A classe política tem perdido cada vez mais a credibilidade diante da população. O curioso, entretanto, é que nos últimos tempos os acentuados escândalos de corrupção envolvendo atores influentes do setor estão, na realidade, não apenas aumentando o descrédito, mas nutrindo outro sentimento na sociedade: a raiva. Ao menos é isso o que vem acontecendo com recifenses das classes C e D, segundo aponta um estudo qualitativo feito pelo Instituto de Pesquisas UNINASSAU.
##RECOMENDA##Ao entrevistar pessoas jovens e mais maduras que recebem de um a cinco salários mínimos sobre a percepção deles sobre a atuação dos políticos brasileiros, o levantamento, encomendado pelo LeiaJá em parceria com o Jornal do Commercio, apontou que todos rejeitam, não confiam e desacreditam na classe. “Classificam [a classe política] como ladra, não mostram apreço e nem respeito e são incapazes de citar um bom político ou um político que admiram”, detalha a amostra.
O raio-x sugere que o sentimento negativo é mais acentuado quando se trata dos eleitores mais velhos. Segundo o texto da pesquisa, esta parcela dos entrevistados reconhecem os políticos como “estorvo para a sociedade”. Já os mais jovens não demonstram intensa revolta, mas também não os admiram.
O LeiaJá foi às ruas conferir o sentimento popular sobre o assunto e os argumentos do estudo foram corroborados. Para o comerciante José Sales, 61 anos, os políticos são “um cambôi [sic] de ladrões”. “Tenho raiva deles sim. Quando estou aqui [ no Mercado de Afogados] e vejo que eles estão vindo, apertando a mão do povo e fazendo suas promessas, corro logo para não ser obrigado a falar com eles. Odeio mesmo esses políticos. Dá vergonha deles”, declarou o morador da Imbiribeira, na Zona Sul do Recife.
A postura de Sales também foi expressa por outras quatro pessoas mais maduras abordadas pela nossa reportagem, mas que se recusaram a falar quando souberam que o assunto era a atuação dos políticos no país e em Pernambuco. O sentimento de descontentamento entre eles era latente.
Já ao abordar mais jovens, como o estudante Rafael Lima, 20 anos, a sensação de desprezo foi latente. “Estou nem aí para eles. Não influenciam em nada para mim. O que sei é que precisamos de pessoas mais honestas entre eles”, frisou o morador do bairro da Joana Bezerra.
Lava Jato e o sentimento de justiça
Um dos fatores que acentua a negatividade diante dos políticos, de acordo com o Instituto de Pesquisas UNINASSAU, é a corrupção e, com isso, os entrevistados afirmaram nutrir um “sentimento de justiça” com a Operação Lava Jato, que investiga um esquema de corrupção bilionário a partir de contratos superfaturados na Petrobras. “Entre os eleitores mais maduros observamos intensa alegria com a Operação… Os jovens aprovam a Lava Jato, mas não são tão entusiastas”, explicou o coordenador da pesquisa e cientista político Adriano Oliveira.
Segundo a avaliação qualitativa, “os inquiridos associam ao sentimento de justiça” porque “políticos estão indo para a cadeia, assim como ricos” e não necessariamente pelo combate à corrupção. Alguns, inclusive, “associam a crise econômica a Lava Jato”.
Apesar da sensação de justiça com a prisão de alguns atores envolvidos no esquema, Adriano Oliveira também salientou que os ouvidos pelo Instituto classificaram a corrupção como o principal problema do país e apontaram que ela “se tornou corriqueira”. “A corrupção é associada a classe política e não a qualquer indivíduo… A insatisfação com a classe política e o reconhecimento da existência da corrupção pública fazem com que, inicialmente, os eleitores aplaudam a Lava Jato”, disse o estudioso.
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Ineficiência dos Governos
O levantamento também pondera que os recifenses da periferia associam a corrupção à ineficiência dos governos, como a falta de oferta de saúde e educação, e confundem a atuação do Estado com a obrigação dos políticos. Segundo a pesquisa, “os eleitores maduros mostram revolta intensa com os governos e os jovens criticam os governos,mas não são tão revoltados”.
“O governo está perdido. Não tem feito nada pela população, não aprumam [sic] nada”, disparou o comerciante José Tertuliano, 70 anos, morador da Vila São Miguel. “Eles puxam para quem já te, não olham para o pobre”, corroborou a auxiliar de cozinha, Joyce Gonzaga, 29 anos.
Sob a ótica de Adriano Oliveira, responsável pelo estudo, “a impressão negativa dos governos e a existência de demandas que não são solucionadas por eles, fazem com que os eleitores não reconheçam as políticas públicas”, por exemplo. “Governo e a classe política são categorias rejeitadas pelos eleitores”, grifou.
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