Fundado em 1974 com o intuito de resgatar as agremiações dos 'saudosos carnavais' de Pernambuco, na época um tanto enfraquecidas, o Bloco da Saudade é hoje a principal referência do gênero musical frevo de bloco e responsável pelo ressurgimento do Carnaval lírico de Pernambuco. Idealizado pelo músico Antônio José Madureira, o Zoca, como é conhecido, e o jornalista Marcelo Temporal Varella, suas festas - seja os acertos de marcha ou o grande baile na semana que antecede a festa de Momo, ambos na sede do Clube Náutico Capibaribe em Recife - são algumas das mais importantes prévias do calendário carnavalesco da cidade, atraindo milhares de foliões e dezenas de agremiações irmãs, muitas criadas por sua influência.
Ao completar 40 anos, o Bloco da Saudade vive não só um momento de grande popularidade, mas traz também a inspiração e a responsabilidade pelo renascimento de toda uma expressão cultural genuína do Carnaval pernmabucano. De acordo com a comunicadora social, historiadora, educadora e folclorista, Claudia Lima, em seu livro Evoé: Histórias do Carnaval - das tradições mitológicas ao trio elétrico:
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"Ao contrário dos clubes carnavalescos, que tiveram suas origens nas corporações profissionais, o bloco carnavalesco surgiu das reuniões familiares dos bairros de São José, Santo Antônio e Boa Vista, entre outros, como extensão dos presépios e ranchos de reis, nos idos da década de 20, na cidade do Recife. O bloco veio proporcionar condições ao elemento feminino de participar do carnaval de rua do Recife, longe de se misturar com a massa acostumada a acompanhar os clubes de frevo".
Era uma época em que os carnavais de clubes estavam no auge e "Um sonho que o Maestro Edgard Moraes imaginou e uns loucos por carnaval (Zoca e Varela) acharam que podiam fazer uma brincadeira, e foram lá na casa do Edgard e pediram a ele para usar o hino Valores do Passado. Um hino que ele fez não especialmente para o Bloco da Saudade, mas que ele cedeu com muito carinho", conta a diretora social do Bloco da Saudade, Claudia Cabral de Melo. A música fala das troças e blocos do Recife e Olinda, e em seu último verso diz "E o Bloco da Saudade assim recorda tudo o que passou". Ouça o hino Valores do Passado, na voz de Maria Rita.
Para Izabel Bezerra, presidente do Bloco da Saudade, "A agremiação é um bloco independente. Quando nós começamos em 1974, não tinha um Carnaval na rua, havia o Carnaval de clube, foi uma forma de as pessoas brincarem nas ruas". A primeira saída do bloco pelas ruas do Recife teve sua concentração na casa de Edgard Moraes, no bairro de Campo Grande, Zona Norte do Recife. Na época não havia as elaboradas fantasias, eles saíram de bermudas e camiseta, com o estandarte e batuqueiros.
As fantasias surgiram em 1976, e em 1995 o carnavalesco Carlos Ivan de Melo assumiu os adereços e as vestimentas das 150 pessoas que participam do Bloco da Saudade. Carlos já era conhecido pelo seu trabalho na Troça Carnavalesca Mista Pitombeira dos Quatro Cantos.
Como todos os blocos líricos, esta agremiação é composta por um coral feminino e uma orquestra de pau e corda. O flabelo, incorporado ao bloco em 1980, no formato de uma máscara carnavalesca, carrega seus tons elementares, encarnado, azul e branco. Hoje, Bárbara Rodrigues é a flabelista oficial do bloco. A garota de 17 anos começou a participar das festas da agremiação desde quando tinha apenas 4 anos.
"Meu tio era perseguidor (pessoa que acompanha o bloco) e em 2002 resolveu participar do Bloco e me levou junto, desde então não saí da agremiação", comenta Bárbara. Em 2010 Bárbara começou a integrar oficialmente a equipe de carnaval do Bloco da Saudade, como porta-flabelo. "É uma emoção muito grande poder estar contribuindo de alguma forma" para a comemoração dos 40 anos do encarnado e azul, conta a flabelista.
"O Bloco da Saudade não é só passado, é presente. É uma parte da nossa cultura que está viva e que nós queremos preservar e levar para as ruas. Para as pessoas cantarem e se deliciarem com as músicas, que são belíssimas", diz a presidente da agremiação, Izabel Bezerra. Foi, e é, através da força do Bloco da Saudade que surgiram novos blocos e agremiações antigas estão ressurgindo. Em uma das noites dos flabelos que o bloco organiza, estavam presentes 18 agremiações. "É nessa hora que percebemos o crescimento e a maturidade do frevo de bloco", fala Claudia Cabral de Melo.
Notável pelos seus feitos, o Bloco da Saudade é dententor da Medalha de Mérito José Mariano, comenda máxima da cidade do Recife, outorgada pela Câmara de Vereadores à agremiação no ano de 1995; da Medalha do Mérito Aloísio Magalhães, maior comenda da cidade de Olinda, outorgada pela Câmara de Vereadores em 11 de julho de 2008; e em 2009, através da Lei Estadual número 13.757 de 29 de abril de 2009, o Bloco da Saudade, foi agraciado com o título de Patrimônio Cultural Imaterial do Estado de Pernambuco.
O bloco ainda recebeu diversas homenagens: foi destaque do Carnaval de 1990, no XIII Baile dos Artistas; da família do compositor Edgard Moraes (1996); Título de Mémoria Viva do Recife, concedido pelo Museu da Cidade do Recife (1997); da Prefeitura do Recife pelos 35 anos de existência, construindo a glória e a tradição do nosso Carnaval em 2009.
Em 2006, foi lançado o livro Evoluções: Histórias de Bloco e de Saudade, que conta 35 anos da história do Bloco da Saudade. "Nós pretendemos atualizar o nosso livro no futuro, quem sabe para os 50 anos do bloco", avisa Izabel Bezerra. Há também a expectativa de o próximo CD ser uma compilação dos maiores sucessos da agremiação, que tem como seu principal compositor Getúlio Cavalcanti.
Neste ano comemorativo, “Iremos sair no carnaval com o tema Recife, um Carnaval Divinal, inspirado em dois personagens clássicos da Commedia dell'Arte, o Pierrot e o Arlequim”, explicou Isabel a Álvaro Duarte, durante entrevista ao programa Opinião Brasil em que estiveram presentes também Zoca Madureira e Getúlio Cavalcanti.
O bloco lançou um CD novo, Sonho de Carnaval, e dentre as músicas estão nove frevos de bloco compostos entre 2010 e 2014. Maestro Bozó 7 Cordas foi o responsável pela direção musical e arrranjo das músicas do álbum, além ter cedido seu estúdio. O álbum está a venda na loja Passadisco e na Livraria Cultura, ao custo de R$ 25. Atuante na agremiação há 10 anos, Bozó também participou da gravação do disco Saudade 30 anos.
Durante o primeiro acerto de marcha deste ano, o bloco homenageou o maestro. "É muita satisfação (homenagear o maestro) porque também percebemos a evolução da história dele, o crescimento dele. Dentro do que é representado para nós, a importânca do frevo de bloco. A gente entregou para ele essa tarefa (gravação do CD de 40 anos) e ele cumpriu maravilhosamente", conta Claudia Cabral de Melo.
A agremiação também foi convidada a participar de diversas comemorações das festas do Momo, dentre elas o passeio carnavalesco do Catamaran Tours, no dia 6 de fevereiro, pelo Rio Capibaribe e a inauguração do Paço do Frevo, no domingo (9), localizado na Praça do Arsenal.
O 30° Baile do Bloco da Saudade acontece no Clube Náutico Capibaribe, nesta sexta-feira (21), a partir das 20h. No domingo de carnaval (2), o bloco passará na casa onde viveu o Maestro Edgard Moraes para pedir a benção ao mestre inspirador da agremiação.