Tópicos | Maciel Pinheiro

Inaugurada no dia 7 de setembro de 1876, no Centro do Recife, a Praça Maciel Pinheiro, cuja fonte de mármore foi esculpida pelo artista Antônio Moreira Ratto, em Portugal, é uma comemoração nacionalista ao triunfo do Brasil na Guerra do Paraguai. Ironicamente, foi ali que uma mulher de 67 anos se instalou para, em suas palavras, “cuidar dos pombos”. Ela empilha caixas de papelão debaixo do jorro d’água, onde acomoda as aves que considera doentes, e transita livremente pela água suja para chegar ao calçamento onde alimenta e dá de beber a centenas delas. 

“Ela tem problemas mentais, sempre está aqui”, afirma um transeunte. Com discurso desconexo e voz bastante rouca, a mulher alega que é veterinária aposentada, reside em uma casa na Rua da Conceição e vai à Praça Maciel Pinheiro pelo menos quatro vezes por dia. “Se não der comida, os pombos morrem de fome. Tem que zelar pela natureza. Criei eles desde novinhos, cada um bonito. Muita gente mata e estupra. Eles morrem e eu lavo o sangue”, afirma. Além de alimentar centenas de pombos na Praça Maciel Pinheiro a mulher garante fazer o mesmo em outros locais do centro. “Alguns ficam me esperando na Igreja do Pátio de Santa Cruz, na Sete de Setembro e perto do Shopping Boa Vista". 

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Mulher aplica pomada em pombos doentes com as próprias mãos. (Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens)

Despercebida pela maioria das pessoas que circulam pela Maciel Pinheiro, a mulher trata as feridas dos pombos com pomada e água e usa uma sacola na cabeça para evitar molhar o rosto, embora suas roupas estejam costumeiramente ensopadas. “Os pombos são mais limpos que nós. Somos podres”, responde ao ser questionada a respeito das condições de higiene em que convive com os animais. 

De acordo com o mestre em aves da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Jonathas Lins de Souza, o contato intenso da mulher com os pombos a expõe ao risco de contaminação por mais de 72 doenças. “Estas aves podem transmitir enfermidades como criptococose, histoplasmose, ornitose, salmonelose, toxoplasmose, encefalite, dermatites, alergias respiratórias e tuberculose aviária. Vale lembrar que os idosos são ainda mais suscetíveis a contrair estes males”, comenta. 

Exposta à água suja da Praça Maciel Pinheiro, mulher acomoda aves em caixas de papelão debaixo da fonte de mármore. (Marília Parente/LeiaJá Imagens)

O pombo doméstico não é nativo das Américas. A espécie chegou ao país trazida pelos europeus no século XVI, tendo se adaptado bem às grandes cidades. “São aves que procuram lugar propício à alimentação e à reprodução. Como comem quase tudo, um local sujo vai proporcionar muita coisa. Assim, a grande quantidade de pombos no Centro do Recife se deve ao acúmulo de detritos na área”, completa Jonathas.    

Assistência

Por meio de nota, a Secretaria de Saúde do Recife informou que o serviço de assistência para pessoas com transtornos mentais é feito de maneira integrada “através de ações conjuntas e complementares envolvendo os equipamentos do Consultório na Rua, CAPS, Serviço Especializado de Abordagem Social, Centro Pop. Ao realizar a abordagem, e identificar que tipo de cuidado/ necessidades dessa  pessoa, a equipe traça o projeto terapêutico, identificando as estratégias de intervenção que melhor se adeque: equipamentos de saúde (USF/US, policlínica, CAPS, unidades de urgência e emergência), parceiros intersetoriais como a Assistência Social, Educação, Justiça, entre outros”.

De acordo com a Coordenadora do Consultório na Rua, Brena Leite, a mulher abordada pela equipe do LeiaJá na Praça Maciel Pinheiro já é conhecida da equipe técnica e resistiu aos primeiros contatos. Mais uma tentativa de abordagem está agendada para esta semana. “A gente começa uma intervenção levantando as necessidades da pessoa. Não retiramos da rua,  oferecemos assistência no local. Se há desejo de saída, buscamos informações, solucionamos conflitos familiares e até, de forma articulada, buscamos abrigos”, afirma. 

Consultório na Rua 

Caso localize pessoas com transtornos mentais em situação de rua, o cidadão pode notificar o Consultório na Rua, através do telefone 3355-2810. São duas equipes compostas psicólogos, assistentes sociais e redutores de danos, que têm por objetivo lidar com os diferentes problemas e necessidades de saúde da população em situação de rua, dentre os quais também estão as demandas relacionadas ao álcool e outras drogas. 

A Secretaria Executiva de Políticas sobre Drogas do Recife havia prometido uma ação de abordagem aos usuários de drogas que ocupam a Praça Maciel Pinheiro, na Boa Vista, área central da cidade, para esta quarta-feira (29), mas a visita não aconteceu como planejada. A situação do local, onde muitos comerciantes e transeuntes reclamam de assaltos e sujeira, foi mostrada pelo LeiaJá.

No local e hora marcada (14h), apenas duas assistentes sociais do programa Consultório na Rua, da Secretaria Municipal de Saúde, apareceram. Elas realizaram cinco atendimentos, em que conversaram com pessoas que procuravam direcionamentos para exames e consultas médicas, e também distribuíram preservativos e garrafas de água mineral.

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Nenhuma das duas quis comentar a falta dos outros profissionais, mas a assistente social Nazaré Rolim explicou que atua na área, constantemente. "A praça Maciel Pinheiro é um ponto de monitoramento nosso. Mas a dificuldade é grande, pois a população daqui é flutuante. Acontece também que muitos deles chegam na gente, mas nem sempre o interesse continua", afirma. Ela explica ainda que o Consultório na Rua realiza atendimentos à população, independente se são usuários de droga ou não.

Em nota, a assessoria de imprensa da Secretaria Executiva de Políticas sobre Drogas explicou que a ação foi adiada para a próxima quarta-feira (5). O motivo se deu por conta da incompatibilidade de agenda das equipes das secretarias envolvidas. O comunicado diz ainda que "O Pilar Cuidado da Secretaria Executiva de Política Sobre Drogas (Sepod-Recife) tem iniciado um trabalho em locais com grande concentração de usuários de drogas em situação de rua, entre os quais, a Ponte do Limoeiro e a Praça Maciel Pinheiro. As ações têm sido em parceria com a Secretaria Executiva de Assistência Social e com a Secretaria de Saúde".

"Gente bonita e educada joga lixo na lixeira" e "quem ama a cidade não joga lixo no chão" eram algumas das frases cantadas por arte-educadores na Praça Maciel Pinheiro, no bairro da Boa Vista, na tarde desta terça-feira (14). Os animadores chamavam a atenção dos pedestres para o Lixômetro, estrutura montada pela Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) para medir a quantidade de lixo jogado na ruas próximas ao equipamento. 

Desde as 07h30 até as 14h, mais de 2.000 litros de lixo haviam sido depositados por garis e profissionais de varrição que atuavam nas imediações. Ao depositar um saco de lixo na estrutura, o gari Antônio Monteiro contou que ações como essa podem ajudar as pessoas a entender que o lixo tem lugar para ser depositado. “Trabalho há 22 anos na varrição e, de lá pra cá, as pessoas continuam jogando lixo na rua do mesmo jeito. Essas atividades até ajudam a chamar a atenção do pessoal pra não sujar a rua”, explica Antônio. 

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Já o gari José Rodolfo Batista acredita que a população só irá conservar o espaço público caso seja aplicada uma multa para punir quem suja as ruas. “Só vão parar quando doer no bolso”, prevê José. 

A campanha educativa já passou por bairros como Jordão, Afogados e por mercados municipais. “Estivemos também no Recife Antigo durante o Carnaval para pedir a contribuição das pessoas e conscientizá-las para não sujarem as ruas. Essa é uma semente que está sendo plantada na mente dos cidadãos”, conta o arte educador José Amaury de Oliveira. “O que mais me chamou a atenção hoje foi um senhor que jogou um copo plástico no chão, mesmo estando ao lado de uma lixeira. Ao prestar atenção no que nós estávamos cantando, ele percebeu que estava errado e jogou o lixo no lugar certo”, relembra o animador. 

Desde o ano passado, o lixômetro acumulou cerca de 1.800 sacos de lixo, totalizando 25 mil toneladas. Fora do estrutura, a média de lixo acumulada diariamente é de 2,5 mil toneladas. 

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