Uma pesquisa que tenta traçar um perfil sobre dependentes do Crack, em Pernambuco, foi apresentada nesta quinta-feira (14), no Recife. Intitulada “Vulnerabilidade de usuários de crack ao HIV e outras doenças transmissíveis: estudo sociocomportamental e de prevalência no estado de Pernambuco”, o trabalho foi apresentado para pesquisadores, gestores e professores a fim de terem uma melhor ilustração da situação desses dependentes químicos. ,
“O seminário teve como objetivo principal fazer um evolutivo tanto pra gestores, acadêmicos e pesquisadores para que esses dados possam ser usados na requalificação deles e em políticas que tenham o norte na estratégia de redução de danos”, esclarece a pesquisadora Naíde Teodósio, envolvida no trabalho. Na ocasião foram divulgados os primeiros dados mais descritivos sobre o assunto, “para que o olhar seja voltado a esses cidadãos que vivem em enorme situação de risco”, acrescenta.
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Com realização da Fiocruz Pernambuco e outros órgãos e entidades de saúde do estado, foram entrevistados 1.062 usuários de crack do Projeto Atitude, de idades entre 18 e 34 anos, de agosto de 2014 ao mesmo mês em 2015. Desse número, 819 são do sexo masculino e 243 femininos em situação de rua e com baixa escolaridade.
Um dos pontos constatados foi que o tempo-médio de uso dessa droga é de nove anos, no entanto, os personagens da pesquisa já possuem, em média, oito anos de consumo, com início por volta dos 18 anos (44%). Foi também constatado que as mulheres possuem início no uso do entorpecente antes dos 15 anos de idade. Elas também relatam ter sofrido violência sexual antes e durante o ingresso no consumo ilícito.
Quanto ao vínculo familiar, os números são inferiores ao esperado, de acordo com a pesquisadora. A maioria possui vínculo familiar rompido, e dos que possuem filhos, 4% dos homens ainda possui o elo, em contraponto com 19% das mulheres na mesma situação. Além desses dados, 41% dos entrevistados não trabalham atualmente.
Correlação com doenças sexualmente transmissíveis
A pesquisadora afirma que escolheu o Projeto Atitude porque se trata de usuários em situação de rua e em vulnerabilidade, visto que o trabalho realizado pela iniciativa não se dá em reabilitação, mas sim, em acolhimento e apoio desses cidadãos. Nesse mesmo cenário, doenças sexualmente transmissíveis, violência sexual e outros crimes compõem o histórico de muitos dos participantes da pesquisa.
Foi identificado que o conhecimento sobre o HIV é menor que o da população geral e os números de casos de HIV e sífilis positivos são maiores entre as mulheres. Além dessas, há a presença de sífilis, hepatites e tuberculose. “Muito disso se dá por conta da troca de sexo pela droga ou a transferência de cachimbos ou canudos (utilizado para o consumo de crack em pó). Quanto ao histórico de crimes como o roubo, é um dos meios utilizados para se conseguir a droga”. O uso de crack em pó – uso verificado somente em Pernambuco - foi revelado por 54% dos entrevistados.
Com a realização da pesquisa, foi verificado que o projeto, mesmo não tendo o viés voltado para a desintoxicação do usuário, através do seu trabalho de conscientização e acolhimento, tem registrado o impacto na redução de uso e frequência de consumo. “O uso do crack tem repercussão no contexto que as pessoas estão inseridas, então, o acolhimento permite que o usuário possa pensar acerca do consumo da droga”, aponta a pesquisadora.