Antes de ser nomeado assessor da Diretoria de Logística do Ministério da Saúde pelo então ministro Eduardo Pazuello, o general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes chegou a indicar que mataria e faria coisas que não podem ser listadas para defender sua Pátria. Mesmo após indícios de superfaturamento e propina na compra de vacinas pelo governo Bolsonaro, o militar reforçou apoio ao presidente e vai assumir a direção do setor responsável pela aquisição de imunizantes no combate à pandemia.
"[...] Por minha Pátria em morro. E também mato e faço coisas que não vou listar aqui, para não provocar chiliques", escreveu Ridauto, que criticava um artigo publicado pelo ex-deputado federal Fernando Gabeira. "Acha que o Exército mudou em 50 anos? Adoraria mostrar que não mudou”, acrescentou em tom ameaçador.
##RECOMENDA##A posição contra o texto "O perigoso esporte de humilhar generais", publicado pelo O Globo, foi exposta em uma mensagem compartilhada em listas de WhatsApp com oficiais e policiais militares. O material desenvolvido por Gabeira em novembro do ano passado sugeria que o próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) rebaixava o alto escalão das Forças Armadas ao desautorizar Pazuello em negociações das vacinas.
O general da reserva vai ser nomeado para o posto de Roberto Dias na Diretoria de Logística da Saúde. O ex-diretor foi exonerado no último dia 29 após ser denunciado por Luiz Paulo Dominguetti Pereira, representante da empresa Davati Medical Supply, que relatou ter sido pressionado para pagar a propina de US$ 1 - equivalente a R$ 5,21 - por vacina comprada de um lote com 400 milhões de doses do imunizante da AstraZeneca.
Em maio do ano passado, período de maior atrito entre o Executivo e o Supremo Tribunal Federal (STF), marcado por manifestações antidemocráticas com a participação de Jair Bolsonaro, Ridauto defendeu a decretação de estado de sítio, quando o presidente centraliza o poder e suspende temporariamente a atuação dos Poderes Legislativo (deputados e senadores) e do Judiciário.
Confira a íntegra da mensagem de Ridauto Fernandes à lista de oficiais e PMs publicada pelo O Globo:
"Militares de carreira são escravos de seus valores. Isso é o que a sociedade não entende. E, como seres humanos, são diferentes uns dos outros. Inclusive quanto à escala de valores, que varia de um para o outro. De um modo geral, varia pouco. O que quero dizer com isso, em relação ao tema abordado pelo ex-MR-8 Gabeira, é que, por alguns valores, um militar passa (facilmente) por cima de muita coisa. Desculpem os que se sentirem ofendidos, mas por minha Pátria em morro. E também mato e faço coisas que não vou listar aqui, para não provocar chiliques. Se eu achar que minha Pátria estiver precisando, aceito de cabeça erguida humilhações e cusparadas. E, se achar que minha Pátria estiver precisando, providenciarei para que aquele que a esteja agredindo seja neutralizado. Adoro essa palavra, neutralizado. Que ideia essa, Gabeira. Pensar que a imagem do Exército e das Forças Armadas será arranhada, triscada sequer, porque o Presidente da República mandou um de seus ministros, que também é militar, fazer algo com que não concorda e o ministro, DISCIPLINADO, aceitou. Que ideia, Gabeira. Essa convivência próxima que vc mesmo diz que teve com certas lideranças militares não lhe ensinou nada? Mas não sou ingênuo de achar que vc apenas se enganou. Ah, não. Cada palavra sua é medida e pensada. E visa colocar integrantes das Forças Armadas, os menos experientes e menos preparados, contra seus Chefes. Tem coisa bem mais perigosa que humilhar generais, posso te assegurar. Quando vc diz que derrotará Bolsonaro e quantos militares estiverem a seu lado, estou imaginando que será pelo voto e pela via legal. É isso? Porque, se a ideia for outra forma QUALQUER, confesso que teria um grande prazer em estar ao lado do Presidente. Nem sempre cumprir o dever é algo sacrificante. Acha que o Exército mudou em 50 anos? Adoraria mostrar que não mudou. Gen Ridauto."