Tópicos | O Pasquim Bar e Prosa

Nos dias atuais, além da elegância do traje e a habilidade de equilibrar alimentos e bebidas, o trabalho de um garçom tem sido fundamental para a boa relação entre o estabelecimento e o público consumidor. Contudo, a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) fez com que muitas incertezas passassem a rondar o imaginário desses profissionais.

A crise chegou e atrapalhou alguns planos do garçom Michell Saraiva, 37 anos, que, além de se manter empregado no Badaró Art Café, no Centro de São Paulo, aproveitava os finais de semana para levantar valores extras em um clube de tênis da cidade. "Senti o efeito da crise com a perda desse serviço por fora. Lá, eu conseguia ganhar quase R$ 1 mil aos sábados e domingos. Então tive que parar a reforma em casa", lamenta ele, que está na função há 19 anos.

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O garçom Michell Saraiva, do Badaró Art Café | Foto: Arquivo Pessoal

Mesmo comemorando a permanência dos companheiros na cafeteria em que atua, o garçom sente falta do movimento intenso. "Entramos pela manhã e trabalhamos até às 16h. Porém quase não temos clientes. É uma rotina monótona e triste", comenta o garçom, que afirma o uso constante de máscara e álcool em gel para não correr riscos de contágio durante o expediente. Para Saraiva, a profissão pode ser comparada ao ofício praticado por artistas de renome. "Ser garçom é ser ator, pois quase nunca podemos expressar o que realmente sentimos e, mesmo tristes, mostramos um belo e largo sorriso no rosto", conclui.

Novos hábitos no expediente

A preocupação com o desemprego atingiu alguns familiares que atuam na mesma área e chegou a assustar a garçonete Marli Barbosa, 39 anos. No entanto, ela conta que os donos do bar em que trabalha há meia década fizeram questão de manter os funcionários cientes de que não haveria demissão. "Ficava preocupada se ia continuar conseguindo pagar as contas que não paravam de chegar, mas eles gravaram vídeos e nos avisaram que o nosso trabalho seria mantido", cita a garçonete de O Pasquim Bar e Prosa, na Vila Madalena, zona oeste paulistana.

A autorização de reabertura dos estabelecimentos, anunciada pelo governo do estado no final de julho, fez com que a realidade do bar mudasse bastante. "Medimos a temperatura sempre ao entrar, trocamos as máscaras durante expediente, pedimos para os clientes não circularem pelo salão sem máscara, e eles têm sido compreensivos. É um zelo pela proteção nossa e deles", conta Marli.

Embora tema o contágio, a garçonete está confiante com o retorno gradativo. "Temos medo por saber que a doença é perigosa, mas seguimos todas as normas para conviver com essa situação e entendo que dá para voltarmos aos poucos se todos tomarem os cuidados".

Dos eventos para a bandeja

A garçonete Juliana de Oliveira, 25 anos, deixou de trabalhar com eventos para se dedicar a servir na Vero Coquetelaria e Cozinha, em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, em setembro de 2019. Para ela, o "normal" do pré-pandemia é coisa do passado. "Acho que o que era antes não veremos mais, pois por mais que voltamos a estar próximos dos clientes, hoje temos cuidados que não existiam antes da pandemia e que são necessários para o bem estar de todos", aponta.

A garçonete Juliana de Oliveira, da Vero Coquetelaria e Cozinha | Foto: Arquivo Pessoal

De acordo com Juliana, além de assegurar o emprego dos funcionários e seguir à risca as recomendações sanitárias, a assepsia do ambiente em que atua a faz ter mais medo de contágio pela Covid-19 no trajeto de ida e volta no transporte público. "Tenho mais receio do caminho de casa até o trabalho, com a condução lotada e a falta de consciência de várias pessoas, mesmo que tentamos tomar o máximo de cuidados possíveis", reflete.

Embora os riscos sejam iminentes em meio a uma crise de saúde, Juliana afirma que aproveita a experiência em lidar com o público para oferecer muito mais do que refeições e bebidas neste momento crítico. "É uma profissão que eu criei muito carinho e o que faço vai muito além de servir. Estou proporcionando momentos e sorrisos para as pessoas", declara a garçonete, que se sente lisonjeada quando recebe elogios da clientela em recados colados na parede do bar. "São atitudes simples como essa que fazem perceber que estou no caminho certo e fazendo um bom trabalho", finaliza.

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