Um relacionamento extraconjugal mantido pelo médico Denirson Paes da Silva, de 54 anos, foi uma das motivações do crime cometido por sua esposa, Jussara Rodrigues Silva Paes, e seu filho Danilo Paes, concluiu a polícia. Os detalhes do homicídio foram apresentados nesta sexta-feira (31) pela delegada responsável pelo caso, Carmen Lúcia.
Foi confirmado que no dia 30 de maio Jussara havia visualizado fotos da amante no computador do médico. O relacionamento conjugal existia há cinco anos. Além da traição, seriam motivações do crime a separação iminente e a consequente mudança de padrão de vida a qual Jussara seria submetida.
##RECOMENDA##Conforme a investigação, entre o dia 30 e o dia 31, Denirson foi asfixiado em seu quarto. O corpo foi arrastado por cerca de seis metros até um corredor na área externa, onde houve uma tentativa fracassada de carbonização e, em seguida, a serragem em duas partes do corpo.
Em conversas com a família, o médico já havia dito que iria se separar. Há três meses ele não dormia no mesmo quarto que Jussara, que estava dormindo em um quarto de hóspedes. A empregada ouvida relatou que Jussara desviava os olhos quando visualizava o companheiro dentro de casa.
"Mãe, me ajuda"
Danilo Paes, o filho acusado de participação no homicídio, já no Cotel por efeito de mandado de prisão temporária, pediu para enviar um áudio para a mãe. Diz ele na gravação: "Eu imploro. Mãe, por favor, me ajuda. Ou ela assume ou a desgraça vai ser completa".
Para a polícia, o áudio indica uma autodefesa de Danilo e um conhecimento de como o crime se deu. A mãe se recusou a ouvir o áudio.
Premeditado
O crime, deduz Carmen Lúcia, teria sido premeditado. Um dos indícios é a morte do cachorro do médico, ainda em abril.
A história foi contada por Daniel Paes, filho caçula que não teria participado do homicídio. “Ele chegou em casa e a mãe disse que o cachorro estava doente. Ele encontrou o cachorro espumando, trêmulo e sem conseguir se levantar. A mãe disse que havia sido um remédio dado por Denirson. Daniel estranhou, mas deixou para lá”, recorda a delegada.
Uma das suspeitas é que o cachorro tenha sido envenenado para que não atrapalhasse o plano. O animal poderia, por exemplo, farejar o corpo do dono.
Outro indício foi a folga dada para os empregados justamente no dia da morte de Denirson. “Um jardineiro contou que trabalhava há três anos lá e nunca tinha recebido folga”, diz Carmen Lúcia.
Perícia
Vários artifícios investigativos contribuíram para entender a dinâmica do crime. Entre os instrumentos utilizados estão: luminol, papiloscopia, informática, DNA, bioquímica e exames acústicos. Os testes de acústica serviram para indicar a inocência do caçula, pois, de seu quarto, não era possível ouvir seu pai sendo asfixiado ou o esquartejamento do corpo. A perícia também mostrou que a vítima levou um golpe de objeto contundente, o que causou traumatismo craniano, provável causa da morte.
O luminol identificou sangue em todos os quartos, com exceção do de Denirson. Um ponto com concentração expressiva de sangue foi o guarda-roupa de Danilo. Também havia um percurso de sangue em todo o ambiente frequentado por Jussara, como sua poltrona e o quarto em que dormia.
Justiça
Nesta manhã, a Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público de Pernambuco. Também foi assinada a prisão preventiva dos dois acusados. Mãe e filhos estavam presos por efeito de prisão temporária, com prazo se encerrando no dia 4 de setembro. Jussara e Danilo vão responder por homicídio triplamente qualificado (motivo fútil, meio cruel e sem possibilidade de defesa) e ocultação de cadáver.
O caso - No dia 20 de junho, a esposa do médico foi até a Delegacia de Camaragibe para registrar o desaparecimento do companheiro ocorrido no dia 31 de maio. Ela alegava que o marido teria viajado e não mais voltado. A polícia começou a suspeitar de familiares porque ela demorou para relatar o desaparecimento já que o médico estava sumido há mais de duas semanas, e não havia movimentação na conta bancária dele.
Quando os restos mortais foram encontrados, no dia 4 de julho, o filho mais velho teria dito que o pai poderia ter se suicidado. O Instituto de Criminalística fez uma perícia que apontou vestígios de sangue em dois banheiros e um corredor da casa. Foi constatado ainda que o local passou por profunda limpeza e que há sinal de arrastamento no corredor que dá acesso à cacimba. Os peritos constataram, ainda, que areia e brita foram jogadas na cacimba. Além de cloro líquido e em pastilha pra evitar a proliferação de bactérias - o que reforça a tese de premeditação.
Jussara e Danilo foram encaminhados para audiência de custódia pelo crime de ocultação de cadáver. Mãe e filho conseguiram a liberdade, mas antes que deixassem o fórum foram presos através de um mandado de prisão temporária por homicídio.