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Foram 23 anos juntos. Com oito meses de casamento veio a primeira agressão. Três, quatro a cinco surras por ano. “Apanhava do nada”, diz Lindaci Maria dos Santos, 51 anos, divorciada. 

A família não dava apoio. A mãe dizia “foi você que procurou”. “Eu ficava fechada”, analisa Lindaci. Naquela época, avalia a doméstica, esse tipo de situação não costumava ser denunciada. Uma vez ela foi ao ortopedista com o corpo machucado. “O ortopedista perguntou o que foi aquilo. Eu contei a história e ele disse ‘ah, isso é normal’”,  lembra.

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Lindaci era a história de muitas mulheres: agredida, amedrontada e que sempre dava uma nova chance para o companheiro, que sempre pedia desculpas pelo que fez. 

Um dia, a doméstica não aguentou mais. Ela, que quando jovem queria ser policial e passou até em concurso, não conseguia mais viver presa. Procurou a Delegacia da Mulher há três anos. 

“No momento que eu denunciei, ele estranhou. Mas quando eu cheguei com aqueles dois policiais para pegar minhas roupas, que olhei nos olhos dele, eu vi que os olhos dele falaram muito, como quem diz ‘tu está fazendo isso comigo? Não acredito’ e me senti liberta”, diz. 

Lindaci ficou um período em uma casa de acolhimento da Secretaria Estadual da Mulher. Lá, ela foi atendida por psicólogos, médicos diversos, fez cursos e perdeu o medo que tinha do companheiro.

Ao voltar para sua casa, em Paulista, município da Região Metropolitana do Recife (RMR), feliz consigo mesma, ela, que é evangélica, decidiu discursar na igreja. “Fui criticada dentro da congregação que eu faço parte. Ele [o ex-marido] era um obreiro da casa do Senhor. Fui ao microfone agradecer a todos que tinham orado por mim e disse que ali havia muitos que espancavam. Um irmão levantou-se e pediu para desligar o microfone, eu disse ‘não mande desligar o microfone não’. Denunciem, eu pedi. Depois eu soube que esse irmão também espancava a esposa”.

Depois de tudo isso, a senhora ainda chegou a dar outra oportunidade para o ex-companheiro. Em um dia que ele chegou bêbado e agressivo, entretanto, ela não hesitou em deixá-lo. Hoje eles moram próximos, se cumprimentam quando se encontram e seguem suas vidas.

As vizinhas e mulheres da igreja ainda questionam o fato dela viver só, dizem que ela parece presa. “Sempre me senti culpada, agora eu me sinto livre, se eu quiser sair eu saio, se eu quiser chegar em tal hora eu chego”, conclui Lindaci, que agora quer ser a história de mulheres que lutam e se libertam. 

A Central de Teleatendimento Cidadã Pernambucana recebe denúncias e orienta mulheres no número 0800 281 8187. A Central de Atendimento à Mulher, do Governo Federal, funciona no 180. O Departamento de Polícia da Mulher fica na Avenida Alfredo Lisboa, 188, no Recife Antigo e o telefone é o 3184-3568.

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