consumo das pílulas anticoncepcionais não se restringem ao Brasil. Em 2013, agência francesa de segurança de medicamentos chegou a proibir a venda do remédio Diane 35 do laboratório Bayer, gerando um debate mundial, tendo em vista que a pílula é vendida em mais de 100 países. A medida foi tomada após o produto ter sido associado a 125 casos e quatro mortes por trombose venosa que ocorreram desde 1987, ano em que a pílula em questão começou a ser vendida na França.

Impasse

Em 2015, uma petição online da carioca Danielle Fortuna, 29, pedia que os médicos solicitassem exames de trombose para a paciente antes de receitar anticoncepcional. "Usei anticoncepcionais por cerca de um ano. Na época, aos 18, tive uma trombose na perna ligada ao uso do medicamento", postou. Na página, ela direciona a mensagem para o Conselho Federal de Medicina e para a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Atualmente, o abaixo-assinado já conta com 36.611 assinaturas online. 

Ainda em 2015, a Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (ABHH) informou por meio de nota que avaliar o histórico familiar e pessoal da paciente, além de outros fatores que possam aumentar o risco de trombose, é melhor do que recomendar o exame para todas as mulheres. De acordo com a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) cabe ao médico na consulta inicial fazer todas as perguntas para avaliar os antecedentes pessoais e familiares da paciente. Através das perguntas, o profissional poderá perceber riscos ou contraindicações ao uso de qualquer contraceptivo hormonal que será prescrito.

Segundo os Critérios Médicos de Elegibilidade para uso de Métodos Anticoncepcionais da Organização Mundial de Saúde (OMS), realizar os exames de rotina para rastreamento de trombofilias não é adequado, por causa da raridade das condições e o alto custo dos exames. A ginecologista Rebecca enxerga a petição citada pela Febrasgo com alegria. "Finalmente pessoas formadoras de opinião estão considerando todos os riscos inerentes à prescrição de tais substâncias que a curto, médio e longo prazo trazem muitas repercussões pro organismo", diz.

Em agosto de 2016, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou um comunicado de que o órgão e outras agências reguladoras internacionais monitoram continuamente os benefícios e os riscos do uso de anticoncepcionais, particularmente em relação ao risco de trombose venosa profunda. A Agência informa saber que o risco de formação de coágulos depende do tipo de hormônio progesterona presente no medicamento. 

Apesar dos riscos, a Anvisa argumenta que "até o momento, os benefícios dos anticoncepcionais na prevenção da gravidez continuam a superar seus riscos". De acordo com o texto divulgado pela Agência, apesar dos diversos relatos de mulheres que sofreram efeitos colaterais, os riscos de eventos como trombose envolvendo todos os contraceptivos orais combinados é conhecidamente pequeno.

Os ginecologistas expressaram nesta sexta-feira sua preocupação com o aumento da cirurgia estética nos genitais femininos na Inglaterra, um fenômeno atribuído à popularidade da pornografia.

O número de operações de redução dos lábios vaginais, ou labioplastia, realizadas pelo serviço público de saúde (NHS) na Inglaterra se multiplicou por cinco em dez anos - revelam estatísticas oficiais.

Em 2010, o NHS fez duas mil cirurgias desse tipo.

"Mas isso é, provavelmente, apenas a ponta do iceberg, se for comparado com as que devem ser realizadas no setor privado", onde não há obrigatoriedade de guardar os registros das intervenções - afirmou Sarah Creighton, membro do Comitê de Ética do Colégio Real de Obstetrícia e Ginecologia (RCOG), que publica nesta sexta uma série de recomendações para os praticantes.

"Não notamos um aumento das patologias nesses últimos dez anos que possa explicar o aumento da demanda desse tipo de operação", acrescentou Creighton.

Para o filósofo Thomas Baldwin, outro membro do Comitê de Ética, o crescente recurso a essas operações procede de uma "falsa concepção baseada unicamente na imagem do sexo feminino transmitida pela pornografia".

O Comitê recomenda que as cirurgias não sejam feitas em jovens com menos de 18 anos e que não sejam praticadas no sistema público, a menos que "haja uma justificativa médica".

Planos de saúde chegam a pagar apenas R$ 25,20 por consultas com ginecologistas e obstetras no Estado de São Paulo. O valor adequado seria R$ 60, de acordo com a Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM) de 2010. Pela retirada de um nódulo mamário, médicos recebem R$ 67,50 de um dos planos, ante os R$ 225 estabelecidos pela tabela.

A conclusão é de um levantamento que vem sendo preparado pela Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp) desde 2010, para o qual foram coletados dados de 44 planos de saúde. O procedimento com o valor mais defasado, segundo o estudo, é a retirada de útero (histerectomia): enquanto o valor ideal é de R$ 789, um dos planos paga R$ 200 pela cirurgia.

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A mesma operadora paga R$ 140 pela retirada do ovário (ooforectomia), procedimento que custaria R$ 478 pela tabela de referência. Os médicos chegam a receber R$ 160 pela cesárea, enquanto a tabela estipula o valor de R$ 541. Pelo parto vaginal, recebem R$ 200; R$ 574 seria o ideal. De acordo com o estudo, muitos dos pagamentos não chegam nem aos valores da CBHPM de 2003, edição anterior da tabela de referência.

Além da defasagem, o estudo evidencia grandes discrepâncias entre os valores pagos pelas operadoras para os mesmos procedimentos. O valor da consulta, por exemplo, varia de R$ 25,20 a R$ 100.

O presidente da Sogesp, César Eduardo Fernandes, diz que o estudo foi motivado pela percepção de que os valores têm se defasado historicamente. "Nossa expectativa é tornar isso público para que o usuário final saiba dessa disparidade. É importante também chamar a atenção das agências, pois elas nunca entraram nesse mérito de discutir valores", diz Fernandes.

Ele observa que enquanto a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) entende que os valores devam ser uma negociação entre médicos e operadora a Sogesp acredita que as operadoras têm mais força que o médico sozinho.

Para Paulo Nicolau, da comissão de valorização profissional da Sogesp, a falta de ajuste faz com que o médico se desestimule e feche o consultório, buscando cargos públicos ou administrativos. "Há exemplos de médicos que não querem mais fazer medicina de consultório. Estão sobrando vagas de residência em obstetrícia", diz.

A ginecologista Maria Rita de Souza Mesquita, médica assistente do Departamento de Obstetrícia da Unifesp, conta que já chegou a atender 25 planos de saúde. Hoje, só atende quatro. "Fui me descredenciando. Eu me desgastava muito e prejudicava a qualidade do atendimento. Hoje atendo menos pacientes, mas tenho mais tempo para me reciclar", diz. Ela observa que, nos últimos 10 anos, a mensalidade dos planos passou de 100% a 130% - sem repasse aos médicos.

Para fazer o estudo, a Sogesp consultou especialistas de abril a outubro deste ano para descobrir que valores eles recebiam pelos procedimentos. Em seguida, os valores foram enviados para os planos, que puderam atualizar ou corrigir os valores informados.

A ANS destaca que "não tem competência legal nem tampouco recursos" para mediar a discussão sobre questões contratuais entre entidades médicas e operadoras de planos. "A melhor maneira de regular a relação entre operadoras e seus prestadores é por meio da construção de contratos justos e em acordo com a norma que tragam previsibilidade de longo prazo para todos os atores envolvidos", disse a entidade, por e-mail.

Taxa extra

Uma das práticas relacionadas à baixa remuneração dos especialistas é a cobrança da "taxa extra" por obstetras de planos para o acompanhamento do parto normal. Neste mês, a ANS anunciou que vai discutir o assunto para avaliar a legalidade do procedimento - que já feito informalmente. Quando não paga o valor, a gestante é atendida pelo médico obstetra de plantão. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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