Pesquisas realizadas pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) apontam que o câncer de laringe atinge entre oito e dez mil pessoas por ano em todo o Brasil, por não existir nenhuma medida de preventiva por parte da população. Eles representam 25% dos casos de tumores identificados na área da cabeça e do pescoço estão relacionados ao câncer de laringe, atingindo normalmente a região supraglótica, localizado acima das cordas vocais. Provocado principalmente pelo consumo de cigarros e álcool, quando diagnóstico na fase inicial, ou seja, ainda no 1° estágio, como aconteceu com o ex-presidente Lula, maiores são as chances de eficácia no tratamento.
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Entenda a doença e seus principais sintomas
O câncer de laringe pode acometer em três segmentos do órgão, o mais comum é o tumor supraglótico (localizado acima das cordas vocais), seguido do glótico e o mais raro entre eles, o infraglótico. Para cada região onde a doença é detectada, existe um sintoma característico. O primeiro indício da doença é a rouquidão por tempo prolongado, superior a 15 dias. Também podem aparecer sintomas associados, como dor, dificuldade de deglutir e sangramento, dependendo do local onde o câncer se desenvolveu.
Entretanto, a gravidade do câncer de laringe reside não só no próprio câncer, mas no fato de que muitas vezes estes pacientes apresentam outros problemas relacionados com tabagismo (aumento do risco de doenças cardio-vasculares, outros tipos de câncer) e/ou com etilismo (cirrose, desnutrição). Quanto menor e mais localizado o tumor, melhor o prognóstico. Além disso, quanto mais frágil a saúde do paciente, e quanto mais idoso o paciente, maior o risco de efeitos colaterais importantes na dependência do tratamento proposto.
De acordo com o Cirurgião de cabeça de pescoço do Hospital do Câncer de Pernambuco (HCP), Marlos da Paz Leoncio, este tipo de tumor está acometendo, atualmente, um grande número de mulheres, o que não acontecia há alguns anos. Isto se deve ao aumento do consumo de álcool e cigarro pelo público feminino. O cirurgião alerta também, que a probabilidade de uma pessoa consumidora de nicotina tem para contrair a doença pode chegar a 5%, em relação à outra que não consome. Já para quem faz uso do cigarro associado com a bebida, esse percentual pode chegar a 11%.
Diagnóstico
Segundo os especialistas, quando o diagnóstico da doença é feito na fase inicial, o tratamento pode ser mais eficiente. O que normalmente não acontece. “As pessoas começam a perceber os sintomas, mas quando vão procurar um médico o tumor já está em estágio bastante avançado. Na maioria dos casos o tumor já atingiu mais de uma região do órgão”, alertou Da Paz. De acordo com ele, essa ida tardia aos consultórios médicos acontece pela falta de informação.
A extensão da doença é avaliada pela laringoscopia sob anestesia, por tomografia ou ressonância do pescoço, que propicia um detalhamento completo das células afetadas; além de avaliação para descartar doença à distância, através de tomografia computorizada ou PET-CT. Também é feita rotineiramente uma endoscopia digestiva para descartar comprometimento ou lesão sincrônica no esôfago.
“Esses são os exames mais usados para diagnosticar a doença e indicar o tratamento mais adequado. Mas, apesar de toda a tecnologia que temos a disposição hoje em dia, ainda assim, a anamnese (conversa com o paciente) continua sendo indispensável para a identificação da doença”, destacou o cirurgião.
Tratamento
Para cada nível diagnosticado do câncer de laringe, uma forma de tratamento é indicada, determinado através do estadiamento da doença, ou seja, a gravidade que o tumor apresenta no momento. A quimioterapia e a radioterapia são os procedimentos mais usados no tratamento. Contudo, em alguns casos e principalmente nos mais avançados é associado à intervenção cirúrgica. Por isso a importância de identificar a doença o mais cedo possível evitando que o tratamento não traga deformidades físicas e problemas psicológicos. “O tratamento vai depender do estágio em que está o tumor. Em algumas situações ele pode ser tratado apenas com radioterapia, em outros pode aliar radio e quimioterapia, e ainda há casos que a cirurgia é imprescindível”, adiantou Da Paz.
Luta pela vida
Na enfermaria Nossa Senhora da Aparecida do HCP, onde são atendidos pacientes em pré e pós-operatório de cabeça e pescoço, a nossa equipe encontrou o aposentado Sebastião Lima de Oliveira, 71 anos, morador de Jardim São Paulo, no Recife.
O aposentado está se recuperando de uma traqueostomia (orifício feito por cirurgia no pescoço) que faz parte do seu tratamento contra o câncer de laringe. Sem poder falar por conta da cirurgia, sua esposa, dona Josefa Nilza de Oliveira, 72, contou um pouco da luta que seu marido vem enfrentando há mais de três anos. “Ele já fez quimo e radioterapia, mas agora teve que fazer a cirurgia por que o câncer dele já está no tipo 3, como os médicos chamam. Mas temos fé que juntos vamos sair dessa, principalmente quando temos o apoio da família que é fundamental nessas horas”, desabafa.
O pássaro e o fogo
Historias de superação e de amor na vida são marcantes para um profissional que se dedica a ajudar os pacientes nos momentos mais difíceis. Algumas lembranças boas e outras nem tanto. O cirurgião Da Paz compartilhou, há dez anos, um desses momentos marcantes em sua trajetória, com apenas três anos de exercício da profissão. “A paciente tinha 28 anos de idade quando foi diagnosticado o câncer de laringe em um grau muito avançado, já no estágio 4, e ao mesmo tempo foi descoberto que ela estava grávida de dois meses. Nós (a equipe) a orientamos que deveria iniciar o tratamento o mais rápido possível e teria que interromper a gravidez. Ela me respondeu que ia continua com a gestação mesmo que isso lhe custasse a vida”.
Emocionado, ele revelou que esta mulher teve a filha no oitavo mês de gravidez e acabou morrendo três meses depois, devido o câncer já ter se espalhado para os pulmões. “Antes de morrer ela me disse que se sentia uma vitoriosa por saber, apesar de todas as adversidades, o que é valorizar a vida. Sua filha recebeu o nome de Vitória. Sempre lembro dela e da força que ela tinha. Nós (médicos) somos como um pássaro no meio de um incêndio, sabemos que não podemos apagar todo o fogo. Mas, se unirmos nossas forças para ajudar essas pessoas, faremos a diferença na vida delas. Até porque, os pacientes que se tratam no HC têm apenas essa chance para dar a volta por cima".