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Com acesso ao plano de voo do avião que se acidentou com a delegação da Chapecoense na madrugada de terça-feira (29), o jornal boliviano El Deber enumerou nesta quinta-feira (1) alguns motivos que deveriam ter impedido o avião da companhia aérea LaMia de sair de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, rumo a Medellín, na Colômbia. O avião se acidentou quando se aproximava da cidade colombiana, matando 71 pessoas - seis sobreviveram.

O plano de voo entregue por Álex Quispe - um dos sete tripulantes que estavam no avião - recebeu ao menos cinco observações feitas por Celia Castedo Monasterio, que trabalhava no escritório onde todos os planos de voo do Aeroporto Internacional de Viru Viru são revisados. A encarregada indicou que a autonomia do voo não era adequada, que faltava um plano de voo alternativo e que o informativo foi mal preenchido, exigindo algumas mudanças.

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O periódico teve acesso ao documento, que conta também com as respostas do tripulante dadas uma hora antes da decolagem do avião. A principal observação apontava que o tempo previsto de voo entre Santa Cruz de la Sierra e o Aeroporto José María Córdova, em Medellín, era igual a autonomia de combustível que tinha a aeronave RJ85, cuja matrícula é LMI2933. O tempo estimado da rota era de 4 horas e 22 minutos, e a distância a ser percorrida era de 2.985 km, apenas 15 km do alcance máximo do jato, cerca de 3 mil km.

Quispe argumentou que o piloto do voo, Miguel Quiroga, havia passado a informação e que o tempo seria suficiente. "Não, senhora Celia, eu tenho essa autonomia, nos parece bem... Assim, sem complicações, faremos (o voo) em menos tempo, não se preocupe. É simples, tudo bem, então simplesmente deixe-me (prosseguir com o plano de voo)", disse Quispe, segundo documento descrito pelo El Deber.

Para ter autorização de voo na Bolívia, é necessário ter combustível suficiente para cumprir a viagem até o destino final, chegar até um aeroporto auxiliar mais próximo do destino e ainda ter condições de sobrevoar 45 minutos sobre esse segundo aeroporto.

De acordo com o Secretário Nacional de Segurança Aérea da Colômbia, Freddy Bonilla, a ausência de combustível é uma desobediência grave às regras do transporte de passageiros. "Qualquer aeronave no mundo precisa ter no mínimo uma quantidade extra de reserva para aguentar 30 minutos além do tempo previsto de voo, e ainda mais 5 minutos ou 5% da distância, para que assim se tenha uma segurança. Vamos investigar para saber por que a tripulação não contava com combustível suficiente", explicou.

Apesar das observações de Castedo, o plano de voo foi aprovado e encaminhado às pessoas encarregadas de controlar o voo em Santa Cruz de la Sierra, logo passou ao controle nacional até a saída da Bolívia por Cobija, chegando às autoridades de controle aéreo brasileiro. O avião sobrevoou o território brasileiro pela região de Porto Velho.

De acordo com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), os operadores de aeronaves privadas estrangeiras que desejam sobrevoar o território brasileiro não precisam de autorização do órgão. "De acordo com a Resolução nº 178/2010, antes da apresentação do plano de voo com destino ao território brasileiro, todo operador ou piloto em comando de aeronave privada estrangeira que esteja realizando transporte aéreo não remunerado (voo não comercial) deve comunicar o sobrevoo à Anac", explica.

E informou: "Essa comunicação é suficiente para aqueles que desejam somente sobrevoar o território brasileiro ou sobrevoar e fazer apenas um único pouso técnico, não sendo necessária a emissão de qualquer tipo de autorização por parte da Agência. As informações ficarão registradas na base de dados da Anac."

O El Deber tentou contato com as autoridades bolivianas da Direção Geral da Aviação Civil (DGAC) sobre o documento de Castedo, mas não obteve sucesso. Em nota oficial, a DGAC explicou que está contribuindo com as autoridades colombianas na resolução do caso e garantiu que as informações serão divulgadas após a conclusão das investigações.

As causas que levaram à queda na Colômbia do Avro RJ-85 da LaMia, na madrugada de terça-feira, a 30 km do aeroporto de MedellÍn, convergem em direção a escolha de um plano de voo de risco, complicado na fase final por dois eventos inesperados: a ocorrência de uma emergência declarada por um outro avião na mesma área, um A-320 com vazamento de combustível, e a perda do controle dos comandos de condução, em consequência da pane elétrica anunciada logo em seguida pelo piloto boliviano Miguel Quiroga.

O voo CP 2933, da LaMia, decolou de Santa Cruz de La Sierra com os tanques cheios, 77 dos 92 assentos ocupados, nenhuma carga comercial e pouca bagagem.

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A distância a ser percorrida era de 2.985 km, apenas 15 km abaixo do alcance máximo do jato, cerca de 3 mil km. De acordo com um ex-comandante de tripulação da companhia TAM, atualmente Latam, "um procedimento com margens tão estreitas não seria apresentado no Brasil, onde o piloto e a companhia são os responsáveis legais pelo plano". Na prática, significa que os dados da documentação de detalhamento da viagem são reconhecidas como verdadeiras pela autoridade da Aeronáutica.

No caso do CP 2933, indicaria a conveniência de uma escala para reabastecimento. A dúvida é quanto aos motivos que fizeram um piloto hábil e experiente como Miguel Quiroga ignorar a parada, prevista primeiro para a pequena cidade fronteiriça de Cobija e depois para Bogotá.

A declaração do executivo da LaMia, Gustavo Vargas, de que as decisões cabiam apenas ao comandante, que este teria decidido seguir direto para Medellín para compensar o atraso, não se sustentam: uma alteração voluntariosa como essa, no meio do caminho, teria provocado pedidos de explicações dos controladores do tráfego aéreo.

Não há registro de qualquer reação dos centros da aviação pelos quais o RJ-85 passou. O esquema de navegação, uma espécie de mapa, registrado eletronicamente no aeroporto de origem, aparece automaticamente nas telas de todos esses pontos.

FORA DE LINHA - A British Aerospace, fabricante do modelo BAe-145/Avro RJ-85, quer acompanhar as investigações da queda. Descontinuado em 2002, o avião usa quatro turbinas de baixo nível de ruído e foi projetado para atender rotas regionais curtas, típicas da Europa. Uma versão especial serve a família real britânica.

De acordo com um engenheiro que trabalhou 10 anos na divisão do grupo em Woodford, o complexo industrial que centralizava a produção do jato, a estratégia do grupo era oferecer ao mercado um equipamento de custo razoável na faixa média do US$ 13 milhões, simples e de manutenção barata. Todavia, isso implicava um certo custo. A manutenção de cada unidade deve ser realizada na frequência determinada e sem concessões -, sempre muito rigorosa.

O avião da LaMia tinha 17 anos de uso. Na opinião do especialista, seus componentes e peças "teriam idade para serem trocados na metade do tempo da previsão inicial, ou seja, se alguma coisa tem de ser trocada a cada três anos, recomenda-se que isso seja feito a intervalos de um ano meio".

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