O governo brasileiro enviou documentos às autoridades do continente sul-africano em busca de um “consenso” para fazer do ex-prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, embaixador do Brasil na África do Sul. De acordo com informações publicadas no Correio Braziliense, a indicação tem sido mantida sob sigilo para evitar o constrangimento no caso de uma recusa.
Ainda segundo o Correio, entregar a embaixada a Crivella, que também é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e sobrinho do fundador da mesma Igreja, Edir Macedo, seria uma forma do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mostrar que está prestigiando Macedo. O bispo fundador da IURD, cuja atuação religiosa é conhecida por exaltar o bolsonarismo, viu a relação com o presidente ser abalada no mês passado.
##RECOMENDA##Os conflitos teriam ligação com a decisão do governo angolano, país também localizado na África, que ordenou a deportação de 30 pastores após a Universal ser acusada de lavagem de dinheiro, racismo e até vasectomia obrigatória aos líderes religiosos. A IURD possui 230 templos em Angola e sentiu-se “negligenciada” pelo Palácio do Planalto, que não conseguiu intervir durante o episódio.
A insatisfação foi refletida em longas reportagens da Rede Record, emissora de TV também fundada por Edir Macedo, sobre o ocorrido. Há duas semanas, contudo, uma comissão da Frente Parlamentar Evangélica foi ao Ministério das Relações Exteriores conversar com o chanceler Carlos França sobre a situação dos brasileiros ligados à Universal no país africano. O encontro, somado ao pedido para que Crivella seja embaixador, configuram uma volta da seita à uma boa convivência com o governo.
O ex-prefeito do Rio já morou na África do Sul e fala inglês fluentemente, além de ter escrito o livro “Evangelizando a África”, o qual foi vítima de polêmicas envolvendo críticas feitas às outras religiões, sobretudo as africanas. Ademais, Marcelo Crivella conseguiu escapar de dois processos de impeachment quando estava à frente da Prefeitura e, na semana passada, o Ministério do Rio de Janeiro pediu o arquivamento de um processo contra sua gestão, acusada de montar um esquema de corrupção conhecido por “QG da propina”.