O "rei da cocaína" Rocco Morabito, que quando jovem fez fama e fortuna liderando o tráfico de Milão nos anos 1980, foi extraditado nesta quarta-feira (6) do Brasil para a Itália, onde terá que cumprir pena de 30 anos de prisão.
Desde muito jovem era conhecido por sua capacidade de dirigir o tráfico de drogas, da cocaína à heroína, na capital financeira da Itália.
Aos 25 anos, o jovem calabrês que comprava boates e bares da moda tornou-se um dos novos rostos da máfia calabresa, a N'drangheta, então em plena expansão.
'U Tamunga' - apelido dado a ele por causa da paixão que sentia por um antigo modelo de SUV militar alemão - foi um dos protagonistas dos anos dourados das famosas boates do centro de Milão, onde os filhos da burguesia industrial se reuniam em busca de fortes emoções.
Esse ambiente permitiu que tivesse relações com celebridades do mundo do entretenimento e dos negócios, fazendo com que a 'Ndrangheta se infiltrasse no tecido social e econômico da região mais próspera da península.
Graças ao tráfico de cocaína, conquistou a confiança dos cartéis de drogas da América Latina.
A grande disponibilidade de dinheiro de que gozava, a pontualidade nos negócios e a capacidade de abrir mercados no exterior fizeram dele uma figura-chave.
- "Embaixador" da 'Ndrangheta -
"Era como um embaixador da 'Ndrangheta. Ele vem das famílias 'nobres' da organização", afirma Roberto Saviano, um conhecido jornalista italiano especialista em questões de máfia e autor de vários livros sobre o tema.
"Seu papel foi fundamental para conectar as famílias poderosas da máfia calabresa com inúmeros cartéis internacionais", explicou.
O segundo criminoso mais procurado da Itália depois do chefe da Cosa Nostra, Matteo Messina Denaro, segundo a Interpol, foi um dos homens que contribuiu para internacionalizar a máfia calabresa, que ultrapassou a Cosa Nostra siciliana e a Camorra napolitana.
A 'Ndrangheta é hoje a organização criminosa "com mais ramificações no mundo, está presente nos cinco continentes", segundo o magistrado italiano Roberto di Bella.
Mas nem tudo foi um mar de rosas para Morabito. Ele foi descoberto em 1994 enquanto tentava pagar milhões de dólares a agentes disfarçados pela entrega de uma tonelada de cocaína.
A partir desse momento, Morabito se tornou um foragido. Ele fugiu da Itália e passou 25 anos entre Brasil, Argentina e Uruguai.
Em 2017, após morar por 13 anos com outra identidade no balneário uruguaio de Punta del Este sob o nome de Francisco Antonio Cappelletto Souza, um rico exportador de soja, foi preso em um hotel de Montevidéu.
Enquanto aguardava sua extradição em uma prisão do Uruguai, protagonizou uma fuga impressionante ao lado de outros três criminosos internacionais, abrindo um buraco que lhes permitiu sair pelo terraço da penitenciária.
Quase 50.000 dólares foram usados para subornar os policiais, segundo as investigações.
Preso novamente em maio de 2021 em um luxoso hotel de João Pessoa, capital da Paraíba, como resultado de uma investigação conjunta entre Brasil e Itália, agora deve enfrentar uma condenação de 30 anos na Itália.
A extradição foi autorizada pelo Brasil em março, mas foi suspensa devido a um processo criminal aberto. A Itália temeu então que o homem com mil vidas e muitas identidades, com sobrancelhas espessas e gosto pela vida boa, conseguisse se safar novamente.