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De outdoors nas cidades a eventos festivos nos grotões, a campanha política antecipada tem driblado o calendário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Pré-candidatos e partidos - tanto aliados do governo como da oposição - fazem corpo a corpo e usam as redes sociais em pedidos dissimulados de votos, a seis meses do início oficial da propaganda política, que, por lei, só começa em 16 de agosto.

Em 2018, o TSE considerou que publicidade antecipada não está configurada apenas no "vote em", mas também em expressões que permitam concluir a defesa pública da vitória do candidato. Com isso, a legislação e a jurisprudência proíbem pedidos explícitos e implícitos de voto neste período.

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Especialistas ouvidos pela reportagem associam o aumento de santinhos impressos e virtuais à reforma eleitoral de 2015. Ela reduziu de 90 para 45 dias o prazo de campanha, mas institucionalizou a figura do período da "pré-campanha", com penas brandas, geralmente multas, para a maioria das infrações. Isso permitiu "dribles" na Justiça Eleitoral.

No TSE, há pelo menos sete representações por campanha antecipada contra o presidente Jair Bolsonaro - que deve concorrer à reeleição -, em 2021 e 2022. No dia 15, o ministro Raul Araújo negou liminar para aplicar multa a Bolsonaro e a associações agropecuaristas por outdoors que promoviam o presidente e traziam mensagens como "#em2022vote22". A hashtag faz referência ao número do PL, partido do presidente. Araújo entendeu que não havia comprovação da autoria das placas nem provas de que Bolsonaro tinha conhecimento prévio delas. Procurado, o Palácio do Planalto não se manifestou.

MINISTROS. Preocupada com consequências jurídicas da antecipação de campanhas de integrantes do governo, a Advocacia-Geral da União reeditou uma cartilha com orientações a ministros-candidatos. Ainda assim, tirando proveito de "áreas cinzentas" da legislação, eles mergulharam na campanha fora de época.

A chefe da Secretaria de Governo, Flávia Arruda (PL), espalhou outdoors no entorno de Brasília com votos de "feliz 2022". Dois meses após as festas de fim de ano, eles seguem instalados. Questionada, a assessoria da ministra não comentou.

No dia 5, em Teresina, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (Progressistas), reuniu 2 mil pessoas para apresentar os nomes da ex-mulher, a deputada Iracema Portella (Progressistas), e do ex-prefeito Silvio Mendes (PSDB) para a disputa estadual. "Chegou a hora de decretarmos a independência do Piauí. As pessoas que vão ter responsabilidade de conduzir com vocês esse processo. É a chapa Silvio Mendes, governador, e Iracema Portella, vice", discursou o ministro.

Dias depois, Mendes foi acusado de fazer propaganda antecipada ao publicar vídeo repetindo frases de Nogueira. A Justiça Eleitoral do Piauí mandou o pré-candidato retirar a gravação do ar, sob pena de multa diária de R$ 1 mil. Nogueira e Mendes não foram localizados.

A ofensiva de aliados de Bolsonaro em pré-campanha ganhou fôlego com as "motociatas" pelo País e as transmissões ao vivo organizadas pelo próprio presidente. No dia 10, Bolsonaro recebeu para a live o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, pré-candidato ao Senado pelo Rio Grande do Norte.

Em setembro, Marinho havia se reunido com prefeitos e deputados estaduais no interior potiguar para lançar sua pré-candidatura. "Esse é apenas o primeiro passo de um

longo processo, de muito diálogo e de busca por entendimentos para que, unidos, possamos trabalhar para o Rio Grande do Norte voltar a ter representatividade no Senado", disse, na ocasião. Marinho foi alvo de ação do Ministério Público Eleitoral por campanha antecipada. O ministro já afirmou que "não existem vedações legais à divulgação de críticas a governos nem menção a pré-candidaturas".

Assíduo participante das lives de Bolsonaro, o ministro do Turismo, Gilson Machado, tenta viabilizar candidatura ao governo de Pernambuco. "Ministro sanfoneiro para governador", diz jingle que circula nas redes. Em eventos, aparece tocando sanfona e reproduzindo motes eleitorais do presidente. Procurado, Machado não foi localizado.

Os programas gratuitos dos partidos começaram a ser veiculados neste mês e as siglas devem usar o horário para reforçar a imagem dos candidatos à Presidência da República.

VÍDEO. No lado petista, militantes propagam adesivos e santinhos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Recentemente, aliados compartilharam vídeo no qual homens se revezavam para votar no petista em aplicativo de celular que simulava a urna eletrônica. A deputada Érika Kokay (PT-DF) destacou o número de Lula ao reproduzir o conteúdo. "Já tem gente treinando para votar 13 em 2022", escreveu. O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) pediu providências à Justiça Eleitoral do Rio.

Lula tem reforçado a participação em lives e eventos com tom eleitoral. Nos 42 anos do partido, ele usou a cerimônia, transmitida pela internet, para sugerir pedido de votos. "O PT precisa governar de novo", disse. Questionada, a equipe de Lula disse que a declaração foi genérica e que ele ainda não decidiu sobre candidatura.

Sérgio Moro (Podemos) tem percorrido o País, testando cacoetes eleitorais. Em rede social, reproduziu música com características de material de campanha. Ele compartilhou um artista cantando: "o nosso Brasil pede socorro e o povo pede Sérgio Moro". A equipe do ex-juiz não se manifestou até a conclusão desta edição.

Para o especialista em Direito Constitucional e Eleitoral Antônio Carlos de Freitas Júnior, o problema é que campanha antecipada tem multa como pena. "Muitas campanhas acabam assumindo o risco. A penalidade é branda."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em ano eleitoral, pouco a pouco as ruas começam a ser tomadas por vários rostos, cores e músicas em busca do apoio dos eleitores. As campanhas tomam conta das vias públicas, assim como as pessoas que passam a trabalhar para publicitar os candidatos.

Entre rostos e nomes de candidatos que tentam ser eleitos, há outros menos conhecidos, que não estão estampados em santinhos e adesivos ou têm jingles em carros de som, mas são peças-chave nesse contexto: as pessoas que trabalham na rua, efetivamente fazendo a campanha acontecer. O LeiaJá acompanhou a rotina desses colaboradores, seja na condição de trabalhador temporário ou como militantes. Eles atuam de várias maneiras para ajudar na prospecção de votos nos semáforos e grandes vias do Recife. 

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Rodrigo* está desempregado e, através da indicação de um amigo que trabalha com um candidato a deputado, conseguiu uma vaga de emprego temporário, ganhando cerca de R$ 1.000 a R$ 1.200 para trabalhar durante 45 dias de campanha, que se encerrará no dia 6 de outubro, de acordo com o calendário da Justiça Eleitoral. 

A contratação, de acordo com Rodrigo, não teve nenhum contrato formalizado por escrito, mas ele afirma que se sentiu seguro porque tudo foi debatido e explicado tanto pela equipe da campanha quanto pelo candidato para quem ele está trabalhando. 

Ele conta que o seu dia a dia de trabalho “é bem simples, entregando panfleto, adesivo, falando um pouco sobre o deputado para quem tem dúvidas”, durante dois turnos, totalizando seis horas por dia, de segunda a sexta-feira. 

Questionado sobre como é, para ele, estar na rua, lidando com as pessoas, com o calor, com o trânsito no semáforo e tendo que passar muito tempo  em pé, Rodrigo diz que, para ele, essas particularidades do trabalho na rua são tranquilas e não causam problemas por já ser acostumado, devido a trabalhos que já desempenhou na rua. 

Ao ser perguntado se o trabalho tem sido válido, Rodrigo responde que sim, pois o ajuda a pagar suas dívidas causadas pelo desemprego. “Se tiver segundo turno, eu estou disposto a trabalhar de novo”, complementa.

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Eleitor se conquista

André* atua fiscalizando o trabalho de Rodrigo e de outros entregadores de panfletos e adesivos na Praça do Derby, junto à Avenida Agamenon Magalhães, Centro do Recife, além de cuidar da escolha das pessoas que serão recrutadas para a campanha. Ele explica que ao receber os currículos, liga para a pessoa para obter mais informações sobre o perfil dos candidatos e entender quem pode se adequar melhor ao trabalho. 

“Quando ligo para a pessoa, eu pergunto e dou preferência a quem já trabalhou na rua ou com campanhas, que já sabe como é o dia a dia, sabe que aguenta. O primeiro dia de trabalho é um teste para ver se a pessoa é simpática e carismática ou só fica mostrando o panfleto ou adesivo calada, porque assim não arrecada voto. Tem que ter essa postura de conquistar o eleitor”, conta o fiscal. 

André afirma também que, durante as 12 horas por dia em que ele fica na rua fiscalizando o trabalho dos profissionais contratados para a campanha, também observa a conduta de cada colaborador para se certificar de que a pessoa de fato distribuirá todo o material para os possíveis eleitores. 

“Terceirização” para campanhas

Com uma realidade de contratação um pouco diferente, Maria Aparecida Freire tem 21 anos e trabalha como promotora de eventos, ligada a uma agência que, diante do surgimento de uma nova demanda por mão de obra, avalia quem entre seus profissionais está livre para o novo serviço. Assim, a jovem começou a fazer campanha para um candidato a deputado, com um contrato formal que prevê uma jornada de dez horas de por dia durante quase um mês. 

Enquanto esperava o ônibus que a levaria da frente de um comitê até a rua onde exerceria sua função, Maria estava usando boné, adesivos e também um “pirulito” nas costas. Ela explica que o trabalho é cansativo e tem desafios a encarar como o calor do Recife em dias ensolarados.

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Para muitas das pessoas que estão pelas ruas do Recife prospectando votos para candidatos com programas de governo ou atuação parlamentar dos mais diversos tipos, a maior motivação é a necessidade de burlar o desemprego ou de aumentar a renda familiar que não vem sendo suficiente. 

No entanto, apesar do descrédito que a política tem mostrado no Brasil ao longo dos últimos anos, ainda há pessoas que buscam participar da política e das campanhas de forma ativa, de dentro, por acreditar em um político e no projeto de sociedade que ele promete defender. É o caso do professor de história e filosofia Leandro Recife, que tem 40 anos de idade e já trabalhou em “umas oito ou nove eleições”, segundo ele, dividindo seu tempo entre o emprego que o sustenta, as horas de descanso e os momentos livres que pode dedicar ao trabalho de campanha na rua. 

Neste ano, ele está fazendo campanha para um candidato a deputado estadual e uma candidata a governadora que são do mesmo partido. O motivo, de acordo com o militante, é a convicção que ele tem nos modelos de sociedade defendidos pelos candidatos. 

Perguntado sobre como é lidar com questões como cansaço, horas em pé e calor, ele explica que, por não ter uma obrigação formal de estar na rua, uma vez que não está sendo pago, o horário é flexível e definido por ele junto a outros militantes. 

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