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No final do mês de julho, a vereadora Michele Collins (PP) apresentou um requerimento solicitando o cancelamento do Carnaval no Recife, no ano de 2021, em decorrência do novo coronavírus. Após pouco mais de quatro meses de pandemia, em meio a um plano de convivência com a Covid-19, a medida gerou polêmica e críticas nas redes sociais. Agora, parte da classe artística pernambucana e muitos profissionais diretamente ligadas à maior festa popular do Estado, pede calma e sugere um diálogo para que tal decisão seja tomada da melhor maneira possível. 

Para Michele, o cancelamento da festa - prevista para acontecer entre os dias 12 e 16 de fevereiro de 2021 -, é uma questão de saúde. "Não podemos colocar a população em risco. Ainda não temos uma vacina comprovada e não é momento para festejos, seja ele qual for", disse em suas redes sociais. Em contrapartida, outros membros da Câmara de Vereadores do Recife se opõem ao requerimento de número 4075/2020, proposto por Collins, alegando ser precoce optar pela não realização do Carnaval.

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Os vereadores Samuel Salazar (MDB) e Ivan Moraes Filho (PSol) acreditam ser muito cedo para se falar em cancelamento. Esse último, inclusive, apresentou um pedido de vistas ao requerimento da vereadora, na última terça (4). Também através de suas redes sociais, Moraes Filho explicou sua posição propondo um diálogo: "Precisamos ouvir as pessoas que constroem e participam do Carnaval. Entre o cancelamento e o adiamento, e entre agosto de 2020 e fevereiro de 2021, existe muito debate e planejamento. Muita gente vive dos recursos gerados no período carnavalesco". 

Em 2020, o Carnaval gerou um faturamento de R$ 1,5 milhão para a cidade do Recife. Foto: Paulo Uchôa/LeiaJáImagens/Arquivo

Mesma opinião apresentou parte da classe artística pernambucana, através do Acorde Pela Música PE. Na página oficial do movimento, apoiado por nomes como Flaira Ferro, Siba, Isaar, Fábio Trummer, Roger de Renor, Juliano Holanda, Jr. Black, Karina Buhr e Rogério Rogerman, entre outros, uma carta aberta sugerindo um debate com o poder público foi publicada na última quarta (5). Nela, os artistas falam da necessidade de se pensar alternativas antes que seja tomada qualquer tipo de decisão: "Essa discussão poderá ser iniciada nos próximos meses, quando teremos uma visão mais definitiva sobre a realidade da pandemia para o início de 2021. O Carnaval deve ser compreendido não apenas como um evento, mas como uma experiência fundamental para nossa cultura e fonte de renda para milhares de famílias".  

Trabalhadores do Carnaval

Em meio à polêmica, os fazedores de cultura popular em Pernambuco - trabalhadores que têm no Carnaval o momento de vivenciar as manifestações culturais locais em sua plenitude além de tirar do evento parte de sua renda -, também estão cautelosos. A chegada do segundo semestre do ano costuma representar o início da preparação para o Carnaval seguinte, no entanto, em 2020, a pandemia do novo coronavírus alterou o cronograma das agremiações trazendo-lhes preocupação. 

Na escola de Samba Galeria do Ritmo, atual campeã do Carnaval do Recife, pequenos grupos de integrantes dedicam-se à parte dos preparativos para um possível desfile.  Para o presidente da agremiação, Mizael Correia de Souza Filho, ainda não é hora para determinar um possível cancelamento da festa. "É muito cedo. Até porque (nosso) Carnaval começaria em dezembro. Eu já comecei a fazer os trabalhos para 2021, independente de qualquer coisa", disse em entrevista ao LeiaJá

Parados desde março deste ano, os integrantes e diretores da agremiação se vêem preocupados com a manutenção da escola. A falta de eventos, proibidos por conta das restrições contra o coronavírus, resultou em dificuldades financeiras para o grupo que não suportaria enfrentar a mesma dificuldade por mais um ano. "O prejuízo (de não fazer o Carnaval 2021) seria muito grande. Estamos parados, (dinheiro) tudo saindo do bolso da gente, para pagar telefone, água. Seria para acabar... As escolas de Recife não têm suporte para passar mais um ano paradas", lamenta Souza. 

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Já para o presidente da União dos Afoxés de Pernambuco (UAPE) Fabiano Santos, o pedido de cancelamento da festa vai um pouco além da preocupação com a saúde pública. "(Existe) um movimento que já antecede a pandemia que é vontade literal de justificar a utilização do recurso investido nas culturas populares, no Carnaval, em outros equipamentos que já têm seu recurso lotado. Existe uma ala que tenta influenciar esse tipo de substituição, já pré-existe essa vontade. E agora com a relação da pandemia, me parece que essa vontade começa a ser externada com a justificativa da própria pandemia".

Fabiano que também preside o Afoxé Alafin Oyó, teme pelo futuro dos grupos de cultura popular caso não haja a festa. "Não sei se é exagero, mas o não realizar do Carnaval vai trazer o findar de algumas agremiações, não só pelo retrocapital econômico que a gente garante, com os recursos angariados do carnaval antecedente, mas sim nesse novo olhar de sobrevivência porque as pessoas que tocam, cantam, que dançam numa agremiação, elas são trabalhadoras da cultura e recebem por isso. Não atendendo a essa possibilidade, você condiciona o indivíduo a pensar em outro formato de subsistência que não vai ser mais a cultura". 

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Segundo o presidente da UAPE, os grupos de afoxé do Estado estão inseguros em relação a 2021 e optaram por não investir na preparação para possíveis apresentações carnavalescas por medo de não poderem reaver esse dinheiro. Fabiano propõe novos modelos para que a festa aconteça sem prejuízo à saúde de quem a faz e de quem a curte. "Por não vislumbrar a possibilidade de uma vacinação coletiva, a gente pensou muito no construir de uma programação com filmagens, com lives, que podem ser feitas em dezembro e janeiro; realizando os quatro dias de Carnaval com mostras e canais no YouTube, Facebook. Se a gente consegue trazer isso de forma total, segura e feliz acho que a gente consegue inclusive dar uma avançada para novas perspectivas".  

 

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