Tópicos | Abin paralela

O cerco parece se fechar cada vez mais em torno do vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), quando agentes da Polícia Federal (PF) entraram, na última segunda-feira (29), em endereços ligados ao parlamentar, com mandados de busca e apreensão. A operação investiga uma possível ligação do “filho 02” do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), com o acesso ilegal a dados confidenciais da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), durante o mandato presidencial de seu pai. 

Em entrevista ao LeiaJá, o advogado criminalista Ygor de Carvalho, especializado em crítica da economia política e relações jurídicas, explica o que levou o vereador carioca a ser alvo da PF. “É o seguimento da investigação que visa expor uma estrutura de facção criminosa que operava como uma "Abin Paralela", onde os sistemas de espionagem eram utilizados como mercadoria e poder político pelo grupo e aliados”, contou o jurista. 

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O vereador, por sua vez, que é investigado por formação de organização criminosa e invasão de dispositivo informático, teve materiais apreendidos em seus endereços pela PF, a mando da Procuradoria Geral da República (PGR). Isso não foi uma surpresa para os órgãos, de acordo com Carvalho, “visto os fortes indícios de que os acusados de fato fariam parte desta organização criminosa atuante sobretudo no serviço de inteligência e espionagem da ABIN”. 

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O advogado afirmou ainda que, caso o processo aponte sua real autoria nos casos, há a possibilidade de Carlos Bolsonaro ser condenado a cumprir pena de reclusão que pode chegar a 10 anos, além da perda dos direitos políticos. “Politicamente, para a sua família, é a exposição institucional de um radicalismo evidente, capaz de cometer crimes de lesa pátria e recorrer a métodos flagrantemente ilegais. O Slogan ‘Brasil acima de todos’ se tornaria uma grande ironia, visto o dano a integridade nacional e à soberania do país em detrimento da ação criminosa das facções políticas aliadas a família Bolsonaro”, observou o jurista. 

Segundo o advogado, os avanços da PF na operação vão depender da colaboração de outros órgãos para adiantar seu processo. Ele já vem sendo apontado no Supremo Tribunal Federal (STF), por possível envolvimento no esquema de rachadinha no seu gabinete, além de participação em casos de fake news e milícias digitais. “Com a recente apreensão de celulares, incluindo o de Carlos e de sua assessora Luciana Paula Garcia, espera-se que as investigações avancem, podendo a Polícia Federal compartilhar informações conforme necessário com outros órgãos envolvidos”, concluiu. 

 

Na última semana, o presidente Jair Bolsonaro decidiu trocar mais uma vez o número do telefone celular, a sexta mudança desde que assumiu o governo. Ele, no entanto, passou para o novo aparelho os antigos contatos. A lista do seu aplicativo tem mais de dez mil nomes, entre apoiadores civis e militares, políticos e simpatizantes.

A parte mais influente é formada especialmente por agentes de órgãos de inteligência e de tropas de elite das polícias. Trata-se de um abrangente serviço particular de informações impulsionado na campanha de 2018.

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Em reunião no Palácio do Planalto, a 22 de abril, Bolsonaro confirmou a seus ministros que mantinha o serviço próprio de informações e desdenhou do trabalho da ABIN, da Polícia Federal e dos centros de inteligência das Forças Armadas. "Sistemas de informações: o meu funciona. O meu, particular, funciona", disse. "Prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho."

É comum o presidente encaminhar parte dessas denúncias filtradas a aliados ou mesmo publicar em suas redes socais, sem checagem. Vez ou outra ele apaga a postagem e pede desculpas. A maioria chega à Agência Brasileira de Inteligência (ABIN). Um integrante do órgão afirmou ao Estadão que as denúncias repassadas, muitas sem fundamento, sobrecarregam o sistema de informações.

Ainda de madrugada, Bolsonaro costuma selecionar informações recebidas no WhatsApp entre aquelas que precisam ser "checadas" por seus assessores ou "cobradas" às respectivas áreas. O presidente costuma encaminhar as mensagens diretamente para ministros e auxiliares.

No tempo de deputado, ele recebia a ajuda do filho e vereador Carlos Bolsonaro (RJ). Agora, conta com assessores do gabinete, como o tenente-coronel da Polícia Militar do Distrito Federal Márcio Cavalcante de Vasconcelos e o coronel do Exército Marcelo Costa Câmara. Todos trabalham no 3.º andar do Palácio do Planalto, a poucos metros da sala de Bolsonaro.

Todas as manhãs, o general reformado Augusto Heleno Ribeiro, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), cumpre um antigo ritual dos ocupantes do cargo de chefe do sistema de informações de receber o presidente na garagem do Planalto e subir com ele para o gabinete, repassando dados entregues pela Abin. Mas Bolsonaro já deixou claro que essas informações só "desinformam".

Numa entrevista recente na portaria do Palácio da Alvorada, o presidente disse que soube, por meio de seus informantes, amigos policiais civis e militares no Rio, que algo estava "sendo armado" contra ele e sua família. Afirmou ter sido avisado com antecedência da possibilidade de busca e apreensão nas casas de filhos dele e da "plantação" de provas contra a família, o que não se concretizou. Neste caso, atribuiu a ofensiva ao adversário e governador do Rio, Wilson Witzel (PSC).

Ao ser questionado sobre o sistema próprio de informação, Bolsonaro já afirmou em entrevista: "É um colega de vocês da imprensa que com certeza eu tenho, é um sargento no batalhão de operações especiais no Rio, um capitão do Exército de um grupo de artilharia em Nioaque, um policial civil em Manaus. É um amigo que eu fiz em um determinado local faz anos, que liga pra mim e mantém contato pelo zap", relatou. "Descubro muitas coisas, que lamentavelmente não descubro via inteligência oficial, que é a PF, a Marinha, a Aeronáutica e a Abin."

Um dos participantes do serviço de informações paralelo referidos pelo presidente é Aparecido Andrade Portela. Militar reformado do Exército, ele conheceu Bolsonaro nos anos 1970 em Nioaque, Mato Grosso do Sul, quando serviram juntos. Ele costuma transmitir ao presidente informações políticas locais e a situação na fronteira.

Outro informante é o antigo assessor Waldir Luiz Ferraz, 67 anos. Ele foi convidado a trabalhar em Brasília, mas preferiu permanecer no Rio, especialmente depois que Witzel se tornou adversário do clã Bolsonaro. O auxiliar do presidente opera uma espécie de sucursal carioca da rede de informações.

Numa operação da Polícia Federal de busca e apreensão no Palácio das Laranjeiras, residência do governador, na madrugada de 26 de maio, Waldir estava na calçada em frente para repassar informações ao presidente, revelou a revista Veja. Com 2,4 mil contatos no WhatsApp, ele disse ao Estadão que recebe mais de 1.000 mensagens por dia, entre denúncias, críticas e apoios. Após uma filtragem, dez a 15 são repassadas a Bolsonaro.

Eleição

A rede de informantes cresceu vertiginosamente na última eleição, mas antes já tinha ajudado a eleger Bolsonaro e seus filhos a cargos no Legislativo. A capilaridade da rede do presidente lhe permite, inclusive, que ele receba informações muito semelhantes às que chegam às mesas dos governadores oposicionistas do Rio, Wilson Witzel, e de São Paulo, João Doria, de suas respectivas seções de inteligência das polícias, as P-2.

Foi por meio da rede no WhatsApp que a família Bolsonaro recebeu um vídeo da autópsia do corpo do ex-agente do BOPE Adriano Magalhães da Nóbrega, ligado a milícias, morto, em fevereiro, num cerco da polícia no interior da Bahia. A imagem foi divulgada no Twitter pelo senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, que já condecorou o ex-policial. O parlamentar que acusou a polícia baiana de torturar Nóbrega antes da execução. Aparentemente surpreendido, o secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, chegou a dizer que o vídeo não foi feito dentro do IML, onde havia uma equipe reduzida. Mas não explicou a origem da imagem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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