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O Espaço Pasárgada vive um momento delicado. Conforme matéria publicada pelo LeiaJá, escritores e poetas demonstram insatisfação com o atual funcionamento da casa de Manuel Bandeira, e que já abrigou debates, exposições, lançamentos de livros e reunião de intelectuais, além da visitação do público em geral. Restrito ao primeiro andar, o Espaço conta com um auditório para 60 pessoas, uma biblioteca e a Coordenadoria de Literatura para fins artísticos e culturais.

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A reportagem do LeiaJá esteve no local e conferiu a divisão do espaço, que está passando por uma reforma. A biblioteca está inativa. Painéis e fotografias de Manuel Bandeira estão fora do lugar para serem readequados ao espaço. Quadros assinados por Romero Britto, inspirados em poemas de Manuel Bandeira, esperam ser integrados ao Espaço em nova exposição. A Coordenadoria de Literatura está funcionando de maneira improvisada.

O térreo, onde já funcionou a Livraria do Escritor, uma sala para artistas plásticos, local de ensaio da produção teatral pernambucana e espaço de exposição permanente, está sendo ocupado pela Secretaria Especial de Assessoria ao Governador. A divisão compromete o acesso de idosos, obesos e portadores de deficiência aos eventos culturais realizados no primeiro andar do Espaço. É o que argumentam os poetas Valmir Jordão, em texto publicado na Interpoética, e Héctor Pellizzi, em carta aberta. A categoria de escritores critica a ocupação burocrática em defesado uso social da casa do poeta, que é o de abrigar e preservar a arte.

Segundo o Gestor de Equipamentos Culturais da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Célio Pontes, o Espaço Pasárgada não deixou de funcionar, apenas diminuiu as atividades. "Nós estamos passando por um momento de manutenção corretiva, um trabalho de rotina que acontece anualmente. Trata-se de um estudo de requalificação do local para que possamos potencializá-lo como um espaço de literatura".

O novo perfil do Espaço Pasárgada inclui a saída da Secretaria para local ainda indefinido. "É preciso fazer uma análise conjuntural da política cultural do Estado", afirmou Célio. O gestor chamou atenção para o investimento maciço na cultura pernambucana nos últimos anos, fruto de uma efervescência cultural em todas as categorias artísticas. "Como toda ação de crescimento tem um impacto, as mudanças para se adequar ao novo momento nem sempre acontecem junto ao crescimento. A Fundarpe também está passando por uma revisão do espaço físico para que as diretorias e coordenadorias que estão ocupando os equipamentos culturais da cidade voltem para cá, a exemplo da Coordenadoria de Literatura". Equipamentos culturais, como o Cinema São Luiz e a Torre Malakoff, estão abrigando as coordenadorias de Audiovisual e Música, respectivamente.

Quanto à utilização do espaço público pela Assessoria do Governador, colocada por Héctor como a descaracterização de um patrimônio tombado, Célio responde que a Secretaria não é só burocrática. "A Assessoria do Governador também presta serviços culturais, como a itinerância das aulas-espetáculo. Com a saída do setor da casa de Manuel Bandeira, o térreo será reintegrado às atividades do Espaço Pasárgada.”

O novo perfil da Casa de Manuel Bandeira, que já tem projeto escrito, está sendo estudado ainda do ponto de vista da acessibilidade. "A requalificação do lugar prevê mudanças para que idosos e deficientes possam ter acesso ao primeiro andar. Estamos agindo de acordo com as exigências da legislação”, declarou o gestor.

Célio Pontes afirmou não haver ainda prazo para a finalização das obras, mas disse que o ano de 2012 é o momento de captação de recursos através de emendas parlamentares, para colocar em execução o projeto a partir do próximo ano. “Daremos prioridade à biblioteca. Enquanto não abre para plenas atividades, o Espaço Pasárgada continua sendo um equipamento cultural, atuando junto às escolas e realizando projetos como o Cine Pasárgada e o Café em Pasárgada”, pontuou o gestor.

As visitas pedagógicas são o grande diferencial do Espaço. “Nós incentivamos o aluno a trabalhar a obra do poeta Manuel Bandeira para que possa se expressar em diversas linguagens dentro do nosso espaço, através de recitais, da composição de um rap, produção de vídeos e outras manifestações”, declarou Selma Coelho, coordenadora do Espaço Pasárgada. Segundo ela, a proposta é preparar o aluno e o professor a fim de que se tornem agentes construtivos da visita.

O projeto Cine Pasárgada procura trabalhar a literatura em todas as suas linguagens. Quinzenalmente, às quintas-feiras, acontecem exibições de filmes selecionados pela Curadoria de Doutores de Cinema do Espaço, composta, este ano, por Raquel do Monte e Fernando Mendonça, e, em seguida, um debate com especialistas da área.

Já o Café em Pasárgada tem curadoria do escritor Marcelo Mário de Melo e acontece duas vezes no mês.  O projeto reúne escritores, poetas e o público para uma interação que permite a aproximação dos visitantes com a intimidade do convidado, que leva objetos e fotografias que lhe servem de referência acerca de sua experiência de vida.  O público participa desse momento ao sabor e degustação de um café. Os dois projetos estão sendo realizados no auditório do primeiro andar.

"Há mais de três décadas, o Espaço Pasárgada era local de lançamentos de livros, debates, exposições, recitais, reuniões de intelectuais e de visitação do público em geral. Hoje está relegado ao 1ª andar, onde idosos, obesos e pessoas de pouca mobilidade não têm mais acesso." As palavras do poeta Valmir Jordão em texto publicado no site da Interpoética manifestam a insatisfação com a transformação de boa parte da área da instituição em sede da Secretaria de Cultura do Estado -  na Rua da União, Boa Vista. A Casa é patrimônio histórico tombado, onde viveu o poeta Manuel Bandeira.

Segundo outros representantes da categoria, na área onde hoje funciona a Secretaria de Cultura existia a Livraria do Escritor, uma sala para artistas plásticos e a gráfica no quintal. E, ainda, havia espaço para realização de oficinas de arte. No último dia 21 de junho, no evento Café Pasárgada, o poeta pernambucano, radicado na Argentina, Héctor Pellizzi, reforçou também o seu descontentamento com a nova realidade da Casa, quando divulgava no Recife o jornal mensal argentino, publicado há sete anos em Buenos Aires, em que destaca com frequência os poetas pernambucanos.

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Héctor, que participou das lutas dos escritores pernambucanos pelo tombamento do Espaço Pasárgada nos anos 80, também redigiu um texto que promete divulgar nas redes sociais, em que expressa decepção com a descaracterização do lugar. Confira, na íntegra:

O poeta Pedro Américo, que afirma apoiar a iniciativa de Héctor Pellizzi, diz que não há razão para se manter o Espaço ocupado com divisórias em favor de uma burocracia oficial do Estado. "Nós protestamos contra o abuso das autoridades. Não só pela preservação da Casa de Manuel Bandeira, mas, também, porque ocupar um centro cultural aberto a todos os segmentos que querem usufruir do lugar para fins artísticos é uma burrice, na minha opinião."

Américo ressaltou a intenção pacífica do movimento. "Isso é um apelo, não uma postura oposicionista, até porque estamos todos no mesmo barco. Nós, poetas, sempre expressamos nosso descontentamento publicamente, mas nunca por escrito, oficialmente. É importante que a carta de Héctor se torne o mais público possível."

O também poeta pernambucano Marcelo Mário de Melo critica a atual realidade e ressalta que o problema da ocupação é uma questão técnica. "O ideal seria a utilização do espaço público pelo ponto de vista do acesso. Seria interessante que houvesse um retorno do Estado para essa questão, que eles buscassem uma alternativa para a Secretaria de Cultura".

Héctor volta para a Argentina nesta terça (26) e lamenta não ter disponibilidade para cobrar diretamente do Governo do Estado uma posição. Ainda assim, a categoria de escritores e poetas pernambucanos pretende continuar o debate, segundo apurou a reportagem do LeiaJá. "A gravidade do problema é a burocracia que se instalou no Espaço Pasárgada. O lugar é um patrimônio histórico tombado e não pode ser tocado. É importante que as pessoas divulguem esse texto para que as autoridades competentes de cultura tomem conhecimento e resolvam restituir a Casa de Manuel Bandeira", declarou o poeta.

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