Tópicos | Kristen Wiig

Os trailers de "Mother" (Mãe) não permitiram ao público um maior conhecimento sobre a premissa do filme. Fato raro, num período em que as estratégias de marketing em Hollywood são cada vez mais agressivas e expositivas. Mas Aronofsky ainda carrega o ímpeto de se infiltrar no celeiro cinematográfico comercial fugindo de algumas rédeas deste. O diretor de "Requiem Para um Sonho", "O Lutador", "Cisne Negro", dentre outros, costuma buscar nas entranhas da existência humana, suas loucuras e dissabores, sentidos para um cinema que na maioria das vezes desafia ou o ultrapassa o real. Em "Mãe" não é diferente.

No filme, Javier Bardem é um poeta em busca de inspiração para novos escritos. Com ele, numa casa isolada outrora vítima de um incêndio, mora a esposa interpretada por Jennifer Lawrence. A relação entre os dois, apesar de um sugestivo afeto, é carregada de indicadores de uma mulher subserviente, que despende o tempo a apoiar o marido nos seus tentos literários e em remodelar a casa, que lentamente perde os traços do incêndio pregresso. A personagem de Lawrence também carrega a latente frustração de ainda não ter sido visitada pela maternidade. Entre inserts simbólicos que remetem à batida de um coração e muitos planos fechados no rosto da protagonista, Aronofsky desenvolve a conta gotas sua narrativa até a chegada dos primeiros estranhos na casa. Sem muitas explicações, o poeta acolhe um homem (Ed Harris) que passava pelo local, aparentemente inóspito. Não demora muito para que outra mulher (Michelle Pfeiffer) se junto ao trio, hospedando-se invasivamente na casa à contra gosto da anfitriã, mas não de seu marido. A partir daí o longa se lança numa busca desenfreada em abarcar o maior número de elocubrações e alegorias possíveis, num bonito envelope visual do fotógrafo Matthew Libatique, com uma paleta de cores extremamente barroca, que, narrativamente porém, carece de sutileza no desenrolar e execução de sua trama.

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Se a chegada em massa de estranhos na casa, novamente sem explicações aparentes a não ser um estranho afã pelo poeta, remete a Luís Buñuel e seu "O Anjo Exterminador", faltam sentidos a estes personagens, que ora atraem ora são completamente esquecidos pela narrativa. Como representação de humanidade, as figuras acabam funcionando pouco pois se dispõem de forma atabalhoada em tela e os planos de Aronofsky raramente deixam de mirar Lawrence ou sua turva visão subjetiva. Assim, nada e tudo ganha gravidade ao mesmo tempo. Nada, nem ninguém, existe para uma função real determinada, por isso o espectador pode ultrapassar a linha do interesse pelo texto, pelo que é visto em tela, para a busca pelo que não é visto, o que é apenas capengamente sugerido ou deixou de existir assim que saiu da mente do cineasta.

E é na correria de trazer segundos planos possíveis que o longa percorre seus mais de 120 minutos desfilando menções, raramente expressas, à temas tratados com muito mais elegância anteriormente até pelo próprio Aronofsky em "Fonte da Vida", por exemplo, onde a tensão familiar e questões relacionadas a maternidade/paternidade desencadeiam uma catarse apoteótica, porém extremamente sensível. Em "Mãe", há um quê de Polanski apressado e sem a elegância do cineasta que, há mais de 50 anos, já fazia com Catherine Deneuve em "Repulsa ao Sexo" o que Darren tenta trazer à luz na atuação de Lawrence. Esta, por sinal, carrega o filme nas costas, enquanto persiste o estranhamento com o desfile de tantas personas interessantes em tela, que parecem não servir aos desígnios do roteiro. 

Mais para o final a projeção continua rementendo a Polanski, dessa feita numa espécie de "O Bebê de Rosemary" com poucos arroubos de tensão autêntica, mas com direito a figura masculina inebriada por vaidade e desespero materno. Entretanto, muito do que ainda convence nos dois primeiros terços da película perde força no seu último e fatídico ato. A violência sofrida pela protagonista, seu martírio na busca de um real em meio à loucura, se reduz novamente à falta de sensibilidade de Aronofsky, que põe tudo a perder num desfecho esquemático, inócuo e anticlimático. Uma saída mais fácil, após todas as possibilidades oferecidas ao espectador.

Como experimentalismo de um cineasta consagrado, "Mãe" é um produto inconsistente. Como thriller, sai pela culatra. A tentativa de universalização da narrativa, até por seus personagens, que não possuem nome, esbarra nas paredes da casa de onde a protagonista nunca sai. Para lá vai o mundo e todo seu flamejante ódio, explorador e incontrolável. Também vai um balde de água fria, frustrando os planos de quem gostaria de se queimar com uma trama audaciosa que, porém, se arrasta como uma branda chama de pretensão em meio à floresta.

Nota: 2,5 / 5

Na edição desta semana, o EstreiaJá foi até o cinema conferir o maior lançamento da semana. “Caça-Fantasmas” é uma releitura do sucesso de 1984, dirigido por Ivan Reitman. O novo longa é protagonizado pelas atrizes Melissa McCarthy, Kristen Wiig, Leslie Jones e Kate McKinnon e ainda conta com o ator Chis Hemsworth no papel de um recepcionista para lá de atrapalhado.

No programa, o apresentador Rodrigo Rigaud conversa com outros críticos de cinema sobre as expectativas para o filme e, depois da sessão, dá o ultimato do que achou da película.

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Saiba tudo sobre “Caça-Fantasmas” e também fique por dentre dos outros lançamentos da semana conferindo EstreiaJá na íntegra abaixo:

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