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Quem passa pelas ruas do centro do Recife já deve ter visto ou ouvido os chamados locutores de rua. Com apenas um microfone em mãos e uma caixinha de som, eles usam a voz para divulgar as promoções e produtos das lojas. São vozes ouvidas praticamente de domingo a domingo, mas poucas pessoas sabem quem são ou o quem os levou a usar a fala pública como principal instrumento de trabalho.
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Apesar de terem uma lábia invejável, os especialistas em locução publicitária precisam usar muito mais que o gogó para conquistar o patrão e, principalmente, clientes. Os candidatos têm que ser criativos, verdadeiros artistas de rua para atrair a atenção do público.
Cláudio Batista, 58 anos, por exemplo, já trabalha há mais de 22 anos com o anuncio em frente de lojas. Apesar de ser contratado para trabalhar na área de serviços gerais em uma rede de lojas de roupa no Recife, desde o início do emprego, ele aproveita as horas vagas para realizar um sonho desde pequeno: ser locutor.
"Essa minha voz é desde pequeno, eu sempre tive o desejo de ser locutor, de falar com as pessoas. É um dom. Eu tinha uns oito, dez anos quando comecei a me dedicar a minha voz", relembra Cláudio. Para ele, a arte de trabalhar com sua voz sempre foi motivo de alegria e orgulho. Apesar de nunca ter feito nenhum curso para se profissionalizar, o auxiliar de serviços gerais ainda sonha em ser um grande locutor. Em entrevista ao LeiaJá, o homem conta mais da sua história:
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O que muita gente não sabe também são os desafios que esses profissionais enfrentam todos os dias. Seja em pé durante todo o expediente, sob sol ou até mesmo sem fazer nenhum preparo físico, esses trabalhadores reclamam muitas vezes do esforço que precisam fazer para realizar suas atividades.
Em pé durante quase oito horas do seu expediente, Eduardo Marques, 39, reclama do cansaço. "É muito puxado trabalhar como locutor de rua. A nossa carga horária não é uma coisa de quatro horas. A nossa carga horária são oito. Ficando em pé na maioria das vezes e ainda falando o tempo todo, sem parar", relata o locutor. Mas ainda assim, ele diz se sentir feliz com a profissão. "Eu amo o que faço porque me identifico bastante com locução. Eu me encontrei nessa profissão e sou feliz por isso", diz Eduardo.
Com 20 anos nas costas de tanta experiência e com o gogó afiado, o locutor de rua pensa em abandonar a profissão. Para ele, tudo já está muito desgastado. "Tenho em vista que daqui a mais ou menos um ano eu não quero trabalhar com isso mais. Já faz um bom tempo que atuo nessa área, trabalho com voz... Para mim, já está na hora de dar uma paradinha. Está muito desgastante. A função em si é desgastante", finaliza Eduardo.
Voz recente na atividade
Enquanto uns pensam em desistir da carreira, há aqueles que começaram recentemente a trabalhar com a voz. Fazem apenas oito meses que Mayra Eduarda, 23, resolveu vender chips de celular no meio da rua. Trabalhando de domingo a domingo, ela aproveita sua simpatia para chamar a atenção dos clientes e sair na frente da concorrência. Só na Rua Nova, Centro do Recife, onde a encontramos, pelo menos três pessoas estavam vendendo a mesma mercadoria.
Ela ainda conta que para aguentar ficar falando o dia todo, tem que beber muita água e de vez em quando sentar um pouco. "Aqui a pessoa fica em pé o tempo todo, andando para lá e para cá, gritando, chamando o cliente. Tem que ter jogo de cintura. Mas com muita paciência, vendo tudinho e saio do trabalho satisfeita".
Os cuidados com a voz
Uma coisa é certa entre Cláudio, Eduardo e Mayra. Se não forem feitos os cuidados necessários, o instrumento de trabalho pode falhar a qualquer instante. Para isso, eles se preparam tomando bastante água e sempre procurando hidratar a garganta com vitaminas e sucos.
"Quando eu falo muito, sinto um pouco de cansaço na garganta. Tento relaxar, tomar bastante água. Em casa eu sempre tomo leite, suco natural, algo assim para aliviar. Acho que a única coisa que não faço são exercícios para aquecer o gogó", comenta Cláudio, de forma descontraída.
"Nunca cheguei a ter problemas com as cordas vocais. Até porque eu não faço esforço para falar. Graças a Deus, a minha voz já é assim. Mas é preciso fazer exames e se prevenir. Eu mesmo não tomo nada gelado e sempre bebo muita água durante o expediente. Falo tanto que a garganta seca rapidinho", diz Eduardo.
Enquanto não consegue se especializar na área, Cláudio dá um conselho para quem deseja seguir a carreira de locutor. "Estudar é a melhor maneira de aproveitar bem a profissão. Eu queria ter estudado, feito curso. Um dia eu ainda vou fazer, mas quando a gente é novo tudo fica mais fácil, não é mesmo?".
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