Tópicos | implantes

A Austrália proibiu nesta quinta-feira (30) o uso de telas vaginais para tratar danos no assoalho pélvico, meses depois de uma ação coletiva contra a gigante da indústria médica Johnson & Johnson pelos supostos efeitos colaterais destes implantes.

Essas telas são implantadas por uma cirurgia para tratar danos no assoalho pélvico, a incontinência urinária e o prolapso vaginal.

O caso está sendo investigado pelo Parlamento, devido às complicações associadas e a seus efeitos colaterais.

Vários jornais locais publicaram testemunhos de mulheres que garantem que esse dispositivo as deixou com dores crônicas muito severas.

A Agência para a Administração de Produtos Terapêuticos (TGA) disse ter examinado evidências clínicas sobre os implantes feitos na Austrália e que também revisou os últimos estudos internacionais.

"A TGA acredita que os benefícios de usar telas transvaginais para o tratamento do prolapso dos órgãos do assoalho pélvico não compensam os riscos que esses produtos implicam para os pacientes", disse a agência do governo em um comunicado.

O organismo declarou ainda ter identificado uma "falta de evidência científica adequada" de que teria mais benefícios do que riscos ao usá-las para tratar da incontinência urinária.

Os produtos serão eliminados da lista que orienta os dispositivos médicos na Austrália a partir de 4 de janeiro próximo.

Gai Thompson, uma das demandantes da ação coletiva apresentada na Austrália, celebrou a notícia.

"Acho que as pessoas não entendem que não há um dia, desde que eu fiz esse implante, em que eu não sinta dor", desabafou, em entrevista à rede ABC.

Durante anos, a empresa francesa PIP escapou da vigilância da líder mundial de controle de qualidade TÜV, que certificava seus implantes mamários, recorrendo a atividades como esconder material, realizar contabilidade falsa ou produzir próteses em conformidade com as regras apenas em caso de fiscalização.

"Escondíamos o material Brenntag e RTV 141, tudo o que não era para ser visto". Havia um depósito "para esconder os recipientes e materiais, e antes desse depósito, escondíamos onde podíamos, alguns em um caminhão, outros em qualquer canto".

Essa declaração de um ex-diretor da fábrica PIP foi feita à polícia em 29 de outubro de 2010. Sete meses antes, as próteses de silicone fabricadas pela PIP haviam sido retiradas do mercado francês pela agência de controle de produtos médicos.

Os inspetores da agência tinham acabado de descobrir durante uma inspeção na fábrica de Seyne-sur-Mer (sul) que a PIP preenchia suas próteses com um gel feito por ela mesma com silicone industrial, comprado do grupo alemão Brenntag, e não com o gel produzido nos Estados Unidos, o Nusil, único aprovado pelas autoridades de saúde.

De acordo com um ex-empregado da usina de produção, havia dois tanques de armazenamento: "o direito armazenava o Med 3 6300 (o gel Nusil) e o outro o gel PIP", mas todos os lotes de próteses vinham com as palavras "Med 3 6300 ".

Durante a investigação policial iniciada com o escândalo, constatou-se que de dezembro de 2003 a outubro de 2005 a fábrica nem sequer fez encomendas novas de gel "Med 3 6300", informação confirmada pelo responsável pelo controle de qualidade da PIP. "Por volta de 2005-2006, fabricamos por um longo período de tempo sem o preenchimento do Nusil".

No entanto, "a cada ano" os inspetores da alemã TÜV realizavam inspeções regulares na fábrica da PIP, "mas faziam os testes de qualidade apenas em próteses legais, sem que vissem as outras", segundo a testemunha.

Também eram submetidas a análise as matérias primas, mas, como os tanques ficavam escondidos, as encomendas feitas aos fornecedores de gel de empresas não autorizadas, como a Brenntag e a Gaches Chimie, eram ocultadas, de acordo com outra ex-funcionária do serviço de compras.

"Durante a última inspeção da TÜV, fiquei a ponto de explodir em lágrimas quando disseram que a empresa era séria (...) porque me pediram para esconder os pedidos no computador, e eu me recusei, mas outro fez isso ", declarou à polícia em maio de 2010.

Outras testemunhas falaram da existência de duas bases de dados: "uma indicava o que fazíamos de fato, e a outra era destinada à TÜV". A mudança de uma para outra era realizada através de um pendrive. Os "preparativos" para as inspeções também incluíam a produção de próteses fabricadas conforme à lei. "Quando anunciavam a inspeção da TÜV (...), passávamos a fabricar apenas próteses com Nusil".

Durante o interrogatório policial, o fundador da PIP, Jean-Claude Mas, chamou essas manobras de "rotineiras". Era ele que dava as ordens, e os outros ex-diretores que se apresentaram à Justiça com ele em Marselha em 17 de abril cumpriam tais ordens. Muitos funcionários da fábrica estavam aparentemente cientes da fraude.

Jean-Claude Mas só se arrepende de uma coisa, que seu filho Nicolas tenha dirigido o caminhão em que os tanques estavam escondidos e que foi descoberto pela agência francesa de fiscalização.

A fraude poderia ter sido descoberta antes. A empresa de controle TUV tinha um contrato com a PIP desde 1997, e poderia realizar inspeções surpresa, mas não tinha obrigação de fazê-lo e nunca o fez e, portanto, responde por negligência.

Após o escândalo PIP, a União Europeia prepara um projeto para tornar obrigatórias as inspeções sem aviso prévio.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando