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Com um cenário político envolto à escândalos de corrupção, crise econômica e a falta de investimento público, a desmotivação eleitoral que vem atingindo boa parte dos brasileiros também alcançou a população jovem, entre 16 e 17 anos, cujo voto é facultativo no Brasil. Um retrato disso é a redução de 14,53% do número de eleitores dessa faixa etária aptos a votar no pleito deste ano, segundo dados divulgados recentemente pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 

Se em 2014, os eleitores com 16 e 17 anos somavam 1.638.751 dos brasileiros votantes, este ano eles totalizam 1.400.617. O número representa 21% da atual população jovem que, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de 6.489.062 pessoas. No total de aptos a votar [147.302.354] a juventude facultativa representa 0,95% dos cidadãos espalhados pelos 5.570 municípios do país. 

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Entre os mais de 5 mil jovens que decidiram não fazer o cadastro eleitoral por insatisfação com a política do país está o estudante José Lucas, de 16 anos. Segundo ele, ir às urnas escolher presidente da República, governador, senador e deputados federal e estadual foi descartado porque os candidatos e promessas sempre se repetem. 

“No começo, assim que fiz 16 anos, fiquei super empolgado para tirar o título eleitoral, depois eu fui ficando desanimado, porque não tem mais opções, são sempre os mesmos [candidatos]. As promessas são as mesmas. E outra, sem o título, eles não irão encher o meu saco tentando me subornar”, declarou o jovem.

Aluno do 2º ano do ensino médio e morador de São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife (RMR), Lucas só deve fazer a inscrição eleitoral para votar em 2020, quando ele já terá 18 anos e está marcada a próxima eleição municipal. Mesmo insatisfeito com a classe política, o jovem disse que a modificação do cenário também deve passar pela escolha dos eleitores. “Acredito que a mudança tem que vir dos eleitores, em escolher um político novo, e antes de tudo, estudar sobre o político escolhido”, salientou o estudante.

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O desânimo para se tornar um eleitor também foi expressado pelo estudante Paulo Valentim, 17 anos. "A decadência dos políticos sem si, a corrupção e a situação do país desanima bastante. O estrago é tão grande que uma eleição não mudaria como é necessário", observou o aluno do 2º ano do ensino médio. Residente do bairro do Ibura, na Zona Sul do Recife, Paulo acrescentou que honestidade e transparência são características essenciais que um político deve ter.

O quesito corrupção também pesou para o aluno do 3º ano do ensino médio Lucas José, de 17 anos.  Morador da cidade de Paulista, na RMR, o jovem disse que tem se tornado difícil acreditar nos políticos após escândalos como o revelado pela Lava Jato. "Você não tem mais segurança de confiar em alguém e quando confia acaba tendo consequências sérias, o Brasil é um retrato claro disso", argumentou.

Lucas, que disse estar insatisfeito com o quadro de candidatos até o fim do prazo para a inscrição eleitoral [ver no vídeo], também ponderou que agora, com os nomes já postos ao pleito presidencial, ele talvez pensasse em ter o título para dar um voto de confiança a um candidato. "Tem alguns que valeria a pena investir", contou, explicando que espera uma mudança no quadro político para as eleições de 2020, quando já terá 19 anos e o voto não será mais facultativo. 

A esperança de um cenário mais positivo também foi citado por Rafael Oliveira, 16 anos. No 1º ano do ensino médio, ele disse que "até 2020 espera que os políticos o façam mudar de opinião". "Hoje como o candidato não prevê mudanças positivas, não passa nenhuma confiança, meu voto não mudaria em nada o país. Espero que em 2020 já tenha mudado alguma coisa", ponderou.

O direito de voto para jovens entre 16 e 17 anos foi adquirido durante a Assembleia Constituinte de 1988. A inclusão da possibilidade foi uma das bandeiras apresentadas pelas mobilizações estudantis na época. Os estudantes queriam participar da primeira eleição direta para Presidência da República depois do fim do regime militar, em 1989. Na ocasião, os movimentos chegaram a comemorar a inclusão entre os eleitores com o slogan: “Chegou a nossa vez, voto aos 16”.

O TSE não tem dados a presença dessa faixa etária entre os votantes naquele ano, mas há dados que em 1992, os eleitores com menos de 18 anos chegaram a representar 3,57% do eleitorado brasileiro, o percentual correspondia a mais de 3,2 milhões de jovens.

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