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Em sua cidade natal de Auya, o mausoléu que abriga o túmulo de Saddam Hussein é, agora, um monte de ruínas, e um profundo mistério cerca o paradeiro dos restos mortais do antigo ditador, que, se vivo, faria 81 anos neste sábado.

Na madrugada de 30 de dezembro de 2006, primeiro dia do Aid Al-Adha, a mais importante festa do calendário muçulmano, era enforcado o homem que dirigiu o Iraque com mão de ferro por um quarto de século.

Sua execução foi celebrada pelos xiitas, mas significou uma verdadeira humilhação para os sunitas, sobretudo, para aqueles que vivem em sua cidade natal.

O presidente americano, George W. Bush, aprovou pessoalmente que um helicóptero americano transportasse o corpo de Saddam de Bagdá para Tikrit.

O xeque Manaf Ali al-Nida, alto dignitário da tribo dos Abu Nasser, à qual Saddam pertencia, ainda guarda como uma relíquia a carta que sua família teve de assinar.

- 'Ditador adorado' -

Nesse documento, os familiares do ex-presidente se comprometeram a enterrá-lo na mesma noite e "sem demora" em Auya. Saddam foi sepultado no mausoléu construído em vida, quando, para alguns iraquianos, ele era o "adorado ditador".

Com o passar dos anos, o prédio se tornou um lugar de culto para seus partidários.

"Tinha excursão escolar, e poetas que vinham declamar seus versos diante do túmulo", contou à Jaafar al-Garaui, encarregado da segurança para o Hashd al-Shaabi, unidade paramilitar criada pela alta autoridade xiita do Iraque para lutar contra os extremistas.

Hoje, desse lugar outrora tão ornado, restam apenas ruínas, às quais ninguém pode ter acesso sem uma autorização especial.

Em torno do mausoléu, também não sobrou nada das tumbas dos filhos do ditador, Udai e Qusaim, e de seu neto, mortos em julho de 2003 pelos americanos, assim como a de seu primo "Ali, o Químico", enforcado pela morte de milhares de curdos.

O Hashd, que tem a guarda do mausoléu, garante que foi destruído "pela Aviação iraquiana". Segundo autoridades desse grupo, extremistas do Estado Islâmico (EI) ingressaram em Auya em 2014 e instalaram franco-atiradores nos telhados, atacando forças iraquianas que tentavam desalojá-los.

O xeque Al-Nida não acredita nessa versão, apesar de "não sabermos nada de Auya desde que tivemos de ir embora contra nossa vontade".

"O túmulo foi aberto e, depois, dinamitado", afirmou.

Desde a queda do ditador em 2003, "sofremos opressão, já que somos seus parentes", desabafa ele em conversa com a AFP, falando do Curdistão iraquiano, onde vive agora.

"É normal que paguemos esse preço, por sermos da mesma família?", lamenta.

- O mistério que permanece -

Mesmo depois de morto, Saddam Hussein segue atormentando os espíritos. Seu cadáver continua em Auya? Foi exumado antes da destruição do mausoléu? Quem o levou? E, sobretudo, quem sabe, realmente, onde estão seus restos mortais? Há versões para todos os gostos.

O Hashd acredita que "o corpo continua lá", diz Jaafar al-Garaui.

Mas um combatente relata que, "segundo alguns, a filha de Saddam Hussein, Hala, veio de jato particular até Auya e levou o corpo do pai para a Jordânia", onde ela está exilada.

"Impossível!", rebate um professor universitário que pediu para não ser identificado. "Hala nunca voltou ao Iraque", garante esse especialista na ascensão e queda de Saddam.

Ele assegura, contudo, que o corpo de fato não está mais no mausoléu.

"Foi levado para um lugar secreto, e ninguém sabe quem fez isso, nem onde está", à exceção, talvez, da família mais próxima. Mas estes não falam sobre o assunto.

Houve outros túmulos implodidos, diz o especialista.

"O do pai de Saddam Hussein na entrada da cidade, foi dinamitado", completa.

O mistério que paira sobre Auya interessa pouco em Bagdá, onde duas décadas de ditadura deixaram marcas.

Para alguns, a questão é muito mais simples: "Saddam não está morto. Quem foi enforcado foi um sósia", resolve Abu Samer, morador da capital.

Tariq Aziz, o cortês diplomata que ganhou fama ao defender Saddam Hussein perante o mundo durante três guerras e que mais tarde foi sentenciado à morte por pertencer ao regime que matou milhares, morreu nesta sexta-feira aos 79 anos em um hospital ao sul do Iraque, informaram as autoridades.

Aziz morreu após ser transferido para o hospital al-Hussein na cidade de Nasiriyah, 320 quilômetros a sudeste de Bagdá, segundo o governador provincial Yahya al-Nassiri. Ele estava preso, à espera de sua execução.

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Aziz era o cristão de maior posto no regime de Hussein e foi o rosto internacional do regime durante anos, tendo ocupado os cargos de ministro das Relações Exteriores e vice-premiê. Em outubro de 2010, foi sentenciado à forca por perseguir membros dos partidos religiosos muçulmanos xiitas, que agora controlam o Iraque.

Um funcionário do governo de Bagdá informou sobre a morte de Aziz, pedindo anonimato. A religião de Aziz salvou-o da forca, destino que tiveram outros graduados membros do regime. Após a sentença de morte, o Vaticano pediu clemência, por ele ser cristão. O então presidente iraquiano, Jalal Talabani, recusou-se a firmar a sentença de morte, citando a idade e a religião dele.

Antes de ser sentenciado à pena de morte, porém, já parecia que Aziz morreria na prisão. Ele já havia sofrido vários derrames, enquanto estava detido, e enfrentava acusações por vários crimes do regime.

Aziz foi julgado sete vezes, quase todas por crimes contra a humanidade relacionados às campanhas de Saddam contra partidos políticos xiitas e curdos. Ele deixa mulher e dois filhos, Ziad e Saddam, que vivem na Jordânia e que faziam campanha para que o pai tivesse autorização para receber tratamento médico fora do Iraque. Fonte: Associated Press.

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